
Essas são, em linhas gerais, as conclusões de um importante relatório sobre os nexos entre migrações e saúde pública, que um grupo liderado por 20 pesquisadores de 13 países lança oficialmente neste sábado, 8 de dezembro, na Conferência Intergovernamental da ONU para adotar o “Pacto Global para uma migração segura, ordenada e regular”, em Marraquexe (Marrocos). Liderada pelo University College de Londres e pelo prestigioso periódico científico da área de saúde “The Lancet”, a Comissão UCL-Lancet conta com a participação de um único pesquisador brasileiro, o professor aposentado da UFBA Maurício Barreto, coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia).
Barreto irá conduzir, no dia 17 de dezembro (segunda-feira), às 17h, na Reitoria da UFBA, o evento de lançamento do relatório no Brasil, que terá a participação do reitor João Carlos Salles, do presidente da Academia de Ciências da Bahia (ACB), Jailson Andrade, da assessora de comunicação e divulgação científica da UFBA, Mariluce Moura, e das pesquisadoras do Cidacs Júlia Pescarini e Dandara Ramos.
O relatório aponta que 1 bilhão de pessoas migraram, em todo o mundo, somente no ano de 2018. Ao contrário do que afirmam os populismos contemporâneos ancorados em preconceitos de todo tipo, em especial na xenofobia e no racismo, os pesquisadores mostram que os migrantes ajudam a economia a florescer, e a renda, a se distribuir. A cada aumento de 1% em migrantes na população adulta, aumenta o produto interno bruto por pessoa em até 2%, e estima-se que US$ 613 bilhões foram enviados por migrantes para suas famílias de origem em 2017, sendo que 75% destas remessas foram para países de baixa e média renda.
Segundo o relatório, a maior parte da população migrante tende a ser composta por trabalhadores e estudantes que contribuem para a economia pagando impostos ou custeando seus próprios estudos. Apenas uma pequena parte do total de migrantes é composta por refugiados.
No caso específico dos refugiados, o relatório faz cair por terra a crença preconceituosa de que eles representam, necessariamente, uma ameaça sanitária ao país de acolhimento. O estudo utilizou estimativas de mortalidade em mais de 15,2 milhões migrantes de 92 países e constatou que os migrantes internacionais apresentaram menores taxas de morte por doenças cardiovasculares, digestivas, endócrinas, neoplasias, nervosas e respiratórias, mentais e distúrbios comportamentais e lesões do que a população geral do país de acolhimento. As únicas duas exceções foram para infecções como hepatite viral, tuberculose e HIV, e também causas externas, como agressão, onde as taxas de mortalidade aumentam entre os migrantes – em parte, fruto de más condições da jornada migratória, e, posteriormente, das más condições de acolhimento. Ademais, observou-se que a tendência é de que o risco de transmissão de infecções tende a ser elevado apenas no interior da própria comunidade migrante, não atingindo, de maneira substancial, a população já estabelecida.
A migração passa a se tornar um problema, segundo o estudo, na medida em que Estados nacionais adotam como política oficial o fechamento de fronteiras e o acesso a serviços universais, como saúde, educação e assistência jurídica às populações migrantes. Segundo o relatório, muitas vezes, é o medo da deportação o que leva migrantes a não buscar cuidados de saúde ou assistência quando necessário, dificultando a saúde individual e pública. Os autores avaliam que, na prática, os regimes de aplicação da saúde podem pressionar os trabalhadores da saúde a atuar como agentes de controle da imigração.
Propositivo, o estudo exorta a Organização das Nações Unidas (ONU) e os governos nacionais a nomear oficialmente observadores de questões relacionadas a migração e saúde, defende o acesso universal e equitativo aos serviços de saúde às populações migrantes, e afirma a necessidade de adotar política de tolerância zero ao racismo e outros preconceitos.
Crédito da Imagem: Revista Ponto de Vista
Acesso o relatório aqui.
Para agendar entrevista com o pesquisador Mauricio Barreto, do Cidacs/Fiocruz Bahia, contatar Raíza Tourinho – raiza.lima@fiocruz.br