Trajetória de executivos negros é contada sob um olhar sócio-antropológico no novo livro de Pedro Jaime de Coelho Júnior

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A presença de negros no mundo empresarial aumentou substancialmente desde o final do século XX. Em seu novo livro “Executivos negros: racismo e diversidade no mundo empresarial”, fruto da tese de doutorado, o professor Pedro Jaime de Coelho Júnior, da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM), propõe um “olhar sócio-antropológico” sobre as trajetórias de negros e negras que assumiram cargos de direção e de gestão em grandes empresas do setor privado. Em palestra realizada na última quarta-feira, 19, na Escola de Administração da UFBA, o professor apresentou seu livro para uma plateia de graduandos, mestrandos e professores.

Formado em Administração pela UFBA, Pedro Jaime percebeu seu desejo de seguir a carreira acadêmica na universidade e seguiu para Campinas, onde fez um mestrado em antropologia social na Unicamp. Mas foi no doutorado, feito em parte na USP e em parte na Universidade de Lyon II, França, que passou a trabalhar com o tema dos executivos negros, a partir de uma visão interdisciplinar entre antropologia, sociologia, ciências políticas e administração.

O livro aborda o racismo e a diversidade no mundo empresarial a partir da trajetória de executivos negros, pessoas que construíram trajetórias profissionais em grandes empresas privadas de São Paulo. “Eu formulei a tese a partir de três problemas de investigação: que mudanças aconteceram na construção das trajetórias profissionais de executivos negros em São Paulo entre o final dos anos 1970 e o início do século XXI?; de que forma essas mudanças se relacionam com as transformações em relação à questão racial que aconteceram na sociedade? Essas transformações favorecem ou inibem o processo de construção de um sujeito dotado de identidade?”, expôs Pedro Jaime.

Por meio de uma pesquisa de campo, o professor comparou duas gerações de executivos negros, uma dos anos 1970 e outra do início do século XXI, que Pedro chamou de “executivos em potencial”, pois iniciaram suas carreiras há pouco tempo. Essas duas gerações eram avaliadas sob três óticas distintas: uma micro, através da trajetória individual de cada executivo, uma macro, do contexto sócio-político vigente e uma meso, das relações empresariais brasileiras. Todos esses aspectos foram analisados a partir de entrevistas com executivos negros e observações em campo em empresas privadas paulistas, explicou o professor.

Pedro Jaime também abordou os diálogos teóricos que realizou na tese. “Dialoguei muito com a sociologia das organizações clássica, que trabalha com a questão dos atores nas organizações e com as relações de poder e com a filosofia política, através dos debates e repercussões da desigualdade racial no mundo empresarial, que envolve globalização. Foi fundamental também trabalhar o conceito de raça, racismo e racialização, além de um quadro teórico e histórico sobre o movimento negro.”

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Foto: Blog da FEI

O resultado da pesquisa apontou que a primeira geração, que iniciou a carreira em 1970, é fruto de um esforço individual realizado em um contexto muito árido. A segunda geração já entrou no mundo empresarial em um contexto melhor, devido às lutas e conquistas do movimento negro.

Após reclamações dos movimentos, que afirmavam a falta de pessoas negras no mundo empresarial, grandes bancos passaram a criar programas voltados exclusivamente para negros. A aceitação dessa pauta social e política foi traduzida em uma linguagem empresarial através da gestão da diversidade, uma forma de coordenar empresas sempre empregando e dando voz à minorias. “Alguns pesquisadores enxergam essa resposta como uma busca de vantagem das empresas ou uma forma de mascarar a realidade. Penso que os incentivos foram um mecanismo utilizados pela empresa para minimizar as discussões devido à falta de diversidade.”

O pesquisador pensa em continuar a trabalhar com a pauta. “Irei entrevistar novamente os executivos da segunda geração, para saber o que mudou, os avanços e os retrocessos. Em uma outra linha, haverá um comparativo entre Brasil, França e Estados Unidos sobre a questão racial. São três países que pensam essa questão de forma diferente. Os Estados Unidos é a evidência da raça. tratam com naturalidade, a França é a negação da raça e o Brasil seria a ambiguidade da raça”, contou. “É uma temática que quero continuar investigando.”

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