Com produção científica premiada, núcleo de pesquisa da UFBA em incubação de ovos é referência no Brasil

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Pintinho após o nascimento. Imagem do livro de Vanessa Michalsky (2011)

Em apenas dois anos de existência, um núcleo de estudos da UFBA sobre desenvolvimento de embriões e pintos já acumula vários prêmios em produções acadêmicas de pós-graduação. Voltado a estimular a eficiência do sistema produtivo da avicultura, o Núcleo Brasileiro de Pesquisas em Incubação Artificial de Ovos (Nupia) da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ) é pioneiro na América Latina e vem se tornando uma das principais referências brasileiras em pesquisa sobre avicultura – ramo em que o Brasil é, hoje, uma das maiores potências produtoras do mundo, com mais de 13 milhões de toneladas de frango e quase 40 bilhões de ovos produzidos por ano, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

“O período entre a postura [dos ovos] e a formação do pinto é a chave da inovação tecnológica da avicultura nos próximos anos”, afirma a professora Vanessa Michalsky, coordenadora do Nupia, localizado no primeiro andar da EMVZ. De olho na indústria de avicultura, na pesquisa científica e no público consumidor, o núcleo traz entre suas principais bases de trabalho a produção de conhecimento visando ao aumento da produtividade das aves. “O objetivo é que o animal alcance o máximo de seu potencial genético, e em condições de sanidade e bem-estar”, diz Michalsky.

O Nupia busca atuar na interseção entre teoria, pesquisa e prática: “Quando o produtor está com problemas ele recorre à universidade”, diz Michalsky. O avanço da pesquisa em zootecnia – área responsável pela produção, criação, manejo, melhorias na infraestrutura, ambiência, sanidade, nutrição, genética e melhoramento animal – foi o grande propulsor da produtividade na avicultura de corte e postura, o que possibilitou o protagonismo brasileiro na área.

A professora Vanessa Michalsky é autora do livro Fisiologia da Incubação e Desenvolvimento Embrionário, fruto de sua tese de doutorado e ganhador do prêmio Lamas de Pesquisa Avícola da Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta), em 2005. Ela ganharia o prêmio Lamas outras nove vezes, como pesquisadora e orientadora. A lista de reconhecimento é maior: Vanessa Michalsky já recebeu outras 20 distinções acadêmicas, dentre eles o Prêmio Ismar Leal Barreto, da Sociedade Brasileira de Zootecnia.

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Administração de substâncias no ovo

Paulista, a médica veterinária fez graduação, mestrado e doutorado em zootecnia e pós-doutorado em ciência animal (INCT-Pecuária) na Universidade de Federal de Minas Gerais. Tem também pós-doutorado em fisiologia da incubação, pela Wageningen University, da Holanda. A partir dessa experiência ela vislumbrou, na UFBA, a formação do Nupia, hoje “referência de excelência no contexto mundial da produção de pintos de um dia”, diz Michalsky.

Uma das linhas de pesquisa do núcleo estuda a manipulação térmica durante o período de desenvolvimento do embrião, por meio da indução epigenética, que possibilita mudanças no comportamento de um gene, reproduzido por divisões celulares, mas sem alterar a sequência de DNA. O estudo surgiu em razão da alta temperatura do ambiente ser um fator de estresse à produção de frangos, sobretudo em regiões de clima tropical, ocasionando a redução do ganho de peso e da qualidade da carne dos frangos de corte.

Na premiação Lamas, da Facta, deste ano, três pesquisadoras do Nupia conquistaram quatro prêmios. “Efeitos da alta temperatura de incubação sobre peso de órgãos vitais e a qualidade de pintos eclodidos” e “Parâmetros hemogasométricos de pintos incubados em alta temperatura” foram os trabalhos vencedores de Tayana Nery Franca. O primeiro trabalho foi o ganhador da categoria produção, e o segundo, na categoria ‘outras áreas’ (pôster).

Tais Pinheiro Borges da Silva foi premiada na categoria produção, pelo pôster “Efeitos da manipulação térmica pré-natal sobre os parâmetros zootécnicos de pintos recém-eclodidos”. E Larissa Kiana Santos de Azevedo Martins “Efeitos da vacina e probióticos in ovo sobre órgãos de pintos de corte” foi a grande vencedora na categoria ‘outras áreas’.

Os trabalhos vencedores foram fruto de dissertações das estudantes no Nupia que já atuam em atividades de ensino e deram início ao doutorado. Atualmente, são cinco doutorandas e três pesquisadores de iniciação científica, além de pós-doutorandos e pesquisadores voluntários.

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A coordenadora do Nupia, Vanessa Michalsky

Mito do hormônio

O Nupia atua também na conscientização da população em relação ao consumo, problematizando mitos que envolvem a ingestão de ovos e frangos, trabalho defendido recentemente pela mestranda Nayana Borges das Mercês. Um dos maiores mitos é que frangos criados em granja usam hormônios para crescimento, informação divulgada inclusive por profissionais de saúde e celebridades.

Vanessa Michalsky explica que o hormônio, além de proibido pela instrução normativa nº 17 de 2004 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, é inviável. O hormônio teria que ser aplicado de forma injetável e diariamente, por dias. “Um galpão de frango de corte, por exemplo, tem, em média, 30 mil aves. Como seria a aplicação diária de 30 mil injeções?”, questiona. Além disso, ela explica que o custo do hormônio é alto, e, para fazer efeito desejado, seria necessário um período que supera a idade de abate da ave.

O Nupia atua por meio das instituições de fomento à pesquisa e cooperação nacionais e internacionais. Já acompanhou criações em granjas de Salvador, Minas Gerais, Aracaju e São Paulo. Essas granjas e fazendas recebem os pintos gerados após a incubação no Nupia para avaliação durante a criação.

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