Boa parte da programação do Congresso da UFBA 2019 será dedicada às questões de raça, gênero e classe. Propostas por docentes, técnico-administrativos e estudantes, diversas mesas temáticas terão foco em políticas afirmativas, luta antirracista, direitos humanos, masculinidade, feminismo negro e combate à violência doméstica, entre outros.
Na quarta-feira, dia 30 de outubro, a iniquidade no acesso a serviços de saúde provocada por preconceitos de gênero, raça e classe será tema de uma mesa redonda às 9h, no auditório do Instituto de Saúde Coletiva. Na saúde coletiva, tem se discutido como o atravessamento das opressões racistas, sexistas e outras correlatas podem interagir conjuntamente, acentuando as desigualdades no processo saúde-doença, assim como no acesso, na utilização e nos cuidados em saúde. Serão apresentados estudos que têm como ponto central a teoria interseccional e detectam cenários de desigualdade, em especial para mulheres negras, evidenciando marcadores sociais que interagem na reafirmação de opressões. A atividade é proposta pelo enfermeiro Leonildo Silva, que atua na Maternidade Climério de Oliveira e é pesquisador do Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação Técnica em Gênero e Saúde (Musa).
O tratamento jurídico do negro no direito brasileiro mobilizará os debates na mesa realizada no mesmo dia 30, às 10h15, na sala de videoconferência do PAF III, no campus de Ondina. O encontro se propõe a analisar a evolução histórico-jurídica da legislação voltada ao direito do negro desde o período colonial, quando havia supressão total dos direitos fundamentais em favorecimento à escravidão, até a Primeira República. Serão considerados dados jurídicos e sociais que inviabilizam a inserção do negro como cidadão em sua plenitude na sociedade pós-abolição (1888). Além disso, a proposta vai contemplar questões como a teoria do branqueamento e o mito da democracia racial, utilizando-se de referências descoloniais e interseccionais para tratar da questão racial com a urgência necessária, a exemplo de Achille Mbembé e João José Reis. A mesa é uma proposta do professor de direito João Trabuco de Oliveira. Outra mesa de debates sobre “O direito negro e a seletividades dos corpos encarcerados”, proposta também por João Oliveira, será realizada no dia 30/10, às 14 horas, no auditório da Faculdade de Direito. O racismo estrutural, a segregação social e o encarceramento em massa da população negra farão parte das reflexões. Também haverá espaço para discutir a Lei de Drogas que tem como alvo a população negra e pobre do país.
O professor João Reis, inclusive, será um dos participantes do Colóquio Escravidão e Resistência, que tem atividades programadas para os três dias de Congresso. A conferência de abertura, com o título “Alforrias por substituição, um tema negligenciado pela histografia da escravidão”, será realizada na terça-feira, 29/10, às 10 horas, no auditório do Instituto de Biologia. Entre os temas contemplados pelo colóquio estão abolição e cidadania nas Américas, formas de resistência e lutas por direitos.
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“A liberdade é uma luta constante, sob o olhar de Ângela Davis” é o título da mesa proposta pelo Coletivo de Mulheres do Laboratório de Estudos e Pesquisas Marxistas (Lemarx) – Grupo de Estudos Angela Davis para compartilhar a obra da ativista e militante antirracista, antissexista e anticapitalista norte-americana Angela Davis, reunindo entrevistas e discursos realizados por ela em vários países, entre 2013 e 2015. A autora demonstra a necessidade da organização e luta coletiva dos explorados e oprimidos. A mesa acontece também no dia 30/10, às 16h45 horas, na sala 103 do PAF I, no campus de ondina, e tem como proponente a professora Sandra Marinho Siqueira, da Faculdade de Educação.
No dia 31 de outubro, a situação atual e perspectivas futuras das ações afirmativas e docência nas Instituições de Ensino Superior fomentarão o debate em mesa redonda que acontece a partir das 9h, na sala de videoconferência do Instituto de Geociências. Com a participação de pesquisadoras de universidades públicas que fazem parte do Programa A Cor da Bahia da UFBA, a atividade busca trazer para a discussão as políticas afirmativas e mobilizações dos movimentos sociais que geraram uma mudança significativa no perfil dos ingressantes nas universidades públicas brasileiras, aumento da presença de docentes negros, reestruturação curricular e inserção de novos debates e disciplinas, cotas na pós-graduação permanência no Ensino Superior, etc. A mesa de debate é uma iniciativa da pesquisadora Claudia Monteiro Fernandes, do Núcleo Salvador do Observatório das Metrópoles (INCT) e do Programa A Cor da Bahia.
Questões de Gênero
As questões de gênero estarão presentes em diversas atividades do Congresso 2019. No dia 30/10, às 9h, no auditório 2 da Faculdade de Arquitetura, as mulheres contra-atacam com o ativismo feminista frente à ameaça fascista. Esse será o tema da mesa que reunirá pesquisas sobre as diferentes formas contemporâneas de organização das mulheres brasileiras, desenvolvidas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da UFBA. O grupo reunirá olhares sobre a Marcha das Mulheres Negras, a Marcha das Vadias e a experiência ativista da Feminária Musical para pensar maneiras de enfrentamento e de resistência ao processo de fascistização social vivenciado no país. Essa mesa de debates tem como proponente Maíra Kubík Mano, pesquisadora do Neim e professora da área de Teorias Feministas, do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
“Empreendedorismo e empoderamento feminino: enfrentamento à violência contra a mulher e inclusão social” é o assunto a ser tratado na mesa também no dia 30/10, às 14h, no espaço Mastaba, na Escola de Arquitetura. É uma atividade proposta por Lunara Silva, pesquisadora bolsista do Instituto de Ciências da Saúde da UFBA (ICS). O projeto apresentado tem como objetivo promover ações de enfrentamento à violência contra a mulher através do empoderamento feminino pelo empreendedorismo, inclusive o social, enquanto potencializador a geração de renda e emprego. A proposta da atividade destaca o cuidado com mulheres que sofreram violências perpassa por diversos âmbitos: saúde, bem-estar, moradia, alimentação, independência financeira, apoio psicossocial, entre outros. Dentro do projeto, foram planejadas e realizadas oficinas práticas de informática básica e intermediária para formação de empreendedoras sociais, inglês básico e intermediário, elaboração de projetos, regularização de microempreendimentos em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado da Bahia (Secti) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Na quinta-feira, às 10h15, uma mesa problematiza a violência de gênero nas relações conjugais, visando contribuir com prática do cuidado e enfrentamento da violência contra as mulheres que vivenciam essa situação praticada pelo/a parceiro/a íntimo/a. O evento contará com a participação de estudiosas/os, militantes e comunidade externa sobre a temática, favorecendo o compartilhamento de informações baseadas em dados de pesquisas científicas e valorizando os diversos saberes. Segundo dados do Atlas da Violência 2019, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), tendo como referência o ano de 2017, foram assassinadas no Brasil 4.936 mulheres naquele ano, uma média de 13 vítimas por dia, maior número registrado na última década. A atividade, que também é proposta pela pesquisadora do ICS Lunara Silva, acontece no auditório II da Escola de Enfermagem.
Merece também destaque uma mesa sobre “Masculinidade em questão: corpo, sexualidade e cultura”, no dia 31, às 14h, no auditório da Escola de Administração, que discute a construção social da masculinidade na contemporaneidade. Serão apresentadas três pesquisas antropológicas, sobre modos de exercício da masculinidade. Amparadas na discussão sobre a masculinidade como conceito central, as pesquisas retratam diferentes contextos de interação entre homens: a primeira aborda praticantes de musculação em espaços públicos da cidade; a segunda enfoca a venda de serviços sexuais por homens, para outros homens, em saunas da cidade. E a terceira aborda a relação entre homossexualidade masculina, HIV e drogas. Estes trabalhos de pesquisa na área das ciências sociais tangenciam outras categorias de análise, tais como cidade, corpo, sexualidade, saúde, subjetividade, trabalho e trajetórias de vida. As apresentações serão mediadas pelo professor associado do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos (IHAC), Milton de Carvalho Filho, proponente da mesa, que abordará a relação entre juventudes e masculinidades nas cidades contemporâneas.