Else Hirschberg, uma cientista pioneira assassinada em Auschwitz

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*Gisela Boeck e Tim Peppel, artigo publicado originalmente em Traditio et Innovatio, revista da Universidade de Rostock (17-17/01/2017)

**Tradução de Denise Scheyerl, professora titular do Departamento de Letras Germânicas da UFBA , para o Edgardigital. Gisele Boeck estava se preparando para dar um curso de história da ciência na UFBA, em janeiro, quando o artigo foi publicado na Alemanha.

 

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“Aqui jaz Else Hirschberg: nascida em 1892, deportada em 1942 e assassinada em Auschwitz”: inscrição na pedra-obstáculo em Hamburgo lembra, desde 2016, o destino de Else Hirschberg

Apesar das mulheres poderem se matricular, desde 1909, na Universidade de Rostock, algumas delas já tinham obtido antes o status de alunas ouvintes e, assim, aconteceu com Else Hirschberg. Por meio das listas relativas aos Exames da Associação,  publicadas nos relatórios da Associação dos Diretores de Laboratórios Universitários Alemães, está comprovado o fato de que Else Hirschberg cursou química e que passou no Exame da Associação. No início do século XX, esta prova representava a conclusão do curso de química, assim como o pré-requisito para o ingresso no doutorado. Dessa forma, ela foi a primeira concluinte de Química da Universidade de Rostock.

Else Hirschberg nasceu em 11 de fevereiro de 1892 em Berlim, mas viveu com sua mãe e suas irmãs, desde 1908, na Rua Schiller nº 29, em Rostock. Frequentou uma escola particular para meninas. O porquê da escolha justo pelo curso de química permanece desconhecido. A química oferecia naquele tempo boas chances de crescimento. Seus tios eram proprietários da fábrica “Gebrüder Kroner” (‘Irmãos Kroner’) e, talvez, isso tenha influenciado a sua decisão.

Após ter sido examinada por August Michaelis (1847-1916)1, ela finalizou um trabalho de porte sobre o grupo das pirazolonas, substâncias que compõem um interessante agente fármaco sobre o qual queria se doutorar, mas que não lhe fora autorizado por não ter prestado o vestibular. A dedicação a temas que conectavam a química e a medicina é evidenciada também na sua publicação de 1913 sobre a regulamentação de pequenas quantidades de glicose na urina.

A partir de 1917, Else Hirschberg se estabeleceu como auxiliar científica, atuando também como assistente técnica no Instituto de Psicologia da Universidade de Rostock. Ela assumia uma quantidade impressionante de trabalho e, em 1927, foi aprovada numa seleção equivalente ao vestibular, o que lhe possibilitou ingressar tanto no doutorado da Faculdade de Filosofia quanto no curso de Medicina. Até 1932, publicou no mínimo 22 trabalhos científicos.

Em 1933, Else Hirschberg teve que abandonar a universidade por causa de sua ascendência judia. Não se sabe como ela, a mãe e a irmã mais jovem se mantinham. As outras duas irmãs trabalhavam em instituições sociais judias em Berlim e em Leipzig. Após a morte da mãe, elas se mudaram para Hamburgo. Em 1º de abril de 1937, Else assumiu o posto de chefe de laboratório no Hospital Israelita de Hamburgo e começa desde então a lutar por uma possibilidade de saída do país. Para tanto, se utilizou de seus contatos científicos nos Estados Unidos da América do Norte. Contudo, as irmãs não conseguiram deixar a Alemanha. Foram deportadas para Auschwitz em 11 de julho de 1942.

Desde 2016, uma pedra-obstáculo em Hamburgo lembra o destino de Else Hirschberg. Além disso, está planejada a colocação de pedras-memoriais na extensão da Rua Schiller para o próximo verão de 2017.

 

1 NT: August Karl Arnold Michaelis (1847-1916) foi um químico alemão. Descobriu a reação de Michaelis–Arbuzov. Michaelis estudou na Universidade de Göttingen e na Universidade de Jena, e foi professor de Química na Universidade de Rostock.

2 NT: A pedra-obstáculo (al. Stolperstein) é uma criação do artista plástico alemão Günter Demnig, com o objetivo de criar monumentos memoriais que relembrem as vítimas do nazismo mortas durante as deportações nos campos de concentração.

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