
Conhecida como “Cidade de Pedras”, Igatu conserva um importante conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico, tombado pelo Iphan em 2000
Estudantes de arquitetura da UFBA tiveram a oportunidade de aprender e compartilhar experiências com mestres na arte da construção em pedra, durante a realização da Oficina de Construção em Alvenaria de Pedra, realizada entre os dias 3 e 13 de fevereiro, na Vila de Igatu, que reúne um casario histórico do século XIX, símbolo do ciclo do diamante na região da Chapada Diamantina. Conhecida como “Cidade de Pedras”, Igatu conserva um importante conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico, que foi tombado como parte do patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2000.
Na oficina, foram construídos muros em alvenaria de pedras, com demonstrações de técnicas e a finalização da estrutura pelos próprios estudantes. O trabalho contou com a assessoria técnica de professores da UFBA, mestres construtores e dois ajudantes moradores da vila, além da participação de outros membros da comunidade. Foram construídos muros para o fechamento de dois lotes de famílias que não tinham condições financeiras de erguer as construções.
No encontro inicial, os participantes tiveram ainda a oportunidade de fazer uma visita guiada pelo distrito, conhecendo locais como a Pedreira da Piaba e o vilarejo que reúne construções históricas feitas a partir de diferentes técnicas construtivas que puderam ser observadas.

Na oficina, foram construídos muros em alvenaria de pedras, com demonstrações de técnicas e a finalização da estrutura pelos próprios estudantes
A iniciativa tem como objetivo valorizar o patrimônio cultural local e fortalecer a comunidade com a troca de conhecimentos e apoio técnico para a conservação das edificações, e faz parte do projeto Canteiro Modelo de Conservação – Ações de Salvaguarda e Conservação do Patrimônio Cultural de Igatu, projeto executado pela Faculdade de Arquitetura da UFBA (Faufba) e que faz parte de um acordo de cooperação técnica firmado entre o Iphan e o Ministério Público da Bahia, com o apoio da Prefeitura de Andaraí (BA), município onde está situada a Vila de Igatu.
A UFBA foi convidada pelo Iphan para contribuir com o acordo através da execução do projeto do Canteiro Modelo. Os professores Daniel Marostegan e Akemi Tahara, da Faculdade de Arquitetura, coordenam a participação da Universidade nesta ação. “A iniciativa valoriza o saber construtivo local e tem sido muito bem recebida pela comunidade”, afirma Daniel.
Ele conta que a oficina teve a participação de 10 estudantes selecionados através de uma chamada pública da Faufba. O projeto em andamento na Vila de Igatu teve início maio de 2019 e segue até o mês de junho deste ano. Essa foi a primeira das cinco oficinas programadas para acontecer em 2020. As próximas, que ainda terão suas datas definidas, abordarão os seguintes temas: carpintaria, módulo sanitário, instalações elétricas e estabilização de ruínas.
“A exploração do garimpo, do diamante, do carbonato, tinha como subproduto as pedras, que serviram para as construções por estarem muito disponíveis na região”, conta ele, lembrando que a Vila, hoje com cerca de 400 habitantes, chegou a ter 9 mil moradores no auge do ciclo diamantino.
De acordo com o professor, certas técnicas e conhecimentos tradicionais relacionados à construção com pedras têm sido pouco valorizadas, muito em razão das novas tendências e materiais disponíveis atualmente. Além disso, o patrimônio tombado tem sido bastante impactado pelo turismo crescente na região.
Identificar e valorizar os mestres construtores locais que dominam as técnicas de alvenaria de pedra é um dos objetivos do projeto. “Dificilmente encontramos trabalhadores nos centros urbanos que dominam essa técnica, que vem se perdendo aos poucos”, lamenta Daniel, que ressalta esse tipo específico de saber construtivo como um patrimônio imaterial que também precisa ser preservado, sobretudo para que seja possível assegurar a conservação dos imóveis já construídos.

O conhecimento dessas técnicas (de alvenaria de pedra) é fundamental para manter o bem construído, o patrimônio cultural e a memória, avalia o professor Daniel Marostegan
O conhecimento dessas técnicas é fundamental para manter o bem construído, o patrimônio cultural e a memória, avalia o professor. No seu entendimento, o trabalho é também uma forma de incentivar a economia local. “Além disso, contribui para valorizar a ocupação daquelas pessoas no território e seus conhecimentos tradicionais”, acrescenta.
Todo o trabalho realizado segue as diretrizes do Canteiro Modelo de Conservação, que prioriza a troca e a difusão de experiências durante as intervenções arquitetônicas. Além das oficinas, são desenvolvidas ações em outras duas frentes: o escritório experimental – com visitas a residências para identificar demandas de melhorias habitacionais; e o laboratório experimental – que promove pesquisas sobre a realidade na Chapada Diamantina, região rochosa e com muitos declives, buscando pensar soluções como o saneamento descentralizado, através de fossas sépticas e bacias de evapotranspiração, por exemplo.
De acordo com o professor, o grupo que representa a UFBA está desenvolvendo atualmente projetos para 30 habitações de moradores da vila. Ele cita a Lei Federal nº. 11.888, de 2008, que assegura às famílias de baixa renda o direito de assistência técnica e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social.
O projeto em Igatu foi uma resposta às denúncias de impactos ao patrimônio tombado na região, sinalizadas pelo Ministério Público Estadual junto ao Iphan. A preocupação com a preservação desse importante patrimônio cultural brasileiro motivou a discussão de um Plano de Conservação de Igatu, que pretende estabelecer diretrizes para intervenções no sítio e o regramento da ocupação do solo. No momento, estão sendo analisadas as informações coletadas nos levantamentos geológico, biológico, antropológico, histórico, hidrográfico e topográfico para embasar a elaboração de legislação sobre o tema no município de Andaraí.