Com a suspensão das atividades presenciais não essenciais ao combate à pandemia e a possibilidade do trabalho remoto, intérpretes de Libras, a língua brasileira de sinais, lotados no Núcleo de Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Especiais da Pró-reitoria de Ações Afirmativas (Nape/Proae), iniciaram um trabalho de busca de informações sobre o coronavírus, principalmente vídeos, para interpretar esses materiais para Libras e disponibilizar para os surdos e deficientes auditivos.

Máscara com área transparente permite visualização dos movimentos labiais
Nesse processo de trabalho remoto, o psicólogo e intérprete Álon Mauricio, junto com a mãe, Maria Neide, replicaram a ideia da máscara própria para deficientes auditivos, que possibilita maior acessibilidade. A máscara adaptada funciona com uma transparência na parte frontal, feita de plástico cristal, permitindo que a boca e parte do rosto fiquem visíveis para que, quando o falante articule as palavras, o deficiente auditivo também consiga enxergar os movimentos labiais e expressões faciais, tornando a comunicação mais fluída.
“Minha mãe fez um modelo para mim, que serviu de referência para outras costureiras confeccionarem, como o grupo de economia solidária em Lauro de Freitas, com mulheres costureiras que estão vendendo as máscaras”, conta o interprete.
Para Maurício, compreender o sentido de ser servidor público é ter consciência também da sua responsabilidade social enquanto indivíduo, profissional e ser humano. E acrescenta: “O vírus não escolhe raça, classe e gênero, mas, com certeza, atinge com mais força os grupos que são vulneráveis, pois o sistema não olha para eles, e as pessoas surdas estão nesse grupo. Perceber as dificuldades que pessoas surdas possuem de acesso às informações, que podem salvar vidas, e cruzar os braços diante disso é ser cúmplice do desastre anunciado”.
Na UFBA, os Intérpretes de Libras lotados no Nape/Proae são responsáveis pela tradução/interpretação das aulas dos docentes e discentes surdos da instituição, bem como pela acessibilidade comunicacional para surdos em eventos, pesquisas e projetos de extensão. O Nape conta com 9 Intérpretes concursados. No cotidiano de trabalho, o primeiro passo é fazer uma busca ativa de vídeos, de matérias relevantes e atender às solicitações de unidades da UFBA. Em seguida, verificam-se as fontes, suas referências e a veracidade das informações. E, por fim, depois de estudar o vídeo, faz-se a tradução para a Libras e a gravação dessa interpretação através de sinais, disponibilizando o resultado para os meios digitais. O Nape possui um canal no YouTube, mas o resultado do trabalho também é compartilhado nas redes sociais que os surdos mais utilizam, como Instagram, Facebook e WhatsApp.
Veja a homenagem da comunidade surda ao reitor João Carlos Salles, batizado com um sinal em Libras:
No âmbito da UFBA, Maurício destaca ações como a do professor Carlos Zacarias, do Departamento de História, que grava pequenos vídeos sobre História e Política, que depois são traduzidos em Libras, e da professora Nanci Bento, do Instituto de Letras, que mantém no YouTube o canal “Mãos de Prosa”, além de parcerias externas junto ao Instituto Nacional de Educação de Surdos e a Universidade Federal da Rio de Janeiro.
“Sabemos que o que realizamos é o mínimo, declara o psicólogo, com recursos tecnológicos limitados, no espaço físico de casa e não no estúdio, numa rotina domiciliar que pode ser estressante, mas é um trabalho possível e fundamental para a comunidade surda para além dos muros da UFBA, que tem recebido esses materiais através de redes sociais e sites e compartilhado por aí. Faço parte de um grupo no Facebook chamado “Central Coronavírus Libras”, com mais de 8.000 membros e a receptividade dos vídeos em Libras é muito grande, garante, finalizando.” Confira abaixo alguns vídeos produzidos pelo Nape:
https://www.instagram.com/tv/B_M_kEAp1oh/?igshid=yauhx0fv1ztm
https://www.instagram.com/p/B_sJP4MpU8-/)
https://www.instagram.com/tv/B_fNx2Al3s1/?igshid=7wo5yvg3adbc),