Acesso a tecnologias e competências digitais: um panorama preliminar da UFBA

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O panorama preliminar da pesquisa sobre aprendizagem online em tempos de pandemia, com diagnóstico da situação atual de estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação da UFBA, foi apresentado em uma das mesas que contaram com a participação da Superintendente de Educação a Distância da UFBA, Márcia Rangel. Também foram disponibilizados dados do diagnóstico das competências digitais dos professores da UFBA.

Relembrando: em abril, a UFBA encaminhou convites a seus mais de 40 mil estudantes matriculados nos 105 cursos de graduação, bem como aos 7.914 estudantes de 142 cursos de pós-graduação strictu sensu, para que respondessem a questionários com itens relacionados às condições atuais de uso de tecnologias e aprendizagem remotas, condições de acesso reais à internet fora da universidade e perfil sociodemográfico. No mesmo momento, também foram enviados questionários de aferição de competências digitais aos 2.853 docentes da Universidade.

Entre os estudantes, amostra total foi de 12.537 respostas – 10.590 estudantes de graduação e 1.767 estudantes de pós-graduação. 

Quase um terço dos estudantes de graduação que responderam à pesquisa têm renda familiar de até 1,5 salário mínimo. Destes, 42% não dispõem de recursos para manutenção dos serviços de acesso à internet; 46% dizem não ter acesso a internet de qualidade para assegurar a participação de atividades remotas em tempos de isolamento social; e 39% não têm equipamentos de tecnologia da informação suficientes para participar de atividades remotas.

Na pós-graduação, 14% dos estudantes tem renda familiar de até 1,5 salário mínimo, dos quais 47% afirmam não ter recursos para acesso a Internet e 29% não têm equipamentos de tecnologia suficientes.

Mas talvez a principal reflexão que a enquete permite fazer resulte do ‘silêncio’ dos cerca de 70% de estudantes que não responderam à enquete. Afinal, se levarmos em consideração que cerca de 75% dos estudantes da UFBA encontra-se em situação de vulnerabilidade social, com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo – conforme pesquisa amostral realizada pela Andifes no ano passado – , é provável que boa parte do alunado da UFBA não tenha respondido ao questionário por não dispor de acesso adequado a computadores ou internet em casa.

Márcia Rangel sinaliza que as dificuldades de acesso às tecnologias digitais aprofundam desigualdades sociais já existentes. A superintendente observa que, embora haja um aumento da demanda por ensino online no contexto atual, para que isso de fato ocorra, é fundamental promover antes a inclusão digital dos estudantes, além de ações formativas junto aos professores, reformulação de currículos e projetos pedagógicos adequados.

Professores

Também foram disponibilizados durante o Congresso dados do diagnóstico das competências digitais dos professores da UFBA, com levantamento organizado pela Superintendência de Educação a Distância a partir de questionários aplicados junto a 1.399 docentes que responderam a uma enquete enviada a todos os docentes da Universidade, também no mês de abril. A amostra total dos que responderam representa 49% dos 2.853 professores da UFBA.

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Renato Gomes, Andréa Leitão Ribeiro e Marcia Rangel

De acordo com José Renato Gomes, coordenador de ambientes digitais da UFBA, as competências digitais são avaliadas através do programa DigcomEdu, com aplicação de questionários desenvolvidos pela plataforma EU Survey, criada pela União Europeia, e adaptada à realidade local pela Rede Colaborativa de Aprendizagem (RCA). A análise dessas competências é similar a um teste de proficiência de linguagem, com pontuações definidas para cada resposta da auto-avaliação docente, explica o ele, segundo o qual, esse processo permite ao educador refletir o seu nível de proficiência em competências digitais e fornecem informações para embasar de políticas de ensino e formação continuada.

Os resultados classificam o nível de competências digitais do professor em seis categorias, que vão de recém-chegado a líder. Na UFBA, 60,% dos professores se enquadraram em níveis intermediários – 42,1% nível integrador; 18,4% especialistas, informou Andrea Leitão, membro da equipe responsável pela pesquisa. Apenas se enquadraram nos níveis mais avançados 5,5% de líderes e 0,9% de pioneiros. Nos níveis iniciais  de competências, os resultados registraram 5,1% de recém-chegados e 28,% dos professores no nível denominado explorador.

Segundo Leitão, os resultados demonstram que existem competências que podem evoluir no perfil geral dos professores, o que sinaliza a necessidade de se investir em estratégias formativas para o uso das tecnologias digitais, que sejam sensíveis e explorem diferenças de perfis entre áreas, cursos e professores.

A superintendente Márcia Rangel informou sobre uma série de ações desenvolvidas para ajudar no professo de formação continuada dos professores na área de educação a distância, a exemplo do Ateliê Didático Digital, que atua para a formação pedagógica integrada à formação digital, cursos de especialização e ações de capacitação realizadas junto às diversas pró-reitorias. Ela ressaltou a importância da autonomia dos professores em todo esse processo e ponderou que não será a tecnologia que garantirá a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, mas sim práticas pedagógicas como parte de um currículo contextualizado que permita a participação crítica de estudantes e de toda a comunidade.

A superintendente destacou que a UFBA é uma universidade eminentemente presencial, com estudantes que foram selecionados para essa modalidade de ensino, e que não considera a possibilidade de que o semestre letivo seja substituído por ensino remoto, apontando a inviabilidade de fazer uma transição dessa de maneira apressada e sem planejamento. “Isso está fora de cogitação”, garantiu Rangel, sugerindo que a modalidade EAD poderá ser disponibilizada progressivamente, com a adequação de currículos de acordo com as condições de acesso de professores e estudantes. “Não podemos impor aos estudantes uma condição que eles não têm”, disse, revelando ainda a intenção de criar uma estrutura de suporte para professores – “uma espécie de hekpdesk das tecnologias digitais” – e anunciando o lançamento de edital para professores que desejam contribuir no processo de formação de competências digitais na universidade.

Redes colaborativas

A educação colaborativa foi tema de reflexão em outra conferência com a participação da superintendente Márcia Rangel, que definiu o sentido de colaboração como “uma atitude de olhar para frente e perceber que não estamos sós”. Ela falou da experiência com a Rede Colaborativa de Aprendizagem (RCA), que integra 12 universidades, entre estaduais e federais e a Universidade Aberta de Portugal, onde são compartilhados conhecimentos e estratégias para o desenvolvimento de práticas pedagógicas, de competências digitais e articulação de grupos de pesquisa na área.

O coordenador José Renato Gomes considera que as competências digitais estão relacionadas com o uso consciente das tecnologias da informação e comunicação, inclusive para a solução de problemas cotidianos. Gomes nota um grande aumento da demanda por tecnologias digitais diante das necessidades que surgem com pandemia. “Hoje, uma pessoa sem competências digitais está excluída”.

Também participou da conferência o professor Jorge Correia, diretor da unidade de Educação a Distância da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para quem o conceito de colaboração na aprendizagem está relacionado ao desenvolvimento de competências com ferramentas de comunicação, coordenação e cooperação. Correia crescentou ainda que a interatividade assumiu uma importância maior com a web 2.0, sendo responsável por um maior engajamento das pessoas e contribuindo com o sucesso dos projetos, conforme observa em sua experiência com estudantes e parceiros de pesquisa. Contudo, compartilhou relatos de professores e estudantes que enfrentam dificuldades de utilizar recursos tecnológicos básicos.

Superintendente de Educação aberta e a Distância da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Adilson Gomes avalia que a pandemia tem evidenciado a crise do modelo neoliberal, que promove desigualdade social e inviabiliza cidadãos. As suas conseqüências no cenário atual, na sua concepção, exigem uma remodelação da estrutura organizacional das instituições de ensino, na qual as redes colaborativas se mostram como uma alternativa.   

Para o professor Eniel Espírito Santo, da UFRB, é preciso estar atento aos excluídos digitais, que, segundo apontou, são 30% da população brasileira. Considera que é preciso favorecer trilhas de aprendizagem factíveis com a realidade dos sujeitos e diversificar as ferramentas nesses processos. Deu exemplos de fóruns de discussão, chats, podcasts e mapas, entre outras. Ele afirmou que o mais importante é a intencionalidade pedagógica e que o professor precisa se colocar sempre no lugar do aluno.

Cláudia Soares, coordenadora geral da EAD na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), chamou atenção para a luta por uma educação de qualidade e acessível para todos de forma pública e gratuita. Nesse processo educacional, ressaltou a importância de se considerar contextos, pessoas, tempos e lugares; de pensar nas especificidades de cada público, no acesso às ferramentas educacionais, seus usos e repercussões. Ela também reforça que para estar conectados e interagir com as tecnologias digitais, são necessárias competências que precisam ser desenvolvidas. 

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