Fernanda Caldas
Uma ampla pesquisa para conhecer as condições da comunidade universitária em meio à pandemia, que alcançou professores, técnicos e estudantes nos meses de junho e julho, subsidiou a proposta de retomada de atividades acadêmicas e administrativas aprovada e regulamentada pelos conselhos superiores da UFBA.
As informações foram coletadas por meio de dois mecanismos. Um questionário coletou informações sobre acesso à internet, dispositivos tecnológicos e capacidade de realização de atividades remotas, além de entender o perfil sociodemográfico dos servidores – docentes e técnico-administrativos – e estudantes da Universidade. E um canal de comunicação direta com a Administração Central – o e-mail ufbaemmovimento@ufba.br – esteve aberto até o dia 02 de julho, recebendo dezenas de mensagens de praticamente todas as unidades da UFBA.
Foram convidados a participar da enquete online 48.793 estudantes de graduação e pós-graduação, com uma taxa adesão de cerca de 40%, com 19.791 respostas. Em relação aos servidores, de 2.790 professores, a adesão superou 82%, com 2.302 respostas; já entre os 3.078 técnico-administrativos, 1.447 responderam, cerca de 47%.
O levantamento de dados foi uma ação da Administração Central, através das pró-reitorias de Ensino de Graduação (Prograd), de ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae) e de Desenvolvimento de Pessoas (Prodep) e das Superintendências de Educação a Distância (Sead) e de Tecnologia da Informação (STI).
Estudantes
O impacto econômico da pandemia da Covid-19 na renda familiar atingiu uma significativa porcentagem dos estudantes que responderam ao questionário. No total, 59,7% afirmaram que a renda familiar diminui, e 40,2% informaram que a renda se manteve estável ou aumentou. Dos que tiveram a renda reduzida, 6,6% disseram que ela diminuiu 75%; 18,7% informaram redução pela metade; e 31,4% vivem um corte no orçamento de 25%. E para 6,6%, o impacto financeiro da pandemia foi maior, com a diminuição de 75% da renda familiar.
Sobre as condições de acesso à internet, 4,6% dos estudantes afirmaram não ter acesso; 16% não têm recursos multimídias para participação em videoconferência, que inclui câmera, headset, fone de ouvido e microfone; 64,1% compartilha equipamentos para atividades remotas com outras pessoas; e 93% vê a necessidade de uso de algum software ou aplicativo específico ou adaptação ergonômica para realizar as atividades remotas. E em caso de oferta de alternativas de apoio à inclusão digital pela Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae) da UFBA, 62,9% afirmaram que pretendiam se inscrever.
Com base nas respostas, foi obtido o indicador de condição de aprendizagem online dos discentes, sendo que: 6,6% dos estudantes não têm condições adequadas para atividades remotas; 20,5% têm poucas; 46,7%, razoáveis; e 26,2% possuem boas condições de aprendizagem no ambiente virtual. Esses dados expõem lacunas consideráveis, em maior ou menor grau, para efetivação e qualificação desse modelo de ensino. A partir do perfil socioeconômico, evidenciou-se também um resultado que traduz as reconhecidas desigualdades sociais do país: quanto menor a faixa de renda familiar, piores as condições para aprendizagem virtual.
Professores
Em relação ao questionário enviado ao corpo docente, a maioria, 82,3%, respondeu afirmativamente sobre o uso de ambiente remoto e tecnologias digitais para realização de atividades acadêmicas, enquanto 16,3% não souberam responder e 4% responderam negativamente.
Sobre uso do Moodle – ambiente virtual de aprendizagem que apoia processos de ensino e aprendizagem na UFBA -, 47% dos professores afirmaram que nunca usaram; 30%, poucas vezes; e 23% utilizam com frequência.
Essas informações, somadas a outras, exibem um quadro complexo, na medida em que o corpo docente revela desigual distribuição de competências digitais, o que demanda a necessidade de uma estratégia de participação e direcionamento dos órgãos e lideranças da estrutura de gestão acadêmica da universidade. Entre elas, o desenvolvimento de um plano de capacitação emergencial para as atividades acadêmicas remotas e emergenciais”, voltado ao semestre suplementar, e um plano de capacitação ampliada e continuada para uma educação flexível, que une o presencial ao ensino a distância.
A opinião dos professores sobre os formatos mais adequados para aulas online privilegia e-books, periódicos, textos digitais, videoaulas, conferência online, entre outros.
Técnico-administrativos
Em sua maioria, os servidores técnico-administrativos responderam que acham adequado o trabalho ser apenas remoto durante o período de isolamento da pandemia: 65%. O percentual diminuiu para aqueles que acreditam na capacidade de aliar presencial e remoto, 18%, enquanto 9% informaram que suas atividades não são adaptáveis para serem feitas a distância; 5% desenvolvem atividades apenas no modo presencial. Outros 2% afirmaram não ter condições pessoais para trabalhar, e 1% não respondeu.
Apesar de grande parte dos técnicos – 80% – não terem computador de mesa disponível para uso imediato, 73% possuem notebook; 75% têm smartphone; 10% têm tablets; 27% dispõem de impressora; e 26% possuem mesa e cadeira de escritório em casa.
UFBA em Movimento: um canal de diálogo
O endereço eletrônico ufbaemmovimento@ufba.br foi colocado à disposição pela Administração Central com a finalidade de ser um canal de diálogo direto com a comunidade acadêmica, que contribuiu com observações sanitárias, didáticas, pedagógicas, psicológicas, epistemológicas, arquitetônicas, políticas. Por meio desse endereço, chegaram perguntas e indicações de problemas a serem enfrentados, bem como documentos diversos sobre os cuidados a serem observados nos mais distintos cenários.
Foram enviadas 159 mensagens, dentre as quais 147 sugestões. Estudantes, professores e técnicos formaram o principal grupo de envio das sugestões, com 97 mensagens individuais, seguido por direções de unidades, coordenações de programas de pós-graduação, chefias de departamento, lideranças de grupos de pesquisa e coletivos, que encaminharam seus respectivos posicionamentos oficiais.
Todas as mensagens recebidas tinham o comum a contrariedade em relação ao retorno das atividades acadêmicas presenciais durante a pandemia. Apesar de algumas manifestações conterem reservas e dúvidas sobre a condições de realização de atividades online, a maioria das manifestações defendeu a oferta de disciplinas a distância, dentre as quais disciplinas teóricas, optativas e atividades complementares.
Muitas das sugestões apresentadas por unidades universitárias e programas de pós-graduação foram baseadas em pesquisas e levantamentos próprios, que avaliaram as limitações e possibilidades de alunos e servidores. Houve manifestações referentes a necessidade de funcionamento de laboratórios, ambulatórios e clínicas-escola, muito embora tenha havido, ao mesmo tempo, preocupação com as condições necessárias para o cumprimento das orientações sanitárias. A essas somaram-se apreensões relacionadas à limpeza e higienização dos ambientes; espaçamento entre as pessoas nos espaços universitários; equipamentos de proteção; trajeto de casa para a universidade; capacidade dos sistemas tecnológicos; acesso aos meios digitais, principalmente por estudantes; preocupações; prevenção de evasão, cuidados com saúde mental, entre outros.
Em resumo, os destinatários das mensagens mostraram-se contrários ao retorno presencial das atividades, à substituição das atividades acadêmicas presenciais por atividades remoto, ao mesmo tempo que informaram serem favoráveis ao retorno das atividades acadêmicas. A maior parte disse ainda ser favorável à flexibilização da participação dos alunos durante a pandemia e à retomadas das atividades por etapas, respeitando as especificidades de cada unidade, órgão ou setor.