A vivência acadêmica fornece questionamentos, respostas e hipóteses no dia a dia do processo de ensino e aprendizagem. Foi a partir dos métodos usados em suas práticas cotidianas em sala de aula que um grupo de professores da UFBA, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares em Ecologia e Evolução (IN-TREE) – que conta com 49 laboratórios e mais de 250 pesquisadores atuantes no país – propôs uma alternativa pedagógica baseada na solução de problemas.
A pesquisa defende o conhecimento participativo centrado no estudante, especificamente de graduação e pós-graduação, público-alvo do estudo.
Assinado pelos professores titulares da UFBA Pedro Rocha e Charbel El-Hani, também coordenador do INCT IN-TREE, e também pelo professor da UFGD Nei Nunes-Neto, o artigo foi publicado na mais recente edição do livro Nature of Science in Science Instruction: rationales and strategies – obra que, desde 1988, é “referência para o ensino sobre natureza da ciência em todo o mundo”, de acordo com El-Hani. Disponível em inglês, na versão paga, o artigo pode ser lido por meio da plataforma SpringerLink.
O artigo toma como ponto de partida relatos dos professores e dados de resolução de questões trazidas pelos estudantes para analisar o uso bem sucedido da aprendizagem baseada em problemas no ensino sobre a natureza da Ciência. Segundo os autores, o professor exerce, nessa metodologia, um importante papel de mediador na relação entre construção de saberes e as práticas dos estudantes.
O trabalho apresenta “metodologias participativas baseadas em questões sociocientíficas e aprendizagem baseada em problemas que usamos em disciplinas da graduação em Biologia e em disciplinas do mestrado Profissional em Ecologia Aplicada à Gestão Ambiental”, afirma Charbel El-Hani. O estudo colhe resultados de investigações realizadas desde 2015. A pesquisa também analisa aspectos históricos, filosóficos e sociais sobre o trabalho científico.
Com a proposta analisada pelos pesquisadores, o estudante é reposicionado e incentivado a abandonar o tradicional lugar de ouvinte. Seu papel é valorizado e são oferecidas ferramentas que o tornam apto a responsabilizar-se pelo próprio processo formativo. A metodologia já foi validada na prática, com 70% dos estudantes satisfeitos, além da diminuição da taxa de evasão na disciplina da graduação de história e filosofia da biologia, oferecida aos cursos de biologia, oceanografia e bacharelados interdisciplinares. Por outro lado, enfrenta obstáculos a sua efetivação, a exemplo da estrutura física das salas de aula, ainda muito marcada por uma lógica expositiva, e a pouca experiência de estudantes com métodos participativos durante sua vida educacional.