UFBA tem duas teses vencedoras no prêmio CAPES de Teses 2020

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Ayane Paiva e Jaqueline Goes

Ayane de Souza Paiva, formada pelo PPEFHC e Jaqueline Goes de Jesus, egressa do PGPAT.

Duas teses produzidas por doutoras formadas pela Universidade Federal da Bahia foram premiadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). As teses vencedoras, que foram defendidas em 2019 e contempladas na relação do Prêmio Capes de Teses – Edição 2020, são:  “Princípios de design para o ensino de biologia celular: pensamento crítico e ação sociopolítica inspirados no caso de Henrietta Lacks”, desenvolvida por Ayane de Souza Paiva, no Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBA associada à Universidade Estadual de Feira de Santana/UEFS) e “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e reemergentes”, produzida por Jaqueline Goes de Jesus, no Programa de Patologia Humana (UFBA em ampla associação com a Fiocruz Bahia).

Uma conquista de muito significado para a educação sociocientífica

Ayane de Souza Paiva

A doutora Ayane de Souza Paiva premiada com a Menção Honrosa da Capes.

O reconhecimento do Prêmio Capes ao trabalho da doutora Ayane de Souza Paiva na área do Ensino, “é uma oportunidade de apontar caminhos do ensino de ciências e biologia numa perspectiva, tanto crítica quanto virtuosa, visando uma formação mais abrangente que contextualize ciência com sociedade, ética e política e dar visibilidade ao caso Henrietta Lacks”, afirmou Paiva.  O caso Henrietta Lacks é importante para a ciência, pois Lacks foi uma mulher norte-americana, falecida em 1951, que tornou-se doadora involuntária de células cancerosas, mantidas em cultura e que deram origem à primeira linhagem celular imortal da história.  A linhagem, conhecida como HeLa, é utilizada atualmente em pesquisas médicas.

De acordo com Paiva, que é professora do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Mato Grosso, no Campus Universitário do Araguaia, “a tese ‘Princípios de design para o ensino de biologia celular: pensamento crítico e ação sociopolítica inspirados no caso de Henrietta Lacks ‘ é fruto de uma trajetória de muita implicação com a pesquisa acadêmica e com a docência, então, a conquista tem muitos sentidos e um significado especial”.

A pesquisadora não enxerga a premiação “apenas como uma conquista individual, mas uma vitória coletiva. Como mulher, nordestina e periférica da classe trabalhadora, essa premiação significa uma conquista não só minha, mas de todas as pessoas que vieram antes de mim e que me proporcionaram a materialidade desse prêmio. Como uma cientista, Ayane Paiva estende seu prêmio para todas as mulheres que lutam para ocupar espaços semelhantes, num ambiente ainda marcado pelo masculino e pelo machismo”.

Ela comemora dizendo que “receber essa premiação é dizer que o Nordeste venceu, a universidade pública venceu, as mulheres venceram e a favela venceu. O prêmio é nosso!”.  Além disso, tem “a esperança de inspirar mais pesquisadores em formação a valorizar suas pesquisas, não apenas como um produto do mestrado ou doutorado, mas como um marco de suas vidas”.

Claudia Sepúlveda, Barbara Carine, Roberto Dalmo, Ayane Paiva, Rosiléia Oliveira e Ana Paula Guimarães

Claudia Sepúlveda, Barbara Carine, Roberto Dalmo, Ayane Paiva (centro), Rosiléia Oliveira e Ana Paula Guimarães: no dia da defesa.

O trabalho, que esteve sob a orientação da professora  Rosiléia Oliveira de Almeida e coorientação do professor Nei de Freitas Nunes Neto, foi indicado por unanimidade pela comissão de avaliação das teses inscritas pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (PPGEFHC) – UFBA/UEFS, contou a professora Rosiléia. Em seu parecer a comissão destacou que “a tese apresenta, a partir de uma densidade teórica-conceitual e metodológica, contribuições para o ensino de Ciências e Biologia em um viés inovador. Há uma tessitura rica entre os artigos que compõem a tese, permitindo o entendimento de que o ensino de Ciências e Biologia e a pesquisa nessa área não ficam restritas aos aspectos conceituais, por meio da defesa de uma abordagem abrangente e historicamente situada, que contempla temas culturais, sociais e éticos, construindo uma originalidade e possibilitando o adensamento do desenvolvimento científico para a formação dos professores de Ciências e Biologia”, contou a docente.

A notícia da menção honrosa pela Capes é motivo de “orgulho e alegria” para o PPGEFHC, pois contribui muito para a educação, já que “trata-se de uma tese que foi desenvolvida a partir de fundamentação filosófica freireana, da perspectiva educacional Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente e do uso de Questão Sociocientífica, uma proposta de ensino – com princípios de design generalizáveis – que promova o debate sobre um problema ético de alterizações negativas, focalizando racismo, sexismo e opressão de classe”, concluiu a orientadora Rosiléia Almeida.

Experiência do doutorado no mapeamento genômico do novo coronavírus

Jaqueline Goes

Jaqueline Goes de Jesus foi premiada na área Medicina II e foi pioneira no sequenciamento, em tempo recorde de 48 horas, do genoma do SARS-CoV-2, na América Latina.

Com a tese intitulada “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e re-emergentes”, a doutora formada pela UFBA em ampla associação com a Fiocruz/Bahia, Jaqueline Goes de Jesus foi premiada na área Medicina II. O trabalho, orientado pelo professor Luiz Carlos Junior Alcantara, é resultado da participação de Jaqueline no projeto Zika in Brazil Real Time Analysis (Zibra), que teve como objetivo compreender a origem, eventos de introdução e dispersão, bem como a identificação de cepas ou genótipos com maior potencial epidêmico dos arbovírus Zika, Chikungunya e Febre Amarela.

De acordo com a pesquisadora vencedora, a experiência obtida com as pesquisas ao longo do doutorado, permitiu-lhe trilhar os caminhos que a levariam a ser a pioneira no mapeamento genético do novo coronavírus, na América Latina, no mês de março de 2020.  Jaqueline Goes teve participação como primeira autora na equipe que sequenciou, em tempo recorde de 48 horas, o genoma do SARS-CoV-2, no primeiro caso brasileiro da doença. O trabalho teve uma grande repercussão no meio científico, com ampla divulgação na imprensa e períodos científicos. (Saiba mais sobre essa realização na matéria “A doutora formada na UFBA que liderou o primeiro sequenciamento genético do coronavírus no Brasil“, publicada pelo ED em 02/04/2020.)

Jaqueline também considera que “o prêmio é de toda a equipe do Projeto Zibra”, realizado através de consórcio entre a Fiocruz e as Universidades de Oxford e de Birmingham, na Inglaterra, onde Jaqueline também realizou treinamento durante o período de doutorado sanduíche. Em seu trabalho, foi utilizado de forma pioneira, no Brasil, um sequenciador portátil em tempo real (MinION) que integrou um laboratório itinerante que percorreu o Nordeste brasileiro. Além do impacto direto para a população estudada, a tecnologia utilizada foi transferida para o diagnóstico de arboviroses nos Laboratórios Centrais Estaduais (LACEN), ratificando a importância da ciência aberta para as emergências em saúde pública.

Os resultados obtidos a partir dos experimentos foram divulgados em cinco publicações relevantes, sendo duas destas na Nature e Science. A tese que foi defendida em 2019, também recebeu o Prêmio Gonçalo Moniz de Pós-Graduação, na categoria Egresso – Doutorado (1º lugar), e no XIII Encontro de Pós-Graduação das Áreas de Medicina I, II e III da CAPES, com o Prêmio de Melhor Trabalho de Tese.

As coordenadoras do Programa de Pós-graduação em Patologia Humana (PGPAT), Valéria Borges e Clarissa Gurgel, parabenizam Jaqueline o orientador e o projeto Zibra e ressaltam a importância do investimento de agências de fomento à Pesquisa e Ensino, incluindo CAPES, CNPq e FAPs, no fortalecimento de programas de pós-graduação em todo o Brasil.  “É importante para que a excelência e reconhecimento dos talentosos discentes, como Jaqueline Góes, continuem sendo aplaudidos. Para que a ciência brasileira resista, apesar dos cortes de verbas de pesquisa e que caminhe de mãos dadas com a sociedade, em busca de um país mais justo e igualitário”, declara Valérias Borges.

Atualmente, Jaqueline Goes realiza estágio pós-doutoral no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo – Universidade de São Paulo (IMT-USP), sob supervisão da pesquisadora Ester Sabino, utilizando métodos aprendidos ao longo de sua formação no doutorado. Além de ser doutora egressa pela UFBA/Fiocruz, Jaqueline tem graduação em Biomedicina, pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, e obteve o mestrado em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI), pela Fiocruz Bahia.

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