Em live sobre “A Indústria Criativa na Bahia e a pandemia da Covid-19”, promovida por ex-alunos da Escola de Administração da UFBA (EAUFBA), o vice-reitor Paulo Miguez afirmou que a defesa da indústria criativa passa, necessariamente, nos dias de hoje, pela defesa da democracia e da Constituição Brasileira. As agressões que as universidades vêm sofrendo nos últimos anos e o desrespeito à ciência, às artes e à cultura – seja pelo negacionismo, seja pela criminalização – também foram elencados pelo vice-reitor, como fatores adversos ao setor. Também participou da mesa o radialista e empresário Mário Kertész, para quem, assim como acontece com a cultura, também a educação, a economia e a internacionalização vêm enfrentando um processo de destruição que precede a pandemia, e que ele não acredita que se interrompa com o atual governo.
O evento virtual que organizou esta e outras conversas foi o Carreiras e Conexões, iniciativa de ex-alunos da Escola de Administração da UFBA que marcou o lançamento do Conecta EAUFBA, uma rede de conexão, como o nome sugere, de alunos egressos da unidade, com a missão de ajudar na construção de uma escola ainda melhor para as próximas gerações. Para o diretor da unidade, professor João Tude, “a Escola de Administração da UFBA tem um papel fundamental no desenvolvimento das organizações públicas e privadas da Bahia e do Brasil nas últimas seis décadas. A rede de ex-alunos da EAUFBA é, portanto, uma iniciativa importantíssima de fortalecer ainda mais a nossa instituição”. Presidente Conecta EAUFBA, Luciana Ferreira afirmou que “esse evento será um catalisador de muito networking entre alunos(as) e ex-alunos(as)”.
A abertura do Carreiras e Conexões foi feita pelo criador da consultoria N Ideias e embaixador da Unesco Nizan Guanaes, quando afirmou que muito do seu sucesso no mundo empresarial se deve à sua formação em administração pela UFBA. “Nós temos que fazer com que a UFBA seja percebida no Brasil com todo o protagonismo que deve ter”, opinou. “Agora o momento é de retribuição e de colaboração para que a EAUFBA se torne referencia em inovação entre as escolas de administração do país. Estou aqui para retribuir tudo o que a Universidade Federal da Bahia me deu”, concluiu.
Ambiente tech, carreiras e megatendências
Depois da fala de Nizan, o head de startup da Amazon AWS, Fred Santoro, e o vice-presidente do Valor Capital Group, Carlos Costa, explicaram como funciona o ambiente tech hoje no Brasil, já com uma com uma visão ampliada de ecossistemas como fontes geradores de capital e serviços. “Todo mundo está movendo para o on-line, e a pandemia mostrou isso”, afirmou Costa. Os dois ex-alunos concordam que, na base de todo esse processo de rápidas transformações na contemporaneidade, encontram-se o estudo e a educação, que colaboram para que os atuais modelos sejam aprofundados e possam atrair novos talentos.
Em seguida, a conversa foi sobre como transformar propósitos em carreiras bem sucedidas, tendo como convidados os ex-alunos Harley Nascimento e Mauricio Lima, com mediação de Marcelo Leal, gestor de projetos da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti). Harley, fundador do grupo Gapa – um dos pioneiros no Brasil na luta contra o HIV/Aids, desde 1988 – e do Fundo Positivo – primeiro fundo LGBT+ do país -, afirmou que toda a sua formação acadêmica em administração pela UFBA motivou e orientou sua carreira de Gestor Social, de perfil ativista. Já Mauricio Lima, cofundador da Sanar, startup que nasceu na Bahia e atua no campo da saúde, acredita que a melhor carreira está no lugar onde o profissional esteja feliz e seja protagonista dessa felicidade.
O último painel da noite foi sobre megatendências e o que esperar do futuro próximo, reunindo o consultor e ex-sócio presidente da PwC, Fernando Alves, e o chefe de Novos Negócios da Google, Leonardo Assis. O mediador dessa vez foi o ex-aluno Raphael Trigueiros, sócio consultor do Instituto Planos. Para Fernando, a Escola de Administração da UFBA é como a Bahia, “que não sai a minha vida”, sentimento compartilhado por Leonardo quando lembra o seu ingresso na UFBA “como a melhor coisa que fiz na minha vida”.
E sobre o futuro, o que eles falam? Para Fernando, “sem futurologia”, cinco megatendências precisam ser analisadas: a mudança climática, o deslocamento do poder econômico dos Estados Unidos para a China, as mudanças demográficas, a urbanização acelerada e a revolução tecnológica. Concordando, Leonardo acrescenta outras megatendências: o transporte e mobilidade, com a criação de novos meios de locomoção, as fontes de energia sustentável, a inteligência artificial, além da conexão de objetos e pessoas. Assim se deverá construir o futuro, avaliam.
Indústria criativa, trajetórias e startups
Na segunda noite do Carreiras e Conexões o primeiro tema tratado foi “A indústria criativa na Bahia e a pandemia da Covid-19”, quando o vice-reitor Paulo Miguez defendeu a conservação do equilíbrio entre as dimensões simbólica e econômica das manifestações do setor industrial criativo, não permitindo “que a economia externa subordine a dimensão simbólica”. Para ele, a geração de emprego e renda pode caminhar junto com o respeito e a conservação dos conteúdos simbólicos dos eventos, como o ciclo de festas religiosas e populares que são realizadas na capital e em todo o estado da Bahia, culminando com o Carnaval. Sobre a realização da festa ano que vem, Mário Kertész foi categórico: “Sem vacina, não tem nada. Não tem Carnaval, não tem festa, não tem emprego.”
Miguez e Kertész são dois ex-alunos da EAUFBA. Miguez fez mestrado na escola ao retornar ao Brasil depois de 10 anos morando e trabalhando em Moçambique. Mário foi da terceira turma de graduação da unidade, formada em 1963. Os dois lembram com carinho dos tempos de estudantes da EAUFBA e destacam a importância da formação acadêmica que receberam na Universidade. Para o radialista “foram quatro anos maravilhosos”, enquanto para o vice-reitor “a UFBA permanece como uma mancha de dendê, que jamais sairá das nossas vidas”.
A segunda conversa da noite reuniu os ex-alunos Gabriel Mello e Taís Silveira que contaram como foi viajar para estudar e trabalhar fora do Brasil. Gabriel, cuja trajetória internacional começou pela Turquia, “expatriado aos 22 anos de idade porque queria tentar algo diferente”, hoje mora com a família em Nova York, onde trabalha no escritório global da Ambev e de onde não pretende sair pelos próximos anos. Taís, ex-aluna da Universidade de Stanford, na Califórnia, começou como intercambista em uma escola de negócios na Alemanha, antes de imergir no mundo tech do Vale do Silício, na Califórnia (EUA). Retornou ao Brasil em 2019, “porque adoro Salvador e a Bahia”, e hoje trabalha na startup Sanar. A mediadora do painel foi a egressa Carla Darzé, também com experiência internacional.
Encerrando as apresentações da segunda noite de conversas, os ex-alunos Paula Morais, Ubiraci Mercês e Rodrigo Paolilo contaram como foi criar startups de sucesso, com mediação de Felipe Oliveira, empreendedor do agronegócio. Paula Morais, que estudou educação voltada para a inovação em Vancouver, no Canadá, hoje é a “capitã do time” da Intera, voltada para o recrutamento digital de novos talentos. Ubiraci começou com uma banda de música e depois organizou um bloco de Carnaval para sair na Quarta Feira de Cinzas – “deu tudo errado” – e hoje também faz parte do “time” da Sanar, inicialmente voltada para estudantes de Medicina mas que, atualmente, alavanca o profissional médico do futuro, com ênfase na democratização do acesso à saúde. Paolilo fez intercambio em Madri e passou pela Votorantin, em São Paulo, antes de voltar para a Salvador e abrir a franquia “Mariposa”, na área da gastronomia. Hoje é o cabeça do “time” da Rede Mais, que começou como co-working e hoje, voltada para a transformação digital, impacta 7.500 pessoas, acelerando seus negócios.
Setor público e mercado financeiro
A última noite do evento começou com a apresentação dos ex-alunos e idealizadores do Conecta Eaufba – Fábio Figueiros, Luciana Ferreira, Raphael Trigueiros, Felipe Oliveira e Allan Fuezi -, que explicaram e responderam a perguntas sobre os propósitos de criação da rede de conexões entre estudantes egressos da escola. No site www.carreiraseconexoes.com.br estão todas as informações necessárias, fichas de inscrições e orientações de como participar do networking. Ou pelas redes sociais Instagram e Facebook.
Em seguida, foi a vez da atual vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, da policial militar e ex-candidata a prefeita Major Denice e do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Leandro Lima, abordarem o tema “o papel do setor público na criação de ecossistemas”. A mediação foi do ex-aluno Alan Fuezil, que destacou a importância da participação de atores do setor público no evento pela relevância que têm como criadores de ecossistemas democráticos no país, não podendo ficar, portanto, à margem do processo. Os três participantes foram unânimes em destacar a importância da UFBA e da Escola de Administração na formação como gestores e empreendedores públicos.
O evento foi encerrado com uma troca de ideias e informações sobre o tema “a revolução do mercado financeiro brasileiro”, que juntou os CEOs Guilherme Costa e Diogo Pessoa, além do professor da EAUFBA e presidente do conselho da Rede Bahia, Antonio Carlos Magalhães Junior, com mediação do ex-aluno Fábio Figueiros. Todos reforçaram o papel da UFBA e da EAUFBA na construção de suas carreiras. O professor Antonio Carlos Júnior, por exemplo, contou que neste ano comemora 50 anos de EAUFBA, um tempo que começou na graduação e que continua hoje, na docência. Sobre o tema do debate, os três convidados concordaram que um maior investimento da população no mercado de capitais é saudável e gera uma oferta de produtos diversificados, favorecendo, na outra ponta, as pessoas físicas.