Residência Universitária 1, no Corredor da Vitória, é tombada como patrimônio municipal

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Residência Universitária 1, no Corredor da Vitória.

O casarão da Residência Universitária 1 da UFBA, no Corredor da Vitória, teve seu tombamento aprovado pela Fundação Gregório de Mattos, órgão da Prefeitura de Salvador terça-feira, 10 de agosto, por meio do decreto n° 34.255.O tombamento inclui ainda a área correspondente aos jardins e à encosta, no terreno onde se encontra o casarão.

O ato reconhece o valor histórico, artístico e cultural da edificação para a história da cidade. Localizado numa das áreas mais nobres de Salvador, o edifício em estilo eclético foi adquirido pela UFBA na década de 1950 para abrigar estudantes oriundos do interior da Bahia e de outros estados.

A proposta de tombamento foi solicitada pela UFBA e coordenada pela professora Mariely Cabral de Santana, da Faculdade de Arquitetura da UFBA, e pela arquiteta Manuella Araújo, da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai). Para Santana, o tombamento representa a preservação de um importante momento da história da cidade e o reconhecimento, pelo município, dos valores e atributos da edificação residencial, representante da arquitetura eclética, hoje Residência Universitária com características que apontam a forma de viver da sociedade soteropolitana, no início do século XX.

A pesquisadora afirma ainda que o tombamento, para além de valorizar a arquitetura, referenda características típicas da implantação das residências daquele período no corredor da Vitória, que se distingum pelas construções isoladas no terreno e a presença dos jardins. A UFBA, afirma Santana, “ratifica e consolida, com a solicitação do tombamento, sua responsabilidade como guardiã da memória coletiva dos soteropolitanos”.

Com o tombamento, amplia-se a possibilidade de a universidade participar de editais púbicos para desenvolvimento de projetos de restauração, execução de obras e elaboração de planos de conservação preventiva que possibilitem garantir a longevidade e sustentabilidade da edificação. O decreto publicado nesta semana reconhece que a edificação é “um dos últimos exemplares representativos da arquitetura eclética na Bahia”, um registro dos conceitos de urbanidade e que reponde aos princípios higiênicos e estéticos implementados na cidade de Salvador, principalmente a partir da Primeira República.

A UFBA, vale ressaltar, manteve todas as características espaciais e estéticas da edificação, que desde 1951 “abriga um uso de forte representação social, a residência universitária”, ampliando os valores da edificação para além das questões arquitetônicas. Nesse sentido, aresidência representa um importante papel, seja pelo número de estudantes ai abrigados, seja pelas atividades culturais e políticas ai desenvolvidas, ao longo de sessenta anos, e que faz parte, significativa, da história da UFBA.

A arquiteta Manuella Araújo, da Sumai, descreve as características arquitetônicas da residência, destacando sua implantação, de forma isolada no lote, com porão alto utilizável e com jardins decorados com bancos em embrechados e belíssimos portões de ferro, que permitem a permeabilidade entre o espaço urbano e a residência. Destaca ainda que na parte posterior foi mantida a privilegiada vista para a Baía de Todos os Santos e acessos para o mar.

A arquiteta salienta ainda que com a demolição de vários imóveis de ecléticos na região ou sua subutilização como portarias ou salões de festas de edifícios de alto padrão, as características morfológicas da forma de ocupação no Corredor da Vitória foi bastante modificada, observando que, na atualidade, são raras as casas remanescentes com a mesma tipologia da Residência.

O antigo casarão, de características ecléticas, apresenta planta retangular com três pavimentos: porão habitável, pavimento térreo e primeiro pavimento. No acesso, há uma escadaria monumental, com piso em mármore e guarda corpo em balaústre que, a partir do jardim, chega ao hall de entrada, onde se localizam duas salas, que funcionavam como escritório e sala de espera – o que resguardava a privacidade dos espaços residenciais.

Os jardins são amplos, compostos por canteiros com desenho à inglesa, com destaque para os bancos em embrechados decorados com pedaços de azulejos, seixos e conchas.

História

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Fonte: Fonte: Arquivo Municipal de Salvador

Antes de integrar a UFBA, a primeira referência que se tem do casarão é de um levantamento que subsidiou obras de ampliação e modernização da atual Av. Sete de Setembro, durante o primeiro governo de J.J. Seabra, em 1912. Nessa planta, a casa está cadastrada com a disposição do lote semelhante à disposição que se encontra na atualidade.

O imóvel, que, nos anos de 1920 pertenceu à família do engenheiro Vilas Boas, serve como residência dos estudantes da UFBA desde 1951, mas apenas em 1956 foi adquirido formalmente pela universidade, durante a gestão do fundador e primeiro reitor da UFBA, Edgard Santos.

O imóvel foi inicialmente denominado de “Casa do Universitário” e era destinado, exclusivamente, a alojar estudantes homens. A casa recebia universitários do interior da Bahia e de outros estados que, pelo valor de 180 contos de réis mensais, tinham direito a um quarto mobiliado e café da manhã, sendo as demais refeições servidas no Restaurante Universitário, então instalado nos fundos da casa. Hoje, a residência, denominada R-1, é coordenada pela Pró Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) e abriga aproximadamente 80 estudantes. O antigo restaurante foi substituído por um ponto de distribuição de refeições, ampliado e localizado nas áreas das antigas edículas da residência, que, quando em funcionamento normal, serve cerca de 600 refeições por dia para residentes e estudantes da UFBA.

Atualmente, em consequência da situação pandêmica e com as aulas em regime online, a maioria dos estudantes retornou aos seus domicílios de origem, permanecendo na residência apenas alunos que estão em atividades práticas junto à universidade ou em desenvolvimento de projetos de pesquisa que mantiveram atividades presenciais, excepcionalmente e cumprindo todos os protocolos sanitários recomendados. Vale ressaltar o compromisso da UFBA em manter as vagas e acolhimento aos alunos, no retorno das atividades universitárias, referendando o papel social desempenhado pela UFBA na formação do cidadão, desde a sua criação nos anos de 1950.

Bens tombados da UFBA

Além da Residência Universitária 1, mais dois imóveis da UFBA são tombados e reconhecidos como patrimônios culturais por entes do Estado. A Faculdade de Medicina da Bahia, no Largo Terreiro de Jesus, no Pelourinho, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac); e a Escola de Belas Artes, que inclui a galeria Cañizares, no Canela, também pelo Ipac.

Os 60 metros quadrados dos painéis de azulejos no prédio da reitoria da UFBA, que representam a arte portuguesa presente no Brasil desde o período colonial, também são tombados pelo Iphan.

 

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