Institutos da UFBA lutam para continuar realizando olimpíadas do conhecimento na pandemia

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Olimpíadas do conhecimento

Pandemia trouxe muitos desafios para a realização das olimpíadas do conhecimento, nos anos de 2020 e 2021.

Em tempos de jogos olímpicos, em que habilidades esportivas são engrandecidas, aptidões intelectuais resistem graças às olimpíadas do conhecimento nas áreas de química, física e biologia. Mesmo com as adversidades impostas pela pandemia de Covid-19, jovens estudantes que se dedicam aos estudos participaram dessas competições, promovidas como projetos de extensão dos Institutos de Biologia, Física e Química da UFBA. O período pandêmico trouxe muitos desafios para a realização das olimpíadas do conhecimento, que implicaram sobretudo em diminuição do número de participantes e mesmo na não realização de alguns eventos, sobretudo em 2020.

O professor do Instituto de Química Lafaiete Cardoso, que coordena olimpíadas de química em vários níveis, afirma que, “inicialmente, o impacto foi muito grande, culminando com a suspensão temporária de todas as atividades”. A professora do Instituto de Biologia Ivana Nunes Gomes de Araújo, responsável pela Olimpíada Baiana de Biologia (Obabio), destaca que várias etapas foram impactas: “desde a seleção dos alunos que irão participar em cada colégio, passando pela aplicação da prova, até o momento da entrega do prêmio, pois todas essas etapas estavam pautadas em atividades presenciais”.

A perda do contato presencial figura entre uma das maiores dificuldades. “Assim como todo o restante do sistema escolar ao redor do mundo, sofremos com a perda do contato presencial, pois um dos objetivos das olimpíadas é fortalecer o vínculo professor-aluno, em cada colégio, contribuindo para a melhoria do aprendizado”, acrescenta Ivana.

Tudo “mudou totalmente”, pontua a professora do Instituto de Física Maria das Graças Reis Martins, coordenadora estadual da Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Pública (Obfep). Ela lembra que “em períodos ‘normais’, com as escolas funcionando presencialmente, há atividades de organização que envolvem divulgação, contato com secretarias de Educação, escolas e professores, além de aplicação das provas”.  Nesse período, nada disso aconteceu.

Desafio e desigualdade

“Mesmo com as restrições de isolamento social, não deixamos de cumprir nossa programação de atividades. Tirando a Olimpíada do Ensino Superior (Obesq), todas as demais olimpíadas da área de química foram realizadas com o uso de tecnologia digital e aplicação de exames em modo remoto”, afirma Lafaiete Cardoso.

O professor do Instituto de Química contou que “após a avaliação contínua, ficou decido pelas coordenações do Programa Nacional Olimpíadas de Química e da Olimpíada Nacional de Ciências, que alguns eventos seriam retomados ainda no decorrer do ano de 2020, pelo menos as primeiras etapas. Desta forma, foi possível a retomada dos projetos ainda em 2020 e a conclusão dos eventos programados em 2021”.

“Acreditamos que a pandemia antecipou, em muito, o uso das tecnologias que já estavam ao nosso alcance. Possivelmente, vamos incorporar, definitivamente, algumas das formas de avaliação que comprovaram eficiência e melhor relação custo/benefício. Com exames bem construídos, os resultados extraídos não apresentam distorções, são tão confiáveis quanto na costumeira forma presencial”, afirma o professor.

A professora Ivana Araújo, do Instituto de Biologia, compreende que “o afastamento presencial dos nossos alunos participantes da Obabio permitiu perceber a importância do contato humano no processo de adquirir novos conhecimentos, e a lição aprendida é que somos capazes de nos reinventar”.

Apesar das adaptações para a realização de forma remota, a professora Graça Martins, do Instituto de Física, informa que “o número de participantes, não só na Bahia, mas em todo o país, ficou muito aquém do habitual. Foi grande a evasão das escolas e de estudantes cadastrados para a Olimpíada Brasileira de Física (OBF)”, diz a docente.

Na Bahia, foram 48 escolas cadastradas em 2020, enquanto em 2019 houve a participação de 90 escolas, ou seja, queda de 47%. Quanto ao número de alunos, tivemos 410 inscritos, enquanto em 2019 foram 5.657, o que mostra uma queda de 93%, apesar dos esforços de coordenadores estaduais e rede de professores, segundo a organizadora de olimpíadas na área de Física.

A professora conclui que “a pandemia ressaltou a grande desigualdade social do nosso país. Como consequência dessa situação, a ‘solução’ apresentada com a utilização de tecnologias, mais uma vez, só atingiu estratos da sociedade que já são beneficiados em épocas ‘normais’”.  A participação dos estudantes das escolas públicas poderia ser mais efetiva se houvesse ocorrido mais investimentos dos poderes públicos no que concerne à disponibilização de equipamentos e acesso à internet nas escolas públicas.

Ferramenta de difusão do conhecimento científico

As olimpíadas do conhecimento – em biologia, física e química – configuram uma importante estratégia pedagógica, já que, através delas, alunos e professores têm oportunidade de trocar conhecimentos em um ambiente de cooperação. Além disso, a competição aproxima o aluno da Universidade e do ensino tecnológico, além de ajudar na identificação de jovens talentosos.

Além de estimular o ensino, o estudo e a pesquisa, as olimpíadas são uma ferramenta educacional que contribui para a popularização da ciência. O estudante que participa de uma olimpíada deseja ir além do que está sendo cobrado em sala de aula, e o objetivo é justamente despertar esse desejo, fornecendo o estímulo para que aprofunde seu conhecimento científico.

As olimpíadas são organizadas por professores de várias universidades brasileiras e, a cada ano, cresce o número de participantes nas diferentes modalidades. Os participantes mais destacados costumam seguir carreiras científicas, e os cursos universitários tendem a se beneficiar com a boa qualidade do alunado. Muitos deles prosseguem nos cursos de pós-graduação, ampliando o contingente de pesquisadores, e outros assumem carreira docente.

A sociedade é a principal beneficiada por projetos dessa natureza, que contribuem para a formação de capital humano de qualidade, algo necessário no cenário de constante inovação tecnológica em que o mundo atualmente se encontra.

Obabio no Instituto de Biologia da UFBA

OBABIOO Instituto de Biologia coordena atualmente a Olimpíada Baiana de Biologia (Obabio), que teve o seu início no ano de 2014. Sob a direção da professora Ivana Araújo, o projeto tem sido desenvolvido por uma equipe constituída por cerca de 100 pessoas, distribuídas entre coordenação, estagiários bolsistas, comissão científica, corretores de provas, fiscais e professores do ensino médio e tecnológico.

O projeto Olimpíada Baiana de Biologia também prevê a construção de um banco de dados e a análise dos resultados do desempenho dos estudantes do ensino médio em relação aos conteúdos das ciências biológicas. Visa também à melhoria do ensino de biologia nas escolas da rede pública de ensino do Estado da Bahia, a partir do desenvolvimento de ações de formação continuada de professores que atuam nessa disciplina.

Os resultados contribuem para a caracterização do perfil do ensino e aprendizagem das ciências biológicas no Estado, possibilitando a identificação de fragilidades nesse processo que orientem propostas de práticas pedagógicas que reformulem o ensino de Biologia.

No ano de 2020, a Olimpíada Brasileira de Biologia foi realizada, mas a Olimpíada Baiana de Biologia, infelizmente, não conseguiu se concretizar.  Em 2021, ocorreu a XVII edição da Olimpíada Brasileira de Biologia. A última fase foi realizada no dia 18 de junho. Devido à pandemia, foram adotados protocolos de segurança, e as provas foram aplicadas em caráter presencial ou virtual, a depender da situação epidemiológica local, e da fase da olimpíada a ser aplicada.

OBF e OBFEP no Instituto de Física da UFBA

OBF

Em 2020, apenas a OBF foi realizada.

Existem duas Olimpíadas Nacionais de Física, como projetos da Sociedade Brasileira de Física (SBF): a Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Pública (Obfep) e a Olimpíada Brasileira de Física (OBF). As duas têm coordenações nacionais e coordenações em cada estado – na Bahia, essas Coordenações funcionam no Instituto de Física (IF) da UFBA.

Da OBF participam alunos de ensino médio e dos 8º e 9º anos do ensino fundamental, de escolas particulares e públicas. A professora do IF Alanna Costa Dultra é a coordenadora estadual da OBF. A professora Graça Martins é a coordenadora estadual da Obfep e dela participam alunos do ensino médio e do 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas estaduais, federais e municipais.

Essa competição é realizada em duas fases: a 1ª, teórica e objetiva, é aplicada nas escolas. A 2ª fase, com provas discursivas teórica e experimental, é realizada nos centros de aplicação indicados pela coordenação estadual. “Como não houve atividades presenciais nas escolas públicas em todo o país, e um dos principais objetivos da Obfep é promover a inclusão social de alunos das escolas públicas, avaliamos que a aplicação de provas em ambiente virtual iria excluir grande parte desse público por não dispor dos meios (equipamento e internet) para essa atividade. Assim a Obfep, criada em 2010, e que atualmente envolve a cada edição cerca de 500 mil estudantes, pela primeira vez não foi realizada no país”, conta Graça.

As duas olimpíadas, além da aplicação de provas, objetivam atuar em frentes distintas envolvendo avaliações de níveis diferentes, trabalhos de extensão, ensino de física experimental e atividades paralelas. No que se refere a atividades de extensão, têm sido organizadas palestras, exposições interativas e oficinas.

“Tenho verificado, ao longo dos anos atuando na coordenação das olimpíadas de física na Bahia, que a participação tem contribuído para a definição de estudantes por carreiras da área de ciência e tecnologia”, constata a professora Graça, que coordenou da OBF de 2007 a 2014 e coordena Obfep desde 2010, sempre no nível estadual.

Em 2020, apenas a OBF foi realizada, mas, no segundo semestre deste ano, estão programadas a tanto a OBF quanto a Obfep. A Obfep conta com o retorno das aulas presenciais na rede pública, até o final do semestre. Já a OBF ocorrerá novamente em ambiente virtual de aprendizagem, inclusive a última fase, que tem parte experimental.

Olimpíadas do Programa Olimpíada Nacional de Química

OBESQ

As inscrições estão abertas até o dia 19 de setembro de 2021.

A Olimpíada Baiana de Química (Obaq), atividade promovida pela Associação Brasileira de Química (ABQ), é também uma atividade de extensão do Instituto de Química da UFBA.

Na última olimpíada presencial, em 2019, atuaram na execução do evento 580 colaboradores, incluindo bolsistas, comissão científica, coordenações municipais, corretores, fiscais, pessoal de apoio e professores. Nas edições virtuais de 2020 e 2021, a coordenação conta com 5 alunos bolsistas Permanecer e Projetos Especiais da Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA e mais 31 integrantes das equipes de coordenação e comissão científica.

Em 2020, foram realizadas as edições virtuais das olimpíadas Nacional de Ciências (ONC) 2020 -1ª fase e Brasileira de Química Júnior (OBQJr) 2020 – 1ª fase.  Foram realizados também exames virtuais das olimpíadas ONC, com a participação de 2 milhões e 150 mil alunos de todos os estados e do Distrito Federal, sendo cerca de 120 mil do Estado da Bahia; e os da OBQJr, com a participação de mais de 60 mil estudantes.

Em 2020, alguns certames foram realizados, como as olimpíadas Baiana de Química (OBAQ) 2020 – 1ª Fase; Brasileira de Química (OBQ) 2020 – 3ª Fase; Norte/Nordeste de Química (ONNeQ) 2020 e Olimpíada Brasileira de Química Júnior (OBQJr) 2020 – 2ª Fase. Também aconteceu a Olimpíada Internacional, organizada no Japão, e foram realizadas três etapas seletivas para a escolha dos estudantes brasileiros.

Estão ocorrendo neste ano edições virtuais das olimpíadas Baiana de Química (OBAQ) 2021, Brasileira de Química (OBQ) 2021, Norte/Nordeste de Química (ONNeQ) 2021, Brasileira de Química Júnior (OBQJr) 2021, Torneio Virtual de Química (TVQ) 2021 e Brasileira do Ensino Superior de Química (Obesq) 2021.

Todos esses eventos são gratuitos. No momento, estão abertas as inscrições para a OBQjr; para a OBQ, direcionada para estudantes do ensino médio; e para a Olimpíada do Ensino Superior de Química (OBESQ), para universitários. As inscrições podem ser feitas pelas coordenações dos cursos de ensino superior até 19 de setembro de 2021, mediante o preenchimento do formulário eletrônico disponível em http://www.obesq.org/ .

Necessidade de apoio

Grande parte do trabalho de uma olimpíada do conhecimento é realizada por meio do recurso humano, onde o esforço e dedicação de professores, alunos bolsistas e monitores permite que o evento se concretize a cada ano.

Cada uma dessas olimpíadas envolve diversas etapas burocráticas e custosas, e o apoio financeiro é essencial para sua continuidade. As provas são impressas, enviadas e realizadas em mais de 30 municípios do Estado da Bahia, o que encarece o processo. “Consideramos essencial a continuidade do modelo até então adotado, permitindo um alcance muito maior da Universidade, que se faz presente em diversas cidades do interior da Bahia por meio da Olimpíada”, afirma a professora Ivana Araújo.

Por isso, acredita Ivana, o poder público tem o dever de prover educação de qualidade para a população e a responsabilidade de garantir as condições necessárias, como equipamentos e internet, para que os alunos das escolas públicas desenvolvam plenamente as atividades.

Em termos de apoio, a Obfep, por exemplo, necessita de recursos para implementar todas as atividades que compõem o projeto: a manutenção de suas duas fases, incluindo a impressão e envio das provas para as escolas públicas na primeira e segunda fases; a elaboração de material para divulgação pela internet; a confecção e envio de protótipos de kits às escolas para realização da prova prática na segunda fase; a elaboração de textos destinados aos professores e alunos participantes; e a manutenção da premiação dos estudantes, professores e escolas.

Tudo isso é importante, pois a participação dos estudantes integra o processo de preparação para as Olimpíadas Internacionais, uma vez que as Olimpíadas Brasileiras de Física selecionam e preparam as equipes que participam de duas dessas competições: a Olimpíada Ibero-americana de Física (OIbF) com países da América Latina, Portugal e Espanha; e a International Physics Olympiad (IPHO) com cerca de 100 países de todo o mundo.

Desde que foram criadas, as olimpíadas contaram com apoio do CNPq, mas, a partir de 2016, houve interrupção do apoio por dois anos. Depois disso, a aprovação dos projetos tem se dado com verba bastante reduzida em relação a períodos anteriores.

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