Preservação ambiental é quatro vezes maior em áreas protegidas, revela estudo da UFBA

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Foto de Felix Mittermeier no Pexels

 

As chamadas áreas protegidas – locais delimitados para a preservação dos ecossistemas – foram fundamentais para evitar uma maior destruição da vegetação no país nos últimos anos. É o que conclui um estudo assinado por três pesquisadores da UFBA publicado na prestigiada revista científica Science Advances. Com o título “The role of protected areas in maintaining natural vegetation in Brazil” (O papel das áreas protegidas na manutenção da vegetação natural no Brasil), a pesquisa informa que a chance de destruição de áreas em unidades de conservação é quatro vezes menor do que em zonas sem proteção.

“Nós avaliamos a efetividade das áreas protegidas em evitar a destruição da vegetação nativa, com o uso de uma abordagem baseada no pareamento de áreas com características similares, comparando com as áreas sem proteção”, explica Ricardo Dobrovolski, professor do Instituto de Biologia da UFBA e um dos quatro autores do artigo. Os resultados impressionam: para cada quilômetro quadrado de vegetação natural perdido dentro de uma determinada unidade de conservação, em média, 4,54 km² teriam desaparecido se a área não fosse protegida.

O estudo avaliou 887 áreas protegidas – incluindo as unidades de conservação e terras indígenas – entre 1985 e 2018. “As áreas protegidas evitaram a destruição de 10.489 km², evitando a emissão de 9,03 teragramas de carbono/ano em média, desde 2010 (cada teragrama equivale a 1 milhão de toneladas). Nossos resultados evidenciam a importância das áreas protegidas no Brasil, particularmente em um momento em que sua manutenção e administração estão sob ameaça por diversas iniciativas”, afirma Daniel Gonçalves-Souza, primeiro autor do estudo e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Biomonitoramento da UFBA, sob orientação de Dobrovolski (leia mais abaixo).

A pesquisa informa também que as unidades de conservação mais eficazes são as maiores e as mais antigas, localizadas na região amazônica e em terras indígenas. E que além de as chances de destruição em regiões de unidades de conservação serem menores, ainda há um efeito colateral positivo em zonas próximas.

Segundo o paper, 85% das áreas de preservação são efetivas, 12% não tiveram diferença em relação aos seus controles e 13% foram mais destruídas do que áreas não protegidas. A Amazônia é o bioma onde a preservação nas áreas de proteção é maior, porém é também onde a efetividade da proteção mais oscila, comparativamente. Em termos de categoria de conservação, as terras indígenas se destacam, mas também reúnem a maior variação de efetividade entre elas. A pesquisa também informa que a unidade de conservação Boa Vista do Sertão do Promirim, no território indígena da Mata Atlântica, é a mais efetiva do país durante o período avaliado.

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Imagem do artigo: distribuição espacial da efetividade das áreas protegidas no país. As zonas azuis apontam menores chances de perda da vegetação natural

O artigo lembra o protagonismo do Brasil nos esforços à conservação ambiental, quando em 1992 sediou a Cúpula da Terra e assinou a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que incluía o compromisso de expandir a rede nacional de áreas protegidas, promessa efetivada em 2010, com a meta de proteger 17% das superfícies terrestres e 10% do reino marinho até 2020.

Apesar de o país ter alcançado a cobertura de unidades de conservação estipulada, a pesquisa observa que “as mudanças na liderança política têm prejudicado as políticas ambientais”. E que, portanto, se faz necessário avaliar os benefícios gerados pelas áreas protegidas, de modo a definir políticas adequadas em favor da conservação de recursos naturais.

Sobre os desdobramentos da pesquisa, Daniel Gonçalves-Souza conta que “a expectativa é de que o estudo ajude a reforçar a importância que as áreas protegidas vêm apresentado na história do Brasil e a necessidade de impedir retrocessos nas políticas ambientais. Além disso, a partir do reconhecimento do papel das comunidades indígenas na conservação dos ecossistemas mostrados no estudo, esperamos diminuir o ceticismo de alguns setores da sociedade em relação ao valor das terras ocupadas e protegidas por povos tradicionais”.

A pesquisa faz parte das atividades do Instituto Nacional de Ciência & Tecnologia (INCT) em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (EECBio), com sede da Universidade Federal de Goiás (UFG). O artigo é um desdobramento do mestrado de Daniel Gonçalves-Souza no Programa de Pós-Graduação em Ecologia: Teoria, Aplicação e Valores, do Instituto de Biologia (Ibio) da UFBA, sob orientação do professor Ricardo Dobrovolski. Assinam também o Bruno Vilela do Ibio/UFBA e Ben Phalan, chefe de conservação do Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, Paraná

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