O veleiro de pesquisa da fundação francesa Tara Océan esteve de passagem em Salvador durante a expedição que integra o programa internacional de pesquisa AtlantECO, do qual participam 36 instituições parceiras de 13 países, entre as quais a UFBA. Durante quase dois anos, o navio laboratório Tara percorrerá 70 mil quilômetros no Atlântico Sul, investigando o microbioma oceânico, suas interações com as mudanças climáticas e os impactos da poluição, especialmente do microplástico no mar.
Oceanógrafo e professor do Departamento de Física da Terra e do Meio Ambiente do Instituto de Física, Carlos Lentini coordena o grupo que representa a UFBA nesse projeto, atuando tanto na pesquisa dos poluentes quanto na análise atual e futura dos microbiomas. Como parte da programação que marcou a estada do veleiro na Bahia, o Instituto de Geociências realizou um debate sobre os desafios enfrentados pela Bahia de Todos os Santos na interação com o Oceano Atlântico, reunindo pesquisadores da Universidade e do programa AtlantECO.
“A parada em Salvador foi pelo fato de a UFBA ter envolvimento no programa, mas também para fazermos uma investigação científica na Baía de Todos os Santos, que é uma região muito importante do ponto de vista ecológico. A gente tem um corpo de água grande, e o oceano profundo e a região costeira estão muito próximos. Isso desperta o nosso interesse em analisar os impactos ambientais na baía”, explica o professor Lentini.
Controlar os poluentes que chegam até a Baía de Todos os Santos é considerado o maior desafio para os pesquisadores que participaram do seminário. Eles defendem que a solução passa pela conscientização da população. “Temos uma grande quantidade de compostos químicos que são jogados diretamente do mar. Além disso, os microplásticos, encontrados nas garrafas PET e em outros materiais, se quebram facilmente, tornando-se partículas menores que afetam a pesca e a maricultura. Por isso, para propor uma solução efetiva temos de fazer a conscientização por meio de ações com a participação da comunidade, como atividades de extensão universitária e transferência de conhecimento”, destaca Lentini, que acrescenta que a longo prazo poderemos ter impactos também em níveis de mudanças climáticas.
Para a diretora do Igeo, Olívia de Oliveira, que realizou a abertura do seminário, as pesquisas oceanográficas realizadas pela UFBA estão sendo fundamentais para compreendermos os impactos ambientais na baía. “A vinda do veleiro Tara contribuiu sobremaneira para a divulgação de algumas pesquisas vinculadas ao Igeo”, pontuou.
Um dos ecossistemas afetados pela existência de poluentes são os manguezais da Baía de Todos os Santos. “Esses manguezais são ecossistemas extremamente frágeis. É fundamental que a sociedade conheça este ecossistema vital e saiba que sem eles teremos consequências danosas ao desenvolvimento da cadeia alimentar”, afirmou o professor do Igeo Antônio Fernando de Souza Queiroz, na palestra “Manguezais da Baía de Todos os Santos – Busca pela Conservação e pelo Conhecimento da Inovação”, ministrada com o professor Ícaro Thiago Andrade Moreira, da Escola Politécnica.
Os professores Igor Cristino Silva Cruz, do Igeo, e Pedro Milet Meirelles, do Instituto de Biologia, apresentaram os temas “Estabilidade dos Recifes da Baía de Todos os Santos aos Impactos Crônicos e Agudos” e “Comunidades Microbianas num Mundo em Constante Mudança”, respectivamente. O seminário que contou também com a participação de professores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAr).
A última palestra, “Poluição marinha: riscos e desafios para um desenvolvimento sustentável” foi realizada pela professora Tatiane Combi, do Igeo. Ela explicou que são vários os agentes que causam danos ao ambiente marinho. “Uma mistura de compostos químicos, resíduos sólidos, ruído, luz. Tudo isso acontece ao mesmo tempo, e os organismos do ambiente recebem isso todo dia”. Combi afirma que os estudos desenvolvidos podem ajudar a identificar os riscos para manutenção da vida na Baía de Todos os Santos, já que “é preciso entender quais os efeitos, em longo prazo, desta problemática de poluição nos organismos menores, que são a base da cadeia alimentar”.
*colaborou Maísa Boa Morte, do Instituto de Geociências
FICHA TÉCNICA DO VÍDEO
PRODUÇÃO E REPORTAGEM
GISELE SANTANA
EDIÇÃO
LUCAS MOITINHO
IMAGENS
VICTOR MOTA
ACERVO DO PROJETO TARA
VINHETA
LINCOLN ARAMAIKO
LOGO
IARA PATINO
COORDENAÇÃO GERAL
MARCO QUEIROZ
RICARDO SANGIOVANNI