Amostras de cimento foram produzidas e analisadas no Laboratório de Cimentação, do Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente (CiEnAm/UFBA), e no Laboratório de Estruturas S. P. Timoshenko, da Escola Politécnica da UFBA. Em razão do percentual de argila proveniente do resíduo de bloco cerâmico, que compõe mais de 30% do cimento, o material tem um tom avermelhado – diferente do cinza habitual
Um estudo da UFBA premiado no 7º Encontro Nacional de Aproveitamento de Resíduos na Construção (Enarc) demonstra a viabilidade de utilizar resíduos de mármore, porcelanato, bloco cerâmico e fosfogesso, em substituição a argila calcinada, calcário e gipsita, matérias-primas naturais que são a base de cimentos ternários similares ao LC3 (Limestone Calcined Clay Cement, material alternativo de construção que diminui as emissões de CO2 e o consumo de energia). A autora é Ana Rita Damasceno Costa, discente de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPEC/UFBA), que explica que “usar esses resíduos (na composição do cimento), é uma inovação que contribui para evitar os impactos ambientais associados à exploração dos recursos naturais”. O estudo é assinado também por seu orientador, o professor da Escola Politécnica da UFBA Jardel P. Gonçalves
A utilização de resíduos da construção civil para produção de cimento também confere uma destinação adequada para esses materiais, que costumam ser descartados em grandes volumes pela indústria, geralmente em aterros sanitários, conforme explica Ana Rita. “Assim, agregamos valor aos materiais que passam a substituir os recursos naturais utilizados na composição do cimento”, destaca ela, que explica que o material tem tom avermelhado – diferente do cinza habitual – em razão do elevado percentual de argila proveniente do resíduo de bloco cerâmico, que compõe mais de 30% do cimento.
“Propriedades reológicas e hidratação de pastas de cimentos ternários contendo resíduo de mármore, porcelanato, bloco cerâmico e fosfogesso” é o título do artigo escolhido como o melhor trabalho científico apresentado no evento, que é assinado também pelo Jardel P. Gonçalves, que orientou a elaboração do texto, publicado também como capítulo de livro pela editora Atena.
“O trabalho desenvolvido pela discente Ana Rita possui um reconhecimento nacional e internacional e é mais um passo visando ao desenvolvimento de cimentos inovadores e ecoeficientes. Além disso, busca a diminuição do impacto ambiental causado pela indústria de cimento e uma contribuição para um mundo mais sustentável”, afirma o professor Jardel.
Estudo demonstra a viabilidade de utilizar resíduos de mármore, porcelanato, bloco cerâmico e fosfogesso, em substituição a matérias-primas naturais que são a base de cimentos ternários, evitando os impactos ambientais associados à exploração dos recursos naturais.
Amostras ternárias contendo cimento Portland e resíduos dos materiais pesquisados foram produzidas e analisadas no Laboratório de Cimentação do Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente (CiEnAm/UFBA) e no Laboratório de Estruturas S. P. Timoshenko da Escola Politécnica da UFBA. A iniciativa fez parte parte da pesquisa de mestrado de Ana Rita, desenvolvida em parceria com a Capes dentro do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD). Essa cooperação acadêmica contou com a colaboração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As análises observaram a influência da composição de cimentos ternários sobre as suas propriedades reológicas [referentes a deformações e escoamentos do material] e de hidratação, considerando as condições de trabalhabilidade do material e outros aspectos como tensão de escoamento e viscosidade plástica. Até então, não havia sido demonstrado em estudos o efeito de matérias-primas residuais como alternativa a fontes naturais em sistemas ternários.
Ana Rita Damasceno Costa, discente de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFBA, é autora do estudo premiado. Ela seguirá com as pesquisas em um intercâmbio na Universidade de Leeds, na Inglaterra
“O prêmio foi muito gratificante e representa o reconhecimento pelo trabalho realizado”, diz a autora do estudo, que resultou em artigos já publicados em importantes revistas científicas nacionais e internacionais, a como a ScienceDirect (veja aqui e aqui).
Costa segue com as suas pesquisas, agora no doutorado, realizado no PPEC da UFBA e coorientada pela professora Ana Paula Kirchheim (UFRGS). Recentemente, a pesquisadora foi aprovada na seleção do Capes-PrInt da UFBA – programa de internacionalização da pesquisa nas instituições universitárias -, assegurando bolsa de estudos para um período de intercâmbio na Universidade de Leeds, na Inglaterra, para trabalhar junto a um dos mais importantes grupos de estudos sobre a produção de cimento com a utilização de materiais alternativos, liderado pelos professores Susan Bernal e Leon Black.
“A cooperação acadêmica com a Universidade de Leeds visa a desenvolver e consolidar pesquisas em novos materiais para construção civil, colaborar com a formação acadêmica da discente e contribuir com a internacionalização da UFBA. A continuidade de novos estudos no doutorado pode promover impactos significativos no desenvolvimentos de novos cimentos de baixo impacto ambiental na construção civil no Brasil”, avalia Jardel Gonçalves.
O trabalho premiado foi desenvolvido com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia e bolsa de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Também foi patrocinado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O evento nacional sobre aproveitamento de resíduos na construção, realizado em novembro do ano passado, debateu ideias para desenvolver o setor da construção, considerando temas como a necessidade de preservação ambiental, redução de impactos e o reaproveitamento de resíduos. O evento foi promovido pelo Grupo de Trabalho de Resíduos, da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC), com a organização do Laboratório de Materiais e Tecnologia do Ambiente Construído (LAMTAC) do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura, da UFRGS.