Luta indígena, meio ambiente, artes: novos Eméritos e Honoris Causa traduzem valores caros à UFBA

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emeritosehonoriscausa2Montagem com imagens de arquivo pessoal (Cleise Mendes e Luiz R. Moraes), print de entrevista à FGV (Maria Rosário Carvalho) e Wilson Dias/Agência Brasil (José Celso Martinez)

As professoras Maria Rosário de Carvalho e Cleise Mendes e o professor Luiz Roberto Moraes recebem título de Professor Emérito. O ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa recebe o título de Doutor Honoris Causa pela UFBA.

O Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia (UFBA) aprovou a concessão do título de Professor Emérito às professoras Maria Rosário de Carvalho, da FFCH, e Cleise Mendes, da Escola de Teatro, e ao professor Roberto Santos Moraes, da Politécnica, e também o título de Doutor Honoris Causa ao dramaturgo paulista José Celso Martinez Correa. As indicações foram aprovadas por aclamação pelo Consuni, no dia 13 de junho, e a outorga será realizada em breve.

Ao homenagear as trajetórias dos três docentes e do artista fundador do Teatro Oficina de São Paulo, a UFBA reafirma seu compromisso com as causas associadas aos nomes de cada um deles: Maria Rosário tem destacada atuação na luta por direitos dos povos indígenas; Moraes tem atuação reconhecida na defesa do meio ambiente e do direito ao saneamento básico; enquanto Cleise Mendes e José Celso são nomes de peso no campo artístico, ambos com atuação marcante nas áreas do teatro e das letras.

 

Afinidade com a UFBA

“O contexto de guerras culturais que vivemos no Brasil faz-nos pensar na importância de uma das figuras individuais mais influentes em toda a história do teatro brasileiro”. Com essa reflexão começa a propositura de concessão do título de Doutor Honoris Causa a José Celso Martinez Correa, encaminhada pela Congregação da Escola de Teatro da UFBA. O documento destaca a importante afinidade que o criador do Teatro Oficina deixa de legado de renovação e contemporaneidade com todo “com todo o ideário modernista que orientou a criação da Escola de Teatro e de todo o conjunto das Escolas de Arte e instituições culturais da UFBA”, como argumenta o relator do parecer, professor Leonardo Figueiredo Costa, diretor da Faculdade de Comunicação da UFBA.

“Uma concessão – relata adiante o diretor – que legitima e renova os vínculos das instituições acadêmicas com a cultura, particularmente com a criação de um teatro que, além de um veículo de cultura, seja também o espaço de uma permanente busca de sentido social e presença relevante na construção de um mundo mais justo e humano”, diz Leonardo Costa relatando o parecer.

 

Foto Cleise Paris 2Fonte: Arquivo pessoal Professora Cleise Furtado Mendes

Professora Cleise Mendes: do Teatro às Letras com o mesmo olhar atento

Fogo vivo

A propositura da Congregação da Escola de Teatro da outorga do título de Professor Emérito à dramaturga, poetisa, contista, ensaísta, atriz, pesquisadora, professora e imortal da Academia de Letras da Bahia Cleise Furtado Mendes foi recebida com alegria “como uma demonstração de reconhecimento dos seus colegas docentes, técnico-administrativos, ex-alunos/as, alunos/as e estudiosos/as contemporâneos como figura altamente influente na história do teatro baiano”.

“Certamente, com sua participação criativa, vem contribuindo para que a nossa querida Escola de Teatro da UFBA continue formando e consolidando uma cultura teatral contemporânea e profissional em nossa região”, segundo parecer relatado pelo diretor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA, professor Luis Augusto Vasconcelos da Silva.

Justamente no ano em que esta Escola comemorava seus 65 anos, lembra o parecer, a partir de 2020, “passamos a viver com a pandemia da Covid-19, com consequências trágicas para trabalhadores e trabalhadoras, com perdas de seus trabalhos e ocupações; e, no caso do Brasil, sem políticas públicas adequadas e proteção social do Estado, como ocorreu com artistas e outros/as agentes da cultura”, diz o texto.

“Uma crise sanitária – continua o documento – que se amplifica em um contexto político de retrocessos e combates à democracia, às universidades públicas e a toda forma de pensamento crítico e libertário. Nesse cenário distópico, as artes e outras expressões da cultura, que potencialmente transformam sujeitos e podem mudar toda uma sociedade, são reiteradamente atacadas e tentam silenciá-las. Mas, apesar de tantos obstáculos, é tempo ainda de celebração dionisíaca, é tempo de resistência e criação. Apesar de tudo, o fogo do teatro continua vivo”, afirma o texto.

 

pho_maria_rosario_goncalves_de_carvalho_2018-02-27_foto_2Fonte: https://cpdoc.fgv.br/entrevistados/maria-rosario-goncalves

Professora Maria Rosário: militante intransigente da causa indígena

Luta dos povos indígenas

Com uma trajetória fortemente ligada à militância em favor dos povos indígenas, a professora Maria Rosário Gonçalves de Carvalho recebe o título de Professor Emérito da UFBA como detentora de “uma produção de conhecimento qualificado sobre diversos povos numa persistente luta pelo reconhecimento da identidade e dos direitos indígenas. Nesse sentido, sua pesquisa acadêmica não deixa de lado o engajamento e a militância”, segundo relata o parecer encaminhado pela Congregação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.

Rosário coordena o Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (Pineb), programa de pesquisas fundado em 1971, sob a liderança do antropólogo Pedro Agostinho, e radicado no Departamento de Antropologia e Etnologia e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFBA. Sua produção acumula 28 artigos acadêmicos, 13 livros, 46 capítulos de livros e 90 apresentações de trabalhos em eventos acadêmicos, que “se destacam não apenas pelo quantitativo, mas por terem impactado de forma significativa no entendimento de fenômenos sociais complexos como o fortalecimento de identidades étnicas indígenas, a profundidade histórica de conflitos sócio territoriais e a necessidade urgente de demarcação de TI (Terra Indígena) para povos indígenas do Nordeste do país. Uma produção que segue viva e atual”, destaca o relatório do professor parecerista Leonardo Costa.

Tanto é assim que na reunião do Consuni que aprovou a indicação da professora Maria Rosário, realizada na semana em que se chegou à confirmação dos assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, funcionário licenciado da Funai, na Amazônia, o Conselho aprovou moção de repúdio a essas mortes, exigindo rigorosas investigações por parte das autoridades responsáveis.

 

IMG_0730Fonte: Arquivo pessoal – Professor Luiz Roberto Santos Moraes

Professor Moraes: defesa rigorosa da qualidade do ambiente

Sanitarismo e meio ambiente

Já o professor Luiz Roberto Santos Moraes, após quarenta e dois anos de atuação como docente na UFBA, incluindo sua condição de Professor Participante Especial desde 2011, recebe a sua honraria como Professor Emérito após encerrar as suas atividades acadêmicas e de ver acatada a proposta encaminhada pela Escola Politécnica, através do Mestrado em Meio Ambiente, Água e Saneamento (MMAAS).

Segundo o relato do parecer feito pela diretora pro tempore do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTI/UFBA), Maiana Bispo de Matos, Luiz Roberto Santos Moraes, no exercício profissional e docente na área de Engenharia Sanitária e Ambiental, apresenta “exuberante formação curricular e expressivas produções nos campos do saneamento ambiental, saúde ambiental e política, gestão e planejamento de saneamento básico”.

Isso pode ser comprovado, ainda segundo a parecerista, pela produção acadêmica que abrange orientações na pós-graduação (52 de mestrado e 26 em curso de especialização), bem como em publicações (70 artigos em periódicos, 13 livros, 26 capítulos de livro, 404 trabalhos completos em anais de congressos, 151 resumos expandidos de trabalhos e 75 resumos simples em anais de eventos diversos, 15 textos em jornais, entre outras).

Em maio (2022) o professor Luiz Roberto Santos Moraes recebeu em sessão especial no Plenário Orlando Spínola, a Comenda 2 de Julho, a mais alta honraria concedida pela Legislativa Assembleia da Bahia.