UFBA tem cinco estudantes selecionados para as disputadas bolsas da Fulbright

Download PDF
Gleisson, Victória, Yanna e Tainã, no PDO - Pre departure orientation, em São Paulo (1)

Os bolsistas Gleisson Santos, Victoria Lane Ferreira Silva, Yanna Karolina Figueiredo de Souza e Tainã Moura Alcântara, no evento evento preparatório da Fulbright, Pre departure orientation (PDO), em São Paulo (SP).

A mobilidade internacional torna-se uma possibilidade acessível para estudantes da Universidade Federal da Bahia na medida em eles possam ter seu talento impulsionado, seja por ações de preparação de candidatos ao programa de internacionalização Capes PrInt UFBA, seja pela oferta de cursos de idiomas pelo Programa de Proficiência em Língua Estrangeira para Estudantes e Servidores da UFBA (Profici). Prova disso é a recente aprovação de cinco estudantes e egressos da UFBA por uma das mais conceituadas instituições de fomento a bolsas de estudo do mundo, a Comissão Fulbright.

Três deles foram selecionados para bolsa de ensino de português como língua estrangeira nos Estados Unidos: Gleisson Santos (The University of Iowa), Victoria Lane Ferreira Silva (University of Georgia) e Yanna Carolina Figueiredo de Souza (Le-Moyne Owen College). Uma foi selecionada para doutorado-sanduíche, a servidora do Museu de Arqueologia e Etnologia e doutoranda do programa de Ensino, Filosofia e História da Ciência Tainã Moura Alcântara (National Museum of Natural History Smithsonian). E a egressa do curso de produção cultural da Faculdade de Comunicação Lara Miranda foi selecionada como bolsista New Voices para um curso de roteirista iniciante.

De acordo com o professor Ronaldo Oliveira, que recentemente sucedeu o ex-pró-reitor de Pesquisa Olival Freire Jr. na coordenação do Capes-PrInt, “entre as principais ações do programa está a amplitude que atinge várias frentes e constrói uma imagem institucional de internacionalização da UFBA, o que a fundação FulBright acaba vendo e, evidentemente, beneficiando nossos estudantes”. Oliveira explica que “já que o oferecimento das bolsas-sanduíches pelo Capes-PrInt não atende a todos, os candidatos se estimulam a mostrar suas habilidades e buscar outras fontes, como é o caso do financiamento pela Fulbright”.

A professora Fernanda Mota, coordenadora do Profici considera as bolsas Fulbright uma conquista para a Universidade. “Os estudantes da UFBA que conquistaram a bolsa Fulbright têm grande mérito, porque trata-se de uma seleção de alta concorrência e que demanda diversos requisitos, entre os quais, a proficiência em língua inglesa”.

Nesse ponto, Mota destaca que as contribuições do Profici podem ser reunidas em três fatores: “o primeiro se refere à oferta ampla de vagas, que, não obstante os abalos orçamentários, não impediu que uma quantidade significativa de estudantes e servidores fossem contemplados”, subvertendo “uma noção outrora muito propagada de que o aprendizado de línguas estrangeiras se restringe a uma elite”. O segundo fator, ela afirma, “é o modo de funcionamento peculiar do Profici, que prima pelo ensino da língua para fins de comunicação, enfocando habilidades e competências que favorecem a preparação do aprendiz, não apenas para interações mais controladas, mas, também, para usos da língua em comunicações mais espontâneas e em diferentes gêneros, em especial, o acadêmico”.

O terceiro fator, acrescenta a docente, “é a possibilidade de aplicação de exames de proficiência, em especial, o TOEFL ITP, que foi iniciada no momento em que a UFBA se credenciou ao Programa Idiomas sem Fronteiras, inicialmente chamado Inglês sem Fronteiras. Desde o primeiro ano do credenciamento, o Profici sempre atuou nas aplicações e elas instauraram uma cultura de realização desses exames. Muitos estudantes fizeram o TOEFL ITP e tiveram a oportunidade de conhecer a prova numa época em que, inclusive, as aplicações eram gratuitas, sendo alguns deles estudantes contemplados com a bolsa Fulbright”.

Devido a essas ações viabilizadas pela Universidade, os bolsistas Gleisson Santos, Victoria Lane Ferreira Silva, Yanna Carolina Figueiredo de Souza e Tainã Moura Alcântara embarcaram para São Paulo, desde a última quarta-feira, dia 06 de julho para participar do Pre departure orientation (PDO), evento preparatório da Fulbright, antes de seguirem para os destinos onde realizarão seus estudos nos Estados Unidos (foto acima). A bolsista contemplada para a bolsa New Voices, Lara Miranda, não participa desse evento, pois sua bolsa de estudos é interna e os estudos ocorrem sem sair do Brasil. Conheça um pouco da trajetória dos contemplados:

 

Gleisson Santos

WhatsApp Image 2022-06-28 at 10.29.06 (1)Gleisson Santos concluiu sua graduação pelo Instituto de Letras da UFBA e atualmente é mestrando em Literatura e Cultura, na linha de Tradução Cultural e Intersemiótica, pelo PPGLitCult/UFBA. Ele irá lecionar português como língua estrangeira na Universidade de Iowa, nos EUA. Para ele, é “uma alegria imensa, vivida de forma compartilhada e isso tem tornado esta experiência ainda mais incrível”.

Gleisson conta que ele e a amiga Victória Lane,  decidiram fazer o processo seletivo para a Fulbright no ano passado, ambos torcendo e se ajudando mutuamente, até que tiveram juntos a aprovação.

“Fazer o processo seletivo para o programa FLTA da Fulbright era um planejamento antigo e eu estava apenas aguardando o momento em que estivesse apto para me inscrever. Eu não tenho dúvidas de que esta será uma experiência de um impacto imensurável tanto no âmbito pessoal quanto profissional”, disse ele.

O estudante lembra que “chegou na UFBA, vindo de trajetórias educacionais não formais, muito comprometidas politicamente com o enfrentamento a opressões e com a produção de modos outros, e plurais, de vida”. Para ele, é importante contar sua trajetória, pois foi “nesse contexto de universidade que tive a oportunidade de me formar e que chego aqui”.

Um desses espaços foi o Instituto Cultural Steve Biko. Na UFBA, ele integrou grupos e programas produzidos e coordenados majoritariamente por pessoas negras que estão dentro de circuitos de atuações políticas importantíssimas na universidade, como o grupo de pesquisa Corpus Dissidente, coordenado pela professora Lívia Natália; o Programa de Educação Tutorial – PET/Letras, coordenado, na época, pelo Prof. Dr. Ari Sacramento; o Profici, sob coordenação geral da Fernanda Mota e que teve como coordenador direto, na época, o Prof. Dr. Felipe Kupske; o grupo de Pesquisa Traduzindo no Atlântico Negro, coordenado pela professora Denise Carrascosa.

 

Lara Miranda

WhatsApp Image 2022-06-28 at 10.29.07Lara Miranda é egressa do curso de produção cultural da Faculdade de Comunicação, em que se formou em 2018. Ela foi contemplada com uma bolsa interna (modalidade em que não há necessidade de ir a países estrangeiros) para o curso New Voices para Roteiristas Estreantes da Fulbright Brasil, edição 2022.

As atividades da iniciativa New Voices são online, em que doze bolsistas trazem histórias com vozes próprias, pessoais, e essas histórias são desenvolvidas em formato de um filme de longa metragem ou uma série, durante quatro meses.

Lara Miranda é natural de Salvador e sempre teve o sonho de ser roteirista. “Quando vi o curso de produção cultural na época, como uma possibilidade de me encontrar no audiovisual, estava certa. O curso abriu muitas portas para que eu me aproximasse do meu sonho. Fiz muitas disciplinas ligadas ao audiovisual como optativas”, contou.

Ela conta que na Facom também conheceu “a Estação do Drama, uma iniciativa muito bacana da professora Carmen Jacob, que une a pesquisa acadêmica ao conhecimento de mercado do roteiro para séries, e é aberto para inscrição de estudantes e da comunidade externa”, do qual ela participou “com um projeto de série para animação, uma distopia chamada Cidade Cinza, e fui tutorada por Marcelo Lima, roteirista de animação baiano. Tenho interesse também pelo Live Action (filmes com atores reais), mas a Animação é o lugar onde me encontro de verdade”, relembrou.

Com o projeto Cidade Cinza, no TCC, ela abriu portas no mercado de trabalho, em 2019. Ela também participou da Sala de Roteiro da série de animação Galera da Praia, da Takapy Digital Art, e trabalhou como assistente de roteiro e roteirista júnior de dois episódios. A série ainda está em pós-produção.  Entretanto, ela entende que “encontrar espaços no mercado como roteirista (e como produtora cultural) não é um caminho fácil. Tive que enfrentar anos de desemprego, fora a pandemia. Nesse tempo tentei não ficar parada e colaborei com coletivos de cinema. Até que ingressei como redatora publicitária na Agência Morya, onde trabalho hoje. Tenho aprendido muito com a Publicidade. Minha escrita foi ficando mais assertiva e segura”.

“Conheci a Fulbright Brasil a partir do produtor e roteirista Daniel Fróes, com quem trabalhei na Galera da Praia. Marcelo Lima e meu chefe da agência de publicidade, Bruno Cartaxo, foram fundamentais. Foram eles quem escreveram as minhas cartas de recomendação, parte do material enviado para inscrição no curso New Voices para Roteiristas Estreantes da Fulbright Brasil. O curso foi criado por Clarissa Appelt e Daniel Dias. Eles fizeram mestrado fora do país a partir do programa de bolsas Masters in Fine Arts (MFA) da Fulbright e quando retornaram, tiveram a ideia de criar um curso para novas vozes brasileiras de roteiro”, contou.

O New Voices está em sua segunda edição e funciona em dois formatos: sala de estudos, onde na primeira etapa os bolsistas aprendem sobre estrutura de roteiro, e como sala de roteiristas para desenvolvimento de nossas histórias. Durante 4 meses os 12 bolsistas desenvolvem, cada um, suas histórias, tendo o acompanhamento dos responsáveis. Acontecem aulas com profissionais nacionais e norte-americanos. Para esta edição do New Voices, Lara desenvolve um projeto de longa-metragem de animação chamado O Mundo das Bolhas, uma aventura fantástica voltada para o público infantil e que envolve questões como bullying, mudanças e aceitação. O curso procura por vozes que tenham uma história para contar a partir de um ponto de vista próprio e fico feliz da minha história ter despertado uma atenção para o que eu posso dizer.

“Eu só tenho a agradecer ao New Voices. Fiz novos amigos, conheci pessoas que aprendi a admirar e descobri algo muito valioso pra mim: o meu processo de escrita. Aprendi a respeitar meus momentos, a ter disciplina e não fazer do momento de escrever um sofrimento. Porque muitas vezes é. Mas hoje vejo tudo de forma mais madura, como um processo rico”, diz ela. “Incentivo qualquer pessoa, tenha contato ou não com o Audiovisual, mas que querem contar histórias através dele, a se inscrever nas próximas edições do New Voices. Espero que aconteçam muitas. Nesta edição tivemos gente de todo país, com profissões totalmente diferentes, e isso agrega demais. Quero muito ver novos colegas da UFBA passarem por este processo transformador e único que eu tive a felicidade de experimentar esse ano.”

 

Tainã Moura

WhatsApp Image 2022-06-28 at 10.29.05A servidora técnico-administrativa do Museu de Arqueologia e Etnologia e doutoranda em Ensino, Filosofia e História da Ciência Tainã Moura Alcântara segue para o doutorado-sanduíche no National Museum of Natural History Smithsonian, localizado no National Mall, em Washington, D.C., nos Estados Unidos.

Para ela, “fazer parte de todo o processo de seleção da Fulbright, é por si só, uma montanha russa de sentimentos. Ao mesmo tempo que existe toda a ansiedade e cautela com os processos, existe uma recepcão incrível e resolução de problemas por parte da equipe da Fulbright”.

“Depois que foi confirmado que eu fui selecionada para o programa foi muito emocionante”, ela conta lembrando que “numa reunião online, era possível ver a felicidade que eu estava sentindo, no rosto de todos os meus colegas que também foram aprovados”. Para ela, o processo “é muito significativo”, já que estuda historia da arqueologia e, especificamente, o Pronapa (Programa Nacional de Pesquisas Arqueologicas), que também foi financiado pela Fulbright – “então, repetir esse financiamento é histórico”, comemorou.

“Meu programa de pós-graduação é um daqueles que incentiva a internacionalização, especialmente dentro do grupo de pesquisa que eu faço parte, o Lahcic – Laboratorio de Historia das Ciências”. Além disso, ela destaca que “seria impossível, ao menos, me inscrever na Fulbright sem a participação no Profici. (…) Já disse à professora Fernanda Mota que meu inglês é mérito desse programa, bem como minha aplicação e aprovação no TOEFL. Além disso, fez muitos cursos que permitiram ressignificar a língua inglesa na minha vida”, disse.

Tainã relembra o início de sua trajetória acadêmica quando entrou no curso de arqueologia, aos 16, no ano que a Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) foi fundada, 2004.  “Como sou natural da região de Senhor do Bonfim, a criação da primeira universidade federal interiorizada foi um acontecimento [que trouxe a] possibilidade de não precisar se deslocar para Salvador para fazer um curso de graduação. Dentre os cursos, escolhi e passei para arqueologia e preservação patrimonial, que é o primeiro curso de arqueologia numa universidade pública no Brasil. No meu TCC, estudei sobre os sítios históricos do Parque Nacional Serra da Capivara, lá no Piauí, e no mestrado, na UFPE, estudei sobre um sítio de arqueologia do corpo das mulheres que eram internas no século dezoito.

“Em 2014, eu vim para UFBA, pois passei no concurso para técnica-administrativa como arqueóloga do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da UFBA. Quando cheguei aqui, percebi que era preciso sistematizar as pesquisas arqueológicas e coleções de seiscentos mil objetos do museu. Então, eu percebi que se precisava contar essa história da arqueologia de como foram formadas essas coleções e a história desses artefatos. O que acabou me levando ao programa de pós-graduação de Ensino e Filosofia da Ciência, onde eu estou desenvolvendo a tese sobre arqueologia na Bahia e no Brasil, sobre a orientação do professor Olival Freire Jr.”, contou.

 

Victoria Lane

WhatsApp Image 2022-06-28 at 10.29.06“Orgulhosa e realizada”. É assim que Victória Lane, graduada em Letras Vernáculas e Língua Estrangeira, diz se sentir, pois irá lecionar português como língua estrangeira na Universidade da Georgia, na cidade de Athens.

“Entendo essa aprovação como o fruto da minha trajetória, mas também de outras que começaram muito antes da minha. A primeira vez que escutei sobre a Fulbright foi ouvindo o relato da professora do Instituto Cultural Steve Biko,  Raquel de Souza, uma mulher negra como eu e que foi bolsista da fundação. Comecei a ousar sonhar com a possibilidade de estudar fora a partir daí, mas ser bolsista Fulbright, especificamente no programa Foreign Language Teaching Assistant, foi um objetivo traçado nos primeiros semestres do curso de Letras, quando me reconheci professora.”

Victória conta que a UFBA contribuiu para a conquista da bolsa, pois foi durante a graduação que aprofundou os estudos sobre língua e ensino. Na UFBA, ela começou a carreira como professora de inglês em 2017, no curso de idiomas da Assufba e de português em 2018, pelo programa de Residência Pedagógica. Ela também integrou o grupo de pesquisa “Traduzindo no Atlântico Negro”. As experiências de iniciação à docência, assim como o encontro com a pesquisa na área de literatura e tradução, possibilitaram sua formação como professora e pesquisadora.

A primeira vez que ela escutou falarem sobre Fundação Fulbright foi no Instituto Cultural Steve Biko, quando foi aluna do pré-vestibular, em 2014, depois do curso de inglês e então, começou a acompanhar atividades de visitas de universidades estrangeiras à instituição. Mas sua trajetória com atividades transculturais começou em 2016 e depois, com o trabalho em empresas de programas de intercâmbio, desenvolveu a fluência na língua inglesa, quando teve a oportunidade de conversar sobre “as semelhanças e diferenças entre a minha experiência como uma mulher estudante negra de Salvador e a experiência de diversos estudantes estrangeiros que conheci. Pude ter acesso a uma variedade de perspectivas, apresentar a minha e também sair da minha bolha, revendo minha cidade, meu país através de um outro olhar”, conta.

“Durante toda a minha trajetória profissional e acadêmica, valorizei as relações criadas com professores, estudantes e colegas”, acrescentou, explicando que “são essas redes que irão ajudar a construir um bom currículo e também irão se tornar as referências dele”. E finalizou: “Acredito que meu foco em programas de iniciação à docência, durante minha graduação e meu trabalho com programas de intercâmbio transculturais se tornaram oportunidades de criar conexões e experiências preciosas na inscrição para um programa como o FLTA, que busca assistentes de ensino da Língua Portuguesa, mas também embaixadores culturais da diversidade brasileira.”

 

Yanna Karolina

WhatsApp Image 2022-06-28 at 10.29.05 (1)Yanna Karolina Figueiredo de Souza é formada em Letras Vernáculas e irá ensinar português como língua estrangeira na Universidade Le-Moyne Owen, em Memphis, Tennessee. Ela enche-se de gratidão a todas as pessoas que a ajudaram e enviaram cartas de recomendação, e considera essa conquista de todos que a apoiaram. Ela enxerga a bolsa como uma experiência riquíssima e muito importante para sua formação.

Yanna fez o curso de ensino de português como língua estrangeira no Instituto de Letras e foi numa matéria com a professora Edleise Mendes, que teve as primeiras informações sobre bolsas da Fundação Fulbright, através de um ex-bolsista que fez o mesmo programa e foi convidado para falar, numa aula, sobre a existência desse programa, a importância e possibilidades. Além disso, teve os cursos de idiomas oferecidos pelo Profici e outro intercâmbio pela Bolsa Santander, em 2017. Ela ressalta a importância da realização do teste do TOEFL ICP, oferecido gratuitamente pela UFBA por intermédio do Profici.  “Com a ajuda da professora Fernanda Mota, eu consegui fazer o exame, graças à UFBA, porque eu, provavelmente, não teria como fazer esse exame por fora”, considerou.

Ele cursou o mestrado no programa de pós-graduação em língua e cultura e também, a segunda graduação em Letras, concluindo tudo no ano de 2021. Ela entende que foi graças à UFBA que conseguiu a bolsa da Fundação Fulbright e também a Santander em 2017, quando começou a dedicar seus esforços no curso de espanhol, oferecido pelo Profici.

­­­­­