Restauro do Salão Nobre: expressão de sinergia, engenho e arte da comunidade universitária

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Um Salão Nobre totalmente restaurado, com sistemas de climatização e sonorização modernizados, cadeiras, assoalhos e mobiliário delicadamente recuperados e pintura renovada será entregue no dia 13 de agosto à comunidade universitária. Por detrás desse belo resultado está o esforço de um conjunto multidisciplinar de pesquisadores, profissionais e estudantes de diversos órgãos e unidades envolvidos no restauro, reunidos em uma sinergia que demonstra o talento, engenho e arte que marcam a comunidade.

“O Salão Nobre é central na vida da Universidade, e a sua importância extraordinária se deve ao fato de ser o lugar das formaturas, dos atos políticos, de grandes seminários, de abertura e realização de eventos científicos e de grandes palestras. É um dos centros fundamentais da UFBA, talvez o que tenha mais contato com a sociedade, lugar de visibilidade e expressão de nossa pesquisa, nosso ensino e sobretudo nossa extensão”, define o reitor João Carlos Salles.

O reitor enfatiza que o esforço de recuperação do Salão Nobre da Reitoria atende não somente a uma demanda de manutenção mas, sobretudo, ao anseio de que esse “centro fundamental da UFBA” tivesse a sua vitalidade restaurada, como “lugar de reflexão, de posicionamento institucional e de realização de sonhos e de grandes projetos da Universidade”, salienta o reitor. As equipes de restauração foram compostas por pessoas da Superintendência de Infraestrutura, da Faculdade de Arquitetura e das escolas de Belas Artes e de Música, em uma energia que criou “uma oportunidade de formação para estudantes na aplicação da nossa teoria”.

Recuperação das poltronas

Um grande desafio inicial do projeto de restauro foi entender a engenharia das poltronas do Salão Nobre. Apesar de serem industrializadas, o tempo de uso de aproximadamente 70 anos e a acentuada declividade da plateia, característica do salão, as moldaram e transformaram em unidades específicas, como explica a professora da Faculdade de Arquitetura Naia Alban, que coordenou essa parte do restauro.

“Os eixos de giro dos assentos estão harmonicamente inclinados e adaptados a cada situação, bem como sua fixação no piso que assume uma adaptação individualizada. Desta maneira, um exaustivo levantamento de localização de cada poltrona teve que ser realizado e perseguido. Não apenas a sua posição, mas também todas as suas partes”, detalha Alban. “No processo de remontagem, cada parte da poltrona – suportes, estofados e engrenagens – devidamente restaurada, retorna ao seu lugar de origem, recompondo harmonicamente sua integridade enquanto poltrona e enquanto conjunto de poltronas que compõem o espaço.”

Ar condicionado e sonorização

Um dos principais problemas do Salão Nobre era o sistema de ar condicionado, que há cerca de 20 anos não funcionava adequadamente. “Isso se tornou uma dificuldade para a realização de eventos. Conseguimos comprar um novo sistema de refrigeração, substituindo o não funcionava mais”, informa o reitor.

Outra limitação do Salão Nobre era a instalação de, que deixava cabos e conexões aparentes, com a mesa de som sobre o doutoral, conforme explica o professor da Escola de Música Guilherme Bertissolo, que coordenou o todo o trabalho de requalificação da sonorização do espaço.

“O novo projeto foi realizado com um sistema de 10 caixas ativas suspensas no salão, com todas as conexões embutidas, removendo cabos e caixas da passagem. A mesa de som foi movida para o fundo do salão, em um ponto mais favorável à operação. Foram instalados pontos de conexão com a mesa (multicabos) na entrada do doutoral e na própria mesa, de modo a facilitar as conexões para a realização dos eventos. O palco ainda contará com dois monitores de retorno independentes”, conclui.

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Síntese do projeto

O projeto intitulado “Restauração de bens móveis do Salão Nobre da Reitoria da UFBA: objeto de estudo para capacitação de estudantes em práticas de restauro visando a preservação da memória da instituição UFBA” tem como objetivo contribuir para a preservação de um espaço com importância histórica como o Palácio da Reitoria da UFBA, tratando, em particular, do seu Salão Nobre, através de intervenção que propõe manter a configuração do projeto original da época de sua criação no ano de 1952, segundo informa a professora da Escola de Belas Artes Maria Herminia Olivera Hernandez, coordenadora do projeto.

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Foto 3 – Arquivo do projeto

“Nesse viés, o desenvolvimento da proposta se pauta em uma abordagem que considera a metodologia de intervenção sobre bens do patrimônio cultural móvel e integrado à arquitetura, que tem como base as etapas de: Identificação e conhecimento do bem”, afirma a professora.

“As ações levam como premissa um fazer voltado ao objeto da intervenção, considerando suas especificidades e complexidade. Nesse sentido, a observância de princípios como a distinguibilidade, mínima intervenção, autenticidade e reversibilidade permeiam tudo o processo, em consonância com os valores simbólico, histórico e artístico inerentes a cada peça”, explica a coordenadora do projeto.

O conjunto de objetos tratados pela intervenção no Salão Nobre da Reitoria é composto por 456 poltronas localizadas na área da plateia do espaço, 82 poltronas localizadas no doutoral e 7 poltronas localizadas na tribuna. Também formam parte do conjunto a mesa da tribuna, 1 púlpito, 2 pilaretes, 12 arandelas, 13 corrimãos e os lambris nas paredes do ambiente.

A execução do restauro foi realizada pelo Studio Argolo, dirigido pelo professor aposentado da EBA Dirson Argolo, empresa especializada nesse tipo de trabalhos envolvendo os ofícios de restauradores, auxiliares de restauração, carpinteiros, estofadores, ferreiro e serralheiro – um labor diverso e especializado, em função da peculiaridade dos objetos do restauro, que remontam à época de sua fabricação. Toda a intervenção seguiu acompanhada por estudantes bolsistas de extensão e professoras das faculdades de Arquitetura e Belas Artes da UFBA.

“A participação dos estudantes se faz notória, em todas as etapas do processo, tanto nas questões de levantamento, organização, orientação como da execução dos serviços”, diz a coordenadora. “Esta experiência se configura em oportunidade ímpar, especialmente para os estudantes dos cursos envolvidos na participação em um caso real de resgate do patrimônio cultural de inestimável valor. Trata-se de um exemplo notável, onde a UFBA, em atenção ao cuidado do seu patrimônio, disponibiliza de forma responsável o processo de restauro à comunidade acadêmica”, conclui Hermínia.

Uma palavra final

A demanda por esta reforma no Salão Nobre da Reitoria da UFBA estava nos planos desde o início da atual gestão da UFBA. “A adversidade tornou isso uma tarefa difícil, que se arrastou ao longo do tempo. Mas nós conseguimos, apesar de todas as restrições, criar os recursos para que fosse entregue esse ‘centro dos centros’ da UFBA, informa ainda o reitor João Salles. “E vamos fazer isso com muito orgulho e com a confiança que as gestões futuras e todo o curso futuro da universidade possam se beneficiar com a atividade plena do Salão Nobre da Reitoria da UFBA.”