
Filipe Sampaio Reis da Silva, que venceu o Prêmio Capes 2022 na área de biotecnologia
A tese defendida por Filipe Sampaio Reis da Silva no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPG-Biotec) do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UFBA explora áreas relativamente novas do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico, como a biologia sintética, a inteligência artificial e a saúde digital, com resultados originais – como, por exemplo, a possibilidade de diagnosticar infecções virais (como o coronavírus) utilizando aparelhos de celular. O trabalho, intitulado “Implementação de princípios de biologia sintética para construção de sistemas genéticos avançados com aplicação biotecnológica”, concluído em 2021, acaba de vencer o 17º prêmio Capes de teses, edição 2022, na área de biotecnologia. O trabalho é um dos quatro da UFBA agraciados na atual edição da premiação (leia abaixo).
Desde criação do prêmio Capes de teses, a premiação nesta área não havia sido ainda outorgada a uma instituição situada nas regiões Norte e Nordeste do país. Considerando-se que a área de biotecnologia é extremamente competitiva, com diversos grupos de excelência no país, “nesse contexto, a premiação para um curso bastante jovem como o doutorado em biotecnologia da UFBA, criado somente em 2016, pode ser considerada uma conquista muito importante, que valida a qualidade do ensino nessa área oferecido pela Universidade”, ressalta o professor associado de biologia molecular e biologia sintética, no Departamento de Biotecnologia da UFBA, Luís Gustavo Carvalho Pacheco, que orientou o trabalho de Filipe, destacando a importância do ineditismo da premiação para a UFBA.
“Em particular, a biologia sintética – considera Pacheco – pode ser entendida como uma nova abordagem da engenharia genética, em que alguns conceitos e abordagens experimentais comumente utilizados nas engenharias são aplicados à pesquisa biotecnológica. A biologia sintética é atualmente reconhecida como um campo interdisciplinar de estudos com grande potencial de impactar a geração de inovação biotecnológica e a busca de soluções para grandes os desafios globais”, informa Pacheco.

Luís Gustavo Pacheco, professor do ICS e orientador da tese premiada
A tese
Filipe Sampaio contou ao Edgardigital que, na sua pesquisa, foram aplicados conceitos de biologia sintética para resolução de problemas relevantes na área de biotecnologia. Inicialmente, bactérias foram geneticamente modificadas utilizando um “circuito genético”, com o intuito de produzir moléculas de interesse biotecnológico. Esse “circuito genético” foi construído utilizando a mesma lógica aplicada a circuitos elétricos, no entanto, moléculas de DNA foram utilizadas para compor esse circuito específico.
“Na segunda parte do trabalho, uma proteína do sistema CRISPR (tecnologia de edição genômica) foi programada para detectar o material genético do novo Coronavírus (SARS-CoV-2), em colaboração com um grupo de pesquisa da Harvard Medical School, nos Estados Unidos”, explica o pesquisador premiado. Esse trabalho foi objeto de reportagem do Edgardigital em janeiro de 2021.
“Além disso, um aplicativo de celular foi desenvolvido para facilitar a leitura dos resultados desse teste. Esse trabalho mostrou como aplicativos de celular podem ser adaptados a testes baseados no reconhecimento de DNA, dispensando o uso de equipamentos dedicados de leitura de resultados. Os dois principais trabalhos que compõem a tese são provas de conceito de como diferentes campos da ciência podem ser combinados para resolver problemas atuais e importantes. Desdobramentos desses dois trabalhos poderão ser aplicados em tecnologias nacionais para a produção de biofármacos e no desenvolvimento de testes moleculares de diagnóstico”, conclui Sampaio. Veja a tese aqui.

Laboratório no ICS onde Filipe Sampaio desenvolveu a pesquisa que resultou na tese premiada.
Inteligência Artificial
Para que fosse possível essa integração da biologia sintética com as tecnologias digitais móveis, a pesquisa contou com a ajuda da inteligência artificial. “É interessante notar que esse trabalho desenvolvido pelo nosso grupo, em colaboração com os americanos, foi uma das primeiras demonstrações na literatura científica do potencial de se integrar a tecnologia de edição genômica conhecida como CRISPR com os dispositivos de telefonia móvel, a fim de gerar sistemas diagnósticos descentralizados, que não requerem uma estrutura laboratorial, como é o caso do tradicional teste de RT-PCR”, acrescenta Pacheco.
O Prêmio
A importância do prêmio na área de biotecnologia para a UFBA pode ser destacada também, e para além do ineditismo, pela relevância do papel central assumido pela biotecnologia durante a pandemia de Covid-19, por ser o campo científico responsável pelo rápido desenvolvimento de testes diagnósticos e vacinas.
“É muito interessante recebermos essa premiação nesse momento de protagonismo da área, pois isso destaca a qualidade do nosso trabalho realizado na Região Nordeste e contribui para a atração de investimentos na pesquisa biotecnológica desenvolvida na região. Sem dúvida, os sucessivos cortes nos orçamentos de pesquisa que temos enfrentado nos anos recentes poderão impactar negativamente o desenvolvimento da área no futuro”, lamenta o professor orientador.
Filipe Sampaio
O Dr. Filipe Sampaio foi estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPG-Biotec) do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia, com tese defendida em 2021. Em 2019 e 2020, Filipe realizou parte dos seus estudos de doutorado nos EUA, em um laboratório parceiro do Brigham and Women’s Hospital / Harvard Medical School. Os estudos desenvolvidos no Brasil receberam apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), da qual Filipe foi bolsista de doutorado. Para o período nos EUA, Filipe contou com o apoio do Programa CAPES-Print de Internacionalização.
Outros destaques
Além da tese defendida por Filipe Sampaio, na area de Biotecnologia, outra tese defendida em 2021 na Universidade Federal da Bahia venceu a 17ª edição do Prêmio Capes de tese. Na categoria saúde coletiva o prêmio ficou com Flávia Jôse Oliveira Alves, egressa do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, orientada por Maurício Barreto, com coorientação de Dandara de Oliveira Ramos.
E mais duas menções honrosas foram concedidas. Uma para Marcelo de Troi, do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, sob orientação de Leandro Colling e outra menção para Mayana Rocha Soares, do Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura, sob a orientação de Denise Carrascosa Franca. Nas próximas edições, o Edgardigital trará reportagens especiais sobre cada um desses trabalhos.
*Foto da capa: <a href=”https://www.freepik.com/free-photo/smartphone-screen-with-coronavirus-application_26679137.htm#query=mobile%20covid&position=35&from_view=search”>Image by rawpixel.com</a> on Freepik