O documentário “Sonia e Zilton: ciência, saúde e amor”, que aborda a história do casal Sonia Gumes Andrade e Zilton de Araújo Andrade – professores eméritos da UFBA e pesquisadores eméritos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – foi lançado no dia 31 de agosto, em evento virtual. A longeva trajetória dos pesquisadores é o fio condutor para contar a história do próprio Instituto Gonçalo Moniz (IGM), que teve Dr. Zilton como seu primeiro diretor, de 1980 a 1989. O casal integrou o IGM desde a fundação do então Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), momento em que a instituição se tornou uma unidade da Fiocruz. Foram mais de 4 décadas dedicadas ao trabalho na Fiocruz, contribuição fundamental para a consolidação do IGM. O filme tem direção de Ulla Macedo, servidora da Fiocruz e egressa do BI de Artes/Cinema da UFBA.
“Foi um momento muito especial estar aqui dividindo essas memórias dos dois, esse casal excepcional. E eu tenho certeza de que o filme está imortalizando essa trajetória”, declarou a diretora do IGM/Fiocruz-Bahia, Marilda Gonçalves. “Quando eu assisti a primeira vez o documentário, eu fiquei super emocionada, e eu me emocionei novamente”, disse após a exibição do filme ao público.
“Acho que esse documentário é o primeiro de vários. Eu espero que nós possamos retratar a história de vários pesquisadores que estão no nosso instituto e que têm trabalhado fortemente para manter essa produção tão expressiva dentro do estado da Bahia”, disse Marilda, que lembrou da presença constante do casal Andrade na coordenação do laboratório e nas sessões científicas do instituto, e destacou a parceria entre a Fiocruz e a UFBA para a preservação do seu acervo. “A ciência é o futuro. Fazer ciência é fazer uma sociedade vibrante, que realmente possa trazer bons frutos para todas as pessoas”, celebrou.
O pró-reitor de Pesquisa, Criação e Inovação da UFBA, Ronaldo Lopes, que representou o reitor Paulo Miguez na mesa de abertura do evento, afirmou que a parceria entre a Universidade e a Fiocruz “é desejada e deve ser continuada e estimulada”. “Esse é um daqueles grandes momentos em que a gente materializa essa relação maravilhosa que a UFBA e a Fiocruz têm, especialmente homenageando duas pessoas que criaram lá atrás o nosso do Programa de Pós-Graduação em Patologia Humana, que hoje é um programa de grande sucesso e tem atingido os seus objetivos de produção de conhecimento, de formação de recursos humanos do mais alto nível nesse segmento, uma iniciativa que a gente faz conjuntamente”. Ele também parabenizou a ação de preservação da memória institucional e ressaltou a importância de valorizar as contribuições para o avanço da ciência dos que vieram antes.
O professor Luis Fernando Adan, diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA), destacou a trajetória do casal de pesquisadores, “que se confunde com a história da própria Fiocruz”. “Ambos foram desbravadores de muitos caminhos na história da Medicina da Bahia, e que teve amplificações no Brasil e no mundo. São pesquisadores de reconhecimento nacional e internacional”. O professor destacou que, até os dias de hoje, existem apenas duas residências médicas em Patologia em toda região Nordeste do país, sendo uma delas referente ao programa criado pelo casal Andrade.
“É um belo documentário, que pelo seu nome já diz muito. Ciência, Saúde e Amor são palavras que a gente quer estar cada vez mais ouvindo”, afirmou o diretor da Casa Oswaldo Cruz, Marcos Pinheiro. Ele lembrou de outras iniciativas contempladas pelo mesmo edital de memória, a exemplo do filme sobre a comemoração dos 37 anos da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
Além da atuação profissional socialmente relevante, o documentário valoriza aspectos biográficos, através do destaque dado aos depoimentos dos filhos do casal: Marusia, Carlos e Ivan. Outras pessoas também ajudaram a contar esta história a partir de entrevistas gravadas especialmente para o filme. Foram utilizados, ainda, acervos pessoais (fotos e vídeos raros), bem como imagens de arquivos do IGM, da TVE, da TVUFBA e trechos de outros documentários e vídeos que compuseram a extensa pesquisa que embasou a construção do roteiro.
Representando os filhos do casal, Marusia Andrade agradeceu ao Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz-Bahia), “que permitiu que os meus pais se dedicassem ao que mais gostavam, até quando lhes foi possível trabalhar e desenvolver as suas pesquisas científicas”. Também agradeceu à UFBA, “casa profissional dos dois por toda uma vida dedicada ao ensino da Patologia, que tanto os encantavam, formando várias gerações de médicos que até hoje os têm como referência”, disse Marusia.
A diretora do filme, Ulla Macedo, egressa do BI de Artes/Cinema (UFBA), falou que a realização de um documentário sobre a trajetória do casal Andrade, inevitavelmente, contaria a história da Fiocruz Bahia. “Pude mergulhar na história deles nesse processo todo, que começou em maio de 2020”, referindo-se ao início das pesquisas do filme, cuja realização seguiu todos os protocolos sanitários recomendados pela OMS. “Foi muito apaixonante conhecê-los, eles são exemplos para a vida, exemplo de compromisso social, dedicação ao trabalho, exemplos de ética e amor”.
“O audiovisual é um formato que alcança muitas pessoas. Então essa história vai ser vista por muita gente, que vai descobrir agora essas figuras maravilhosas que a gente já conhece e admira há muitos anos”, disse Leninha Monteiro (COC-Fiocruz), coordenadora do edital que financiou o filme. Ela lembrou da hospitalidade do casal de pesquisadores que a recebeu no IGM, no início de sua carreira, aos 18 anos. “Tive o toque desse amor quando estive aí”, recordou. Em sua participação, também apontou a importância de contar a história do progresso e das instituições e dar visibilidade às pessoas que trabalham por esse progresso.
Compuseram a mesa de abertura do evento de lançamento do filme o pró-reitor de Pesquisa, Criação e Inovação da UFBA, Ronaldo Lopes, representando o reitor Paulo Miguez, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, a diretora do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz-Bahia), Marilda Gonçalves, o diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC-Fiocruz), Marcos José de Araújo Pinheiro, o diretor da Faculdade de Medicina da UFBA, Luis Adan, a coordenadora do edital que financiou o filme, Leninha Monteiro (COC-Fiocruz), os filhos do casal – Marusia Andrade, Carlinhos Andrade e Ivan Huol, além da diretora do filme, Ulla Macedo (IGM/Fiocruz Bahia). O evento foi mediado pelo chefe da Assessoria de Comunicação do IGM, Antonio Brotas.
A trajetória dedicada à saúde pública
Membros da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, de Patologia, de Parasitologia, entre outras, os pesquisadores publicaram inúmeros trabalhos científicos ao longo da carreira. Dra. Sonia e Dr. Zilton integram a lista dos/as 100 mil cientistas mais influentes do mundo [veja a lista]. O reconhecimento de ambos se revela na quantidade de prêmios, títulos e homenagens que receberam ao longo da vida. Recentemente, em 2021, Dra. Sonia foi agraciada com a medalha de Mérito Científico Carlos Chagas, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Entre os títulos de Dr. Zilton estão a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (1995) e a Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2005), recebidos das mãos de presidentes brasileiros.
O documentário é uma realização do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia), através do edital interno de memória institucional da Casa de Oswaldo Cruz. A instituição vem trabalhando em parceria com a UFBA para a preservação do acervo físico do casal, que inclui material biológico de pesquisa, documento de projetos, objetos tridimensionais (como microscópios antigos), fotografias, teses de alunos, cartas, etc. O documentário é mais uma ação que reforça a importância desta iniciativa.
O casal Andrade e a UFBA
Dra. Sonia e Dr. Zilton se formaram na Faculdade de Medicina da Bahia. São inúmeras as suas contribuições para a UFBA. Em 1957, Dr. Zilton recebeu convite do Reitor Edgard Santos para chefiar a área de anatomia patológica do Hupes. Foi também no Hospital Universitário que Dra. Sonia se aproximou da patologia, realizando, incialmente, atividades discentes no Hospital das Clínicas como estagiária (1950-1951) e interna por concurso (1952-1953) na 2ª Cadeira de Clínica Médica.
Dr. Zilton lecionou entre 1953 e 1984 na Faculdade de Medicina da UFBA, onde alcançou os títulos de Professor Titular e de Professor Emérito. Já Dra. Sonia atuou como professora adjunta na UFBA entre 1967 e 1995, onde também recebeu o título de Emérita. Além de estruturarem a Residência Médica em Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina, criaram, em 1973, o Programa de Pós-Graduação em Patologia Humana (parceria UFBA-Fiocruz Bahia), que começou com mestrado, ampliando para o doutorado na década seguinte. Dra. Sonia foi a primeira coordenadora deste programa e atuou nesta função por 20 anos.
Dr. Zilton Andrade faleceu em 2020, aos 96 anos.