O professor Hans Peter Beck, da Universidade de Berna, na Suíça, realizou palestra no dia 07 de fevereiro, na Escola Politécnica da UFBA, com o tema “Ciência Fundamental para a Sociedade”. As contribuições da pesquisa fundamental – aquela que não tem aplicação imediata – mas que está na origem de grandes avanços tecnológicos, foram destacadas por ele, que é também pesquisador na Organização Europeia para Pesquisas Nucleares – Cern, instituição que opera o mais potente acelerador de partículas do mundo, o Large Hadron Collider (LHC).
A iniciativa faz parte do projeto de cooperação internacional Brasil-Suíça, que tem coordenação local na UFBA do professor Eduardo Simas, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE), e coordenação nacional do prof. Augusto Cerqueira, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJV).
Hans Beck abordou o fazer científico como uma forma de adquirir conhecimento baseado na experimentação, mensuração, análises, revisão e sólida argumentação. “É a ferramenta que temos para compreender o mundo. Baseados em conhecimento sólido, os seres humanos podem concordar entre si, construir consensos e tomar ações coerentes”, destacou.
Em sua participação, ele apontou os conhecimentos nas áreas da física, química e biologia como base para toda compreensão sobre a vida no universo. Falou sobre a dinâmica de um mundo que está em transformação permanente e o papel das ciências básicas, movidas pela curiosidade humana, para o desenvolvimento da ciência como um todo, nas diversas áreas.
A pesquisa fundamental, explicou Beck, não tem aplicação prática para solucionar os problemas atuais da sociedade e nem o propósito de gerar lucros. Geralmente também não é facilmente compreendida pelo público. No entanto, segundo ponderou, esse tipo de pesquisa já realizou muito e mudou o mundo de muitas maneiras desde o surgimento da humanidade.
Deu como exemplo os novos avanços da medicina com terapias inovadoras, exames e diagnóstico para combater doenças como o câncer. Também falou sobre a evolução do conhecimento científico na área da física de partículas e o trabalho da Cern, instituição que opera o acelerador de partículas LHC, localizado na Suíça.
O Brasil participa da Cern por meio de acordos internacionais estabelecidos desde a década de 1990. Em 2021, a entidade concedeu ao país o status de membro associado. De acordo com Beck, a física de partículas e os aceleradores têm contribuído com a medicina e a indústria, seja na produção de energia limpa, no design de novos medicamentos, na classificação de achados arqueológicos, entre tantas outras aplicações.
“A ciência que não se ocupa de questões práticas têm a capacidade de observações surpreendentes, como se provou ao longo da história”, afirmou o palestrante, que, na parte final de sua apresentação, apontou entre os principais desafios no horizonte até o ano de 2050 questões relacionadas às mudanças climáticas, sustentabilidade, segurança alimentar e acesso das populações à água potável.
Outro desafio, como pontuou, é o negacionismo científico. “Isso acontece. Alguns ignoram e outros são simplesmente contra”. “Nós precisamos tomar importantes decisões no sentido de sobreviver como sociedade”, acrescentou ele, ressaltando que a ciência não pode resolver esses desafios sozinha, sendo necessária a decisão política e a parceria com a indústria.
Por fim, afirmou a necessidade de compartilhar o conhecimento científico e os seus avanços com toda a sociedade. Para tanto, apontou a educação e informação do público como um pilar estratégico. Conforme compartilhou em seu relato, fazer ciência não é algo fácil, pelo contrário, costuma ser um caminho difícil, mas também inspirador, divertido e que vale todo esforço.
O ano 2022/23 foi definido o Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável pela Organização das Nações Unidas e Unesco.