Mesa do Congresso UFBA 2023 discutiu caminhos para uma universidade democrática e popular

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*Ciro Garcez, monitor do Congresso UFBA 2023

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A mesa “Universidade Democrática e Popular: perspectivas futuras” debateu o papel da universidade pública brasileira no século XXI durante a realização do Congresso UFBA 2023, abrangendo pontos como interiorização, internacionalização e planejamento estratégico das universidades. A atividade contou com as participações das professoras Miriam Reis, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab); Elaine Calderari, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU); e do professor Álamo Pimentel, da Universidade Federal do sudoeste da Bahia (UFSB). A mediação foi da vice-presidente da do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub), Clarisse Paradis.

A discussão sobre o perfil uma universidade popular e democrática se propôs a definir como seria uma instituição universitária no século XXI, referenciada pelo tempo presente, mas sem deixar de olhar as experiências passadas vividas pelo ensino superior. Como deveria ser uma universidade pública formadora de cidadania? Uma instituição desenvolvimentista em uma região antes esquecida pelo poder público? Como desenvolver intelectualmente, economicamente e socialmente uma região, sem a transformar em um corpo estranho na comunidade? Quem é e como é o intelectual formado pelas universidades brasileiras no século XXI? Essas foram algumas perguntas propostas, respondidas ou deixadas como provocação durante a realização da debate.

A professora Miriam Reis falou a partir do seu “território”, a Unilab, Campus Malês, localizada em São Francisco do Conde. A instituição, como ela define, “é espaço que dilui fronteiras”, e foi com essa finalidade que foi criada e pensada: como ponto estratégico de um Brasil que se lançava como protagonista no mundo, com destaque na América Latina.

O atraso do país em abraçar sua identidade latina e negra no mundo teve uma tentativa de reparo a partir da criação dessa universidade e de uma relação de troca e protagonismo nas questões regionais, que vão além das econômicas. Como destaca Reis, “essa foi uma relação de troca, visando também o desenvolvimento dos países parceiros do projeto”. Esses projetos, porém, foram freados, segundo a professora, com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e posterior desmonte de políticas públicas para as universidades federais, da pesquisa e da ciência. Hoje, as dificuldades são muitas, mas, mesmo assim, a Unilab ainda resiste, com 1.247 estudantes, dos quais 40% são quilombolas e 346 estudantes africanos, já tendo formado 800 alunos.

A professora e pró-reitora de assistência estudantil da UFU, Elaine Calderari, falou sobre o impacto que uma universidade provoca em seu entorno como ambiente estratégico para o desenvolvimento, propondo uma instituição que seja menos grandiosa e distante das pessoas, mas que esteja mais integrada com a comunidade e a cidade. Por isso, garantir também novas universidades no interior é essencial, como foi feito no Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, iniciado no primeiro governo Lula), segundo lembrou a palestrante.

O professor Álamo Pimentel, docente da UFSB, abordou a necessidade de se assumir “um compromisso afetivo com o momento de retomada que estamos vivendo”, não só no aspecto político, lembrando os quatro anos do governo de desmonte do presidente Bolsonaro, mas considerando também o hiato enfrentado por conta da pandemia da Covid-19. Como destacou o professor: “aprendemos diante e com a tragédia”.

Pimentel falou ainda sobre a necessidade de o ensino sair das “torres de marfim” e de se juntar à população, atuando de “olhos abertos” e atentos para o seu entorno e repensando o papel do intelectual na contemporaneidade. “Para que serve se debruçar no tempo e jogar as soluções tão distantes do povo e dos pobres? Essa é a traição do intelectual”, segundo o professor. Só assim, reitera, ”daremos a relevância necessária para essa instituição, nos novos tempos que virão”.