Ato de Abertura e discurso do reitor Paulo Miguez: assista e leia na íntegra

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Muitas pessoas costumam perguntar: qual é o tema do Congresso da UFBA deste ano? Nossa resposta, em oito Congressos, tem sido sempre a mesma: o Congresso da UFBA não define um tema. O tema de nosso Congresso é a Universidade e seu tempo, e o resultado dessa diretriz, desde 2016, tem sido sempre uma ampla e plural síntese crítica do momento presente, com reflexões que apontam os caminhos e o papel que nossa Universidade deve desempenhar agora e no futuro.

Mas, se definir um tema não é desejável, é possível sim garantir que o Congresso deste ano – que retorna ao formato presencial, após termos sobrevivido aos piores dias da pandemia e alcançado um patamar de relativa segurança sanitária – este Congresso terá uma marca: a marca da afirmação de que – felizmente, e a custa de muita luta – deixamos para trás tempos sombrios, talvez os mais sombrios da história recente de nosso país. Tempos de ataque à vida, à diversidade, às artes, à cultura, que impuseram à sociedade brasileira um retrocesso sem precedentes. Tempos de ataque sobretudo à educação, sentidos tão duramente neste templo de produção de conhecimento chamado Universidade Pública.

Se os ataques foram duros e de diversa ordem – bombardeio ideológico, penúria orçamentária, vilipêndio aos mais elementares códigos de civilidade da vida republicana – , podemos nos orgulhar de dizer que nossa resistência se fez à altura. E se cada membro de nossa comunidade resistiu individualmente em seu dia-a-dia – fazendo sua melhor pesquisa, dando sua melhor aula, desempenhando seu melhor trabalho técnico-administrativo, perseguindo o melhor aprendizado, apesar de todas as adversidades – essa resistência se fez também de modo coletivo, em momentos-chave de reunião e demonstração da potência e da relevância social de nossa comunidade e do trabalho que ela realiza. Momentos que nossa comunidade organizou e se acostumou a chamar de Congresso da UFBA.

O Congresso da UFBA é uma joia. Uma joia que construímos juntos, no reitorado do professor João Carlos Salles, meu amigo e irmão João Carlos, quando decidimos reunir, em um único e magnífico evento, um conjunto já existente de atividades regulares de demonstração de nossos resultados de pesquisa, ensino e extensão. Pois bem: pegamos esse tripé, basilar do conceito de Universidade, e associamos a ele um trinômio que o amplifica e traduz o caráter de universidade plena que singulariza a UFBA: ciência, cultura e arte.

É, portanto, com imensa alegria que realizaremos este oitavo Congresso da UFBA novamente na modalidade presencial, após três edições realizadas na modalidade online. E quando digo modalidade presencial, é porque mesmo quando precisamos depender de redes digitais, telas, câmeras e microfones de computador, não deixamos de estar presentes. Sim: se a UFBA resistiu a tantos ataques nos últimos anos, foi certamente porque nunca deixou de estar presente. Nossa comunidade trabalhou e estudou de casa, mas em momento algum se esqueceu de que a vida de uma universidade se faz verdadeiramente no encontro, nas salas, auditórios e nos laboratórios, mas também nos cafés, nos espetáculos, nas caminhadas, nas conversas, nos abraços.

Estávamos com saudade desse grande encontro. Retomamos, no ano passado, a vida acadêmica presencial, mas ainda estava faltando alguma coisa, e essa coisa era essa grande festa do conhecimento chamada Congresso da UFBA. Um Congresso que volta muito maior do que as últimas edições presenciais, talvez fermentado pelo crescimento exponencial de propostas de mesas, intervenções artísticas e vídeo-posteres proporcionado pelas três edições online. Traduzindo em números, basta dizer que, em média, os congressos presenciais antes da pandemia costumavam ter cerca de 300 mesas.  No formato online, o evento passou a ter à volta de 1.000 mesas. E quando pensávamos que, retornando à modalidade presencial, tornaríamos a ter as mesmas 300 mesas… lá estavam, ao final do prazo de inscrições, mais de 900 propostas de debates, mais de 200 intervenções artísticas, perto de 2.200 video-pôsteres. Vocês não podem imaginar o esforço de nossa organização para alocar tudo isso em quase uma centena de salas e auditórios, para receber os mais de 16 mil inscritos nesta que será a maior edição presencial do Congresso desde 2016!

Esses números evidenciam que o Congresso da UFBA tem vida própria, e essa vida atravessa modalidades. O Congresso online só foi o grande sucesso que foi porque espelhava a intensidade de nossa vida presencial e se alimentava de nossa luta e nosso entusiasmo, temperados por uma enorme saudade. Que bom vai poder ser falar de novo olhando no olho de quem escuta. Que bom vai poder ser fazer perguntas de viva voz e dar um abraço ao final de um debate. Que bom vai ser tomar um café, comprar um livro, receber uma massagem, fazer tai chi chuan, assistir a uma toré… enfim, dar risada, todo mundo junto, na Praça das Artes.

Que bom fazer tudo isso e não precisar ter que explicar a ninguém o óbvio, essa tarefa inglória que o professor João Carlos Salles teve nos últimos quatro anos: nossa balbúrdia, oh céus, jamais será barbárie! Nossa balbúrdia é justamente o contrário disso: é nossa bandeira de Universidade plena, nossa afirmação de um projeto de educação e cultura verdadeiramente plural e insubmisso a pressões, políticas ou de mercado. Nossa balbúrdia é sobretudo signo de nossa esperança de tempos melhores, de tempos solares, sem que isso nos entorpeça a consciência de que seguiremos ainda enfrentando adversidades – porque, afinal de contas não há retomada a pleno vapor possível do dia para a noite após o estrago que nos foi desgraçadamente imposto nos últimos anos.

Mas quem soube resistir certamente estará pronto para avançar, no tempo e no rumo certos. E vejam, 2023 é um ano muito especial para todos nós: 200 anos de independência da Bahia! E aqui estamos, e aqui seguiremos, ao som da corneta de Lopes, o corneteiro de Pirajá: sempre em frente!

Está aberto o Congresso da Universidade Federal da Bahia!

obrigado