*Rute Souza Cruz, monitora do Congresso UFBA 2023
A formação de pesquisadores e cientistas está no tripé das funções da Universidade, mas porque ainda há tão poucas mulheres cientistas até hoje? Encaminhar possíveis respostas a essa pergunta foi o objetivo da mesa “Iniquidades de Gênero e Raça nas Ciências”, realizada no Congresso UFBA 2023. A mesa teve a presença das pesquisadoras Iole Macedo Vanin, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA; Suani Pinho, do Instituto de Física da UFBA; Estela Aquino, do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA; e Lindamir Casagrande, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
A mesa apresentou uma investigação em curso com recorte de gênero e raça da ciência brasileira entre os anos de 2009 e 2020, que envolve, na sua execução, diversos programas de pós-graduação do Nordeste, Sudeste e Sul.
O debate foi aberto com observações a respeito da presença das mulheres nas universidades. A participação das mulheres, de forma geral, é crescente. Elas são maioria do corpo discente na graduação e pós- graduação no país. No entanto, em alguns cursos considerados “mais masculinos”, como engenharia, as mulheres respondem por menos de 30% das matrículas.
Segundo dados apresentados pelas debatedoras, a presença feminina está aumentando nos mestrados e doutorados no país – mulheres recebem 53% das bolsas da pós-graduação, segundo dados da Capes 2020. Porém, apesar desse avanço, a participação delas como pesquisadoras senior ainda está defasada, devido aos anos de repreensão e dificuldade de acesso a postos de trabalho e fontes de financiamento.
As debatedoras entendem que tanto instituições de ensino e de pesquisa, quanto as academias de ciências, que reúnem pesquisadoras e pesquisadores senior das mais diversas áreas do conhecimento no país, são importantes locais para pesquisar diversas e relevantes questões relativas às iniquidades de gênero e raça se aprofundam nos ambientes de produção científica.
Outro relevante ponto da mesa foi a presença de mulheres na Academia Brasileira de Ciências (ABC), que divulga e fomenta a produção científica no país. A entidade foi fundada em 1916, mas, atualmente, apenas 14% dos membros são mulheres.
A mesa trouxe dados de 2018, com a divisão por áreas de conhecimento. Entre as engenharias, apenas 2,5% dos acadêmicos eram do sexo feminino. Na área de física, só 6%; nas ciências biológicas, 13%. Uma hipótese levantada para justificar esses números é a dificuldade de ascensão a posições de destaque que historicamente as mulheres sofrem.
Pandemia de Covid-19 e seu impacto
A professora Estela Aquino trouxe dados da sua pesquisa “Iniquidade de Gênero e Raça nas Ciências: A Pandemia de Covid-19” para a roda de discussão. Naquele período, com toda a família em casa, o trabalho dobrou, e a maior parte das tarefas relacionadas a saúde e cuidado, por questões culturais e estruturais, acabaram ficando sob a responsabilidade das mulheres. Em um momento de trabalho e estudo em casa, em um cenário de desgaste físico e mental, a produção científica das mulheres caiu. As razões podem ser muitas, e as questões ainda estão em construção na pesquisa. A publicação Times Higher Education já produziu um artigo a respeito, que tem uma tradução no site da USP.
A história das cientistas
Encerrando a mesa, Lindamir Casagrande apresentou uma reflexão sobre a importância do resgate da história das mulheres nas ciências e das contribuições delas para o meio. Casagrande desenvolve um projeto de criação de livros infanto-juvenis contando a história de grandes mulheres. As obras contam a vida de grandes nomes da antiguidade, como Hipátia de Alexandria, até mulheres com impacto mais recente, como Enedina Marques.