Mulheres na ciência foi tema em destaque no Pint of Science 2023

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Em 2020, a biomédica e cientista baiana Jaqueline Góes recebeu o Prêmio Capes de melhor tese da área de Medicina II, com a tese intitulada “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e reemergentes”

Em 2020, a biomédica e cientista baiana Jaqueline Góes recebeu o Prêmio Capes de melhor tese da área de Medicina II, com a tese intitulada “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e reemergentes”

Um brinde à ciência. O lema do festival Pint of Science 2023 abriu os trabalhos da segunda noite de programação do evento em Salvador, que teve a presença biomédica e cientista baiana Jaqueline Góes, doutora pela UFBA e responsável pelo sequenciamento no coronavírus circulante na América Latina – apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Também participaram do encontro que aconteceu no dia 23 de junho, no bar ArtMalte, no Rio Vermelho, a professora do Programa de Pós-graduação em Patologia Humana da UFBA/Fiocruz Bahia, Natália Carvalho, que falou sobre o projeto “Por mais meninas baianas na ciência”; e o professor Matheus Jesus, doutorando da Fiocruz Bahia, que abordou como tema “Você não é uma farsa: como tenho aprendido a lidar com a síndrome de impostor”.

Professora e pesquisadora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e da Universidade de São Paulo (USP), Jaqueline Góes compartilhou com o público um pouco da sua trajetória acadêmica e destacou a importância das oportunidades que teve para o seu crescimento pessoal e profissional. Falou de sua formação desde o ensino médio, cursado no Centro Federal de Ensino Tecnológico da Bahia (antigo Cefet, atual Instituto Federal de Educação Tecnológica – Ifba), onde tomou contato com o pensamento crítico sobre a realidade sócio-política do Brasil.

O despertar do interesse pela biomedicina aconteceu dentro do transporte público, quando ela estava a caminho das aulas do cursinho, diante de uma vendedora que oferecia um produto que prometia ser a cura para diabetes. Os seus estudos para o vestibular, no entanto, apontavam em outro sentido e a jovem estudante decidiu que era preciso investigar melhor o assunto.

Ela enfatizou as contribuições fundamentais da sua iniciação científica no curso de graduação realizado na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, e apontou a importância das oportunidades que teve para realizar pesquisas e se desenvolver ao longo da carreira.  Na Fiocruz, concluiu o mestrado em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa, no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz. Também atuou no Laboratório Móvel do Projeto ZIBRA 2016 durante a epidemia de Zika no país. Em sua fala, a pesquisadora ressaltou a necessidade de associar a ciência com responsabilidade social.

Jaqueline Góes é doutora formada pela Universidade Federal da Bahia, pelo Programa de Patologia Humana e Experimental, parceria entre a UFBA e a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Bahia (PgPAT/UFBA-Fiocruz). Realizou estágio de doutoramento com bolsa sanduíche na Universidade de Birmingham, Reino Unido, desenvolvendo e aprimorando protocolos de sequenciamento de genomas completos. Fez pós-doutorado no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo – Universidade de São Paulo (IMT-USP), no âmbito do CADDE – Brazil-UK Centre for Arbovirus Discovery, Diagnosis, Genomics and Epidemiology.

“Foi resultado de toda uma trajetória”, afirmou Jaqueline sobre o trabalho inédito que coordenou para o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, realizado pelo Instituto Adolfo Lutz, em conjunto com a USP e Universidade de Oxford. O trabalho foi realizado por ela durante o carnaval de Salvador, conforme conta a pesquisadora. Com humildade, Jaqueline disse que a tarefa poderia ter sido feita por algum outro colega cientista integrante da equipe. Mas naquele período específico era ela quem estava disponível para realizar a tarefa – que lhe renderia merecida notoriedade.

O reconhecimento do seu trabalho tem vindo por meio de premiações como a Comenda Maria Quitéria concedida pela Câmara dos Vereadores de Salvador e a Comenda Zilda Arns que recebeu do Conselho Nacional de Saúde. Em 2020, recebeu o Prêmio Capes de melhor tese da área de Medicina II, com a tese intitulada “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e reemergentes”. Foi nomeada uma das 20 mulheres de sucesso de 2022 no Brasil pela revista Forbes, e até mesmo virou boneca Barbie produzida pela empresa de brinquedos Mattel como forma de homenagem às mulheres cientistas e por sua representatividade para as crianças, sobretudo as negras.

Jaqueline Góes, contudo, observa que ainda são poucas as mulheres na ciência, e menos ainda as mulheres negras, e ressaltou a importância de oportunidades para mudar essa realidade. “Esse incentivo pode vir de várias formas”, avalia. Ela mesma decidiu agir e anunciou durante o evento, em primeira mão, a criação do Instituto Jaqueline Góes – Ciência entre Nós, que foi idealizado com o objetivo de potencializar a carreira de mulheres negras e indígenas através de uma série de iniciativas propostas para transformar essa realidade.

Para concluir, ela citou Angela Davis, filósofa e ativista norte-americana, que diz que: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

A programação do Pint of Science 2023 em Salvador também abordou como temas Sustentabilidade e Inovação em Saúde. No dia 22/05, as apresentações foram: “Quer Picanha? Vc sabe o que está por trás da carne de qualidade?” – com o professor Ronaldo Oliveira / UFBA; “Viscoso mas gostoso: insetos comestíveis, do preconceito à informação”, com a professora Carolina Souza / UFBA; e “Ciência e decisão”, com a pesquisadora Nelzair Vianna / Fiocruz Bahia.

No último dia do evento, 24/05, as apresentações foram sobre “O médico, o cientista e o médico cientista: como estes profissionais mudam o mundo?”, com Bruno Bezerril / Fiocruz Bahia; “Quem ainda tem Chagas?”, com Fred Luciano / Fiocruz Bahia; “Inovação na pesquisa com câncer: A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, com Clarissa Gurgel / Fiocruz / UFBA; e “O que será da inteligência humana na era da inteligência artificial”, com Daniel Almeida Filho / CIMATEC.

Sobre o evento

Com o lema “Um Brinde à Ciência”, o festival foi criado em 2012, na Inglaterra, e chegou ao Brasil em 2015, reunindo pesquisadores e especialistas em bares e restaurantes para discutir temas relevantes em diversas áreas do conhecimento. Além disso, o evento visa inspirar jovens estudantes e promover o interesse pela ciência e tecnologia, contribuindo para o desenvolvimento da educação científica no país. O festival acontece junto com outros 25 países, totalizando quase 400 cidades em todo o mundo.

A organização do evento em Salvador conta com a coordenação geral de Denis Soares, diretor da Faculdade de Farmácia da UFBA, e coordenação adjunta de Valéria Borges, da equipe da vice-diretoria de Ensino da Fiocruz Bahia. A comissão local é composta por Jailson Alves (APUB/UFBA), Samuel Pita (FacFAR-UFBA), Daniel Almeida Filho (CIMATEC), Rafael Short (PPGFAR-UFBA) e Marcio Santos (Fiocruz Bahia), como programador visual.

A equipe de apoio é composta por discentes do Programa de Pós-Graduação em Farmácia (PPGFAR-UFBA) e da Fiocruz, incluindo discentes do Programa de Pós-Graduação em Patologia Humana (PGPAT – UFBA/ Fiocruz Bahia), Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI), Programa Institucional de Iniciação Científica (PROIIC) e Programa de Formação Técnica em Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (Profortec) da Fiocruz Bahia.

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