Curso de férias em parceria com Universidade de Michigan promove integração entre estudantes baianos e norte-americanos

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*Beatriz Castelluccio, bolsista da Coordenação de Comunicação da UFBA

SC-4Administração pública e políticas públicas no contexto brasileiro, raça e política no Brasil, história econômica da Bahia e economia criativa foram três dos cinco módulos abordados no Summer Coursen 2023, ação resultante de um acordo entre a Universidade Federal da Bahia e a Michigan State University (MSU). Em sua segunda edição, o curso de férias, parte do projeto de internacionalização da Escola de Administração da UFBA, aconteceu no período de 20 de junho a 28 de julho. Com carga horária de 103 horas dividida em aulas teóricas e práticas, ministradas na língua inglesa por professores da UFBA, 31 estudantes das duas universidades estiveram juntos, estudando, trocando experiências e aprendendo sobre temas relacionados ao contexto político e socioeconômico do Brasil.

O Summer Course 2023 teve a coordenação das professoras da Escola de Administração Luciana Rodas Vera e Luíza Teixeira e teve a presença de 16 estudantes norte-americanos – de cursos nas áreas de relações internacionais, relações sociais e políticas, culturas comparadas e teoria política da MSU – e 15 estudantes da UFBA – de cursos como direito, administração, medicina veterinária e ciências sociais – , selecionados por meio de edital público e proficientes em inglês.

Um intercâmbio normalmente se caracteriza pela troca cultural em um país diferente do de origem. Mas pode-se dizer que os estudantes brasileiros também realizaram um intercâmbio, na medida em que, mesmo sem sair do Brasil, puderam não só ter contato com outra cultura e outra língua dentro da Universidade, como também estudar e refletir sobre a cultura baiana, sob uma nova perspectiva diferente da habitual.

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“É uma experiência que a gente está tendo com gente nativa: estudar inglês, explicar o português e não somente isso: uma coisa que percebi é que acabei pensando mais sobre as coisas do Brasil quando tenho que explicar para eles. Uma das americanas falou que ‘música de São João é muito animada’, e  eu comecei a explicar que era festiva porque celebrava a colheita, a chuva chegando no sertão, a terra crescendo, ficando verde, e a música tem que acompanhar isso. Foi me dando [esses] insights e, poxa, eu nunca pensei sobre isso”, contou o estudante de administração Lucas Sampaio.

Segundo a coordenadora do projeto, o curso tem um modelo lúdico e interativo, com o objetivo de engajar os estudantes no projeto. Nesse sentido, além das aulas teóricas com professores de diversas unidades da UFBA, a turma visitou espaços importantes para a política baiana, pontos turísticos e instituições que se relacionavam de alguma forma com os temas abordados em sala de aula, como o Colégio Estadual Nelson Mandela, o bairro do Nordeste de Amaralina, o HUB Salvador, entre outros.

“Nós escolhemos a dedo esses locais, porque eles têm uma conexão com os temas que estamos discutindo. Na primeira semana, as professoras Luíza Teixeira e Morgana Krieger abordaram  administração pública e políticas públicas no Brasil. Então, nada faria mais sentido do que ir à Câmara de Vereadores de Salvador para uma visita guiada. Essas visitas permitem linkar o que é visto em sala com a cidade pulsante, para eles verem, na prática, como é isso na realidade baiana”, explicou a coordenadora Luciana Rodas Vera.

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A carga horária do Summer Course pode ser aproveitada pelos estudantes brasileiros e americanos, como disciplina optativa ofertada pela Escola de Administração, na qual se exige a apresentação de um artigo produzido em grupo por estudantes das duas nacionalidades sobre algum tema relacionado aos módulos estudados. Para além da creditação, a experiência é importante também para a formação pessoal.

A estudante de direito Débora Monteiro conta que a imersão de férias tem sido uma vivência agregadora. “Essa experiência está me trazendo confiança, principalmente na hora de falar inglês. Expor o inglês e conversar sempre foi uma barreira. As aulas em inglês sobre questões sociais estão me deixando mais confiante para pensar em uma carreira internacional. Ao mesmo tempo, estou conseguindo fazer amigos, em inglês. Então, estou desenvolvendo os dois lados: o acadêmico e o social, e tudo isso em uma língua estrangeira dentro da UFBA”.

Outra parte da experiência é o choque de realidades, relatado tanto pelos discentes como pelos professores que dão suporte à experiência. Para a estudante de Michigan Natalie Harmon, os brasileiros são muito calorosos, diferente dos norte-americanos, segundo ela: “Os brasileiros gostam de abraçar, de tocar. Nos Estados Unidos é diferente, não se faz muito isso. É muito lindo, mas não estou acostumada”.

SC-9Desde a comida, passando pela forma de se cumprimentar e até em pequenos gestos, é possível observar as diferenças. Além disso, o Summer Course promove em uma mudança de percepção para os estudantes, decorrente do conhecimento e da experiência das várias realidades brasileiras. “Acredito que essas temáticas estudadas são extremamente importantes para os estadunidenses. O Brasil, muitas vezes, é tido como uma caricatura: é o carnaval, é a praia, é o samba, que são também partes da nossa cultura, mas nós somos muito mais que isso”, defende a estudante Débora Monteiro.

Para Aditi Vaz, estudante de ciências sociais e bolsista no projeto, a quebra dos preconceitos, a partir das aulas teóricas somadas às vivências práticas, também é uma proposta do programa. “Nós fizemos uma visita ao Nordeste de Amaralina, à Central Única de Favelas (Cufa). Por vezes, os estudantes americanos podem ficar com medo, por conta dos preconceitos em relação às favelas aqui do Brasil, mas é possível perceber que os brasileiros também são carregados de preconceitos. Esse programa propõe que a gente saia da sala de aula e vá conhecer a verdadeira Salvador e, com isso, que a gente vá abrindo a nossa mente. O Summer Course não é só um programa de intercâmbio que traz estudantes para termos esse convívio. Nós acabamos conhecendo a nossa própria cidade”.

Para a professora Luísa Teixeira, fica o desejo de continuar e expandir o projeto. “É bastante proveitoso para os dois lados. Nós temos vontade de ampliar, dentro das nossas possibilidades, para mais estudantes. É muito legal essas trocas que a gente vai tendo com os alunos. Isso é gratificante. Dá uma satisfação muito grande ver o desenvolvimento dos alunos brasileiros, que a gente acompanha desde o primeiro dia e, no último, dá para ver a diferença”.

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