Teses da UFBA em geografia e mecatrônica conquistam prêmios em eventos específicos das áreas

Download PDF

Os programas de Pós-graduação em Geografia (Posgeo) e em Mecatrônica (PPGM) da UFBA formaram os doutores Fábia Antunes Zaloti e Marcelo Mendonça dos Santos, cujos trabalhos de pesquisa de doutorado – concluídos no ano de 2022 – conquistaram premiações em eventos específicos de cada área realizados recentemente. Conheça os pesquisadores e os trabalhos premiados:

Prêmio “Ailton Luchiari” em Geotecnologia

Foto_Fabia1

Fábia Antunes Zaloti, conquistou o Prêmio “Ailton Luchiari” da Geotecnologia.

Com a tese “Via metropolitana: dinâmica da cobertura e uso da terra após implantação em Lauro de Freitas, Camaçari e Salvador, Bahia, Brasil”, a egressa do Programa de Pós-Graduação em Geografia (POSGEO/UFBA), Fábia Antunes Zaloti, conquistou o Prêmio “Ailton Luchiari” da Geotecnologia.

A premiação, que está em sua primeira edição, é voltada às melhores dissertações e teses defendidas no período de 2021 e 2022, foi conferida pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia, durante o XV Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, realizado de 09 a 13 de outubro, na Universidade do Tocantins (UFT), em Palmas (TO).

Orientada pela professora Dária Maria Cordeiro Cardoso, a pesquisa destacou o processo de ocupação ao longo da via Metropolitana, situada entre Lauro de Freitas, Camaçari e Salvador – Bahia, informou a docente. “A temática da minha tese teve origem na minha dissertação de mestrado, que também foi realizada em Lauro de Freitas. Com a implantação da Via Metropolitana, percebi que poderia desenvolver outra pesquisa que destacasse as transformações na paisagem decorrentes dessa via”, contou Fábia.

A pesquisadora explica que “o objeto de estudo compreendeu as transformações na paisagem, após a implantação da Via Metropolitana em Lauro de Freitas, Salvador e Camaçari e para analisar essas transformações, utilizou diversas técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto”. A orientadora considera o trabalho “de caráter inovador, pois consistiu no uso do sensoriamento remoto a partir de imagens de satélite Landsat e Santinel 2, para medir a temperatura da superfície terrestre, comparar com a cobertura e uso da terra e investigar as áreas de preservação permanente e métricas da paisagem”.

Fábia salienta que “os resultados obtidos com a tese podem contribuir para demonstrar a importância de uma investigação integrada entre cobertura e uso da terra, plano diretor, legislação e atuação das esferas municipal e estadual na elaboração de um planejamento territorial e ambiental integrado. Essa abordagem é fundamental para a prevenção de riscos para a população”. Os resultados referentes a 11 anos indicam as relações e a intensidade das modificações na cobertura e uso da terra e na estimativa de temperatura de superfície, e as mudanças na APA Joanes/Ipiranga e nas APP de nascentes e cursos d’água e na paisagem, informa a professora Daria.

Inicialmente, Fábia Zaloti ficou “surpresa com o prêmio, pois não esperava ganhar”. No entanto, ela admitiu que sentiu “uma grande felicidade ao ver minha tese ser escolhida, pois foi um reconhecimento ao trabalho de pesquisa que desenvolvi”. Além da publicação de artigos, a recém-doutora está aplicando a mesma metodologia utilizada na tese em outra área de estudo, no município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, onde realiza pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Metodologia da pesquisa

Cartaz Fabia

Cartaz de anúncio da premiação do trabalho.

A pesquisa para a tese de doutorado teve uma duração de 4 anos e por meio da análise da cobertura e uso da terra, foi possível fazer um diagnóstico das mudanças ao longo de um período de 11 anos. Além disso, foram avaliadas as métricas da paisagem, que permitiram quantificar a fragmentação e a redução das classes de formação florestal e pioneira na paisagem. Também foram investigadas as relações e a intensidade das modificações na cobertura e uso da terra e a estimativa da temperatura de superfície, a partir da Via Metropolitana.

Também foram analisadas as consequências dessas mudanças na Área de Proteção Ambiental Joanes/Ipitanga, nas áreas de preservação permanente de nascentes e cursos d’água e na paisagem como um todo. Daí, foram examinadas a influência do planejamento territorial e ambiental nas alterações na cobertura e uso da terra, levando em consideração o zoneamento ecológico econômico estadual, o zoneamento da APA e os Planos Diretores de Desenvolvimento Municipal/Urbano dos municípios de Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari, no estado da Bahia.

Fábia lembra que os maiores desafios enfrentados,  foi “em primeiro lugar, a pandemia, que impossibilitou a realização dos trabalhos de campo para a verificação da temperatura da superfície e as entrevistas com pessoas impactadas pela implantação da via”.  Em julho de 2021, ela teve Covid-19 e sofreu com diversas sequelas. “Foi um período de grandes superações, mas felizmente isso não afetou o desenvolvimento e a conclusão da minha tese”, comemorou.

Prêmio em Inteligência Artificial (IA)

foto-premiacao_Marcelo e prof luciano-cbic(1)

O professor Luciano de Oliveira e o recém-doutor, Marcelo dos Santos, na premiação.

O egresso do doutorado do Programa de Pós-graduação em Mecatrônica (PPGM) do Instituto de Computação da UFBA, o doutor Marcelo Mendonça dos Santos teve a tese “Introducing a self-supervised, superfeature-based network for video object segmentation” premiada no XVI Congresso Brasileiro de Inteligência Computacional (CBIC), realizado em Salvador (BA), de 8 a 11 de outubro de 2023.

Sob orientação do professor Luciano Rebouças de Oliveira, o trabalho é focado “na área de Visão Computacional, em que Marcelo trabalhava desde o mestrado com o mesmo orientador, que é coordenador do Ivision Lab (Intelligent Vision Research Lab), na UFBA. No mestrado, desenvolveu um projeto chamado GeT-IN (Gerenciamento de Tráfego Inteligente), com financiamento FAPESB, que envolvia análise de imagens de videomonitoramento do trânsito em Salvador.  “Esse projeto foi de grande aprendizado, gerou publicações de artigos e patente. Foi aí que começou o meu interesse por análise de vídeo utilizando técnicas de machine learning’”, contou Marcelo.

O professor Luciano considerou “o prêmio de extrema importância para a conclusão de um trabalho de altíssimo nível. A tese de doutorado de Marcelo foi avaliada por uma banca composta, principalmente, por bolsistas de produtividade do CNPq, os quais reconheceram a excelência da tese e seu significativo contributo para o campo da visão computacional e reconhecimento de padrões em imagens”. Marcelo completou, informando que “a pesquisa envolveu tecnologias com grande potencial transformador, como é o caso da IA, um constructo coletivo, que já está afetando a sociedade de incontáveis maneiras”.

Diante da premiação, ele comemora com “sentimento de satisfação e sensação de dever cumprido. Um projeto de doutorado sempre envolve muitas escolhas – a começar pelo tema – que nos geram insegurança. No início, não sabemos se essas decisões foram acertadas, então ter o reconhecimento ao final é bem gratificante”, ponderou.  Além disso, o orientador acrescentou que, “tivemos um artigo aceito na quinta maior conferência do mundo na área. Esse prêmio, portanto, coroa um trabalho de excelência, validado por uma banca extremamente rigorosa, em uma das melhores conferências nacionais de Inteligência Computacional”.

Neste mês de novembro, o recém-doutor Marcelo, juntamente com o professor Luciano, apresentam um artigo sobre o tema central da tese no evento British Machine Vision Conference (BMVC), que acontecerá em Aberdeen, no Reino Unido – a conferência é, atualmente, uma das mais importantes na área de Visão Computacional. No artigo, estão indicados trabalhos futuros que eles pretendem desenvolver em seguida, como por exemplo, “tornar o nosso método ainda mais independente de supervisão humana, durante o treinamento, o que é chamado de zero-shot learning”, informou.

Metodologia do trabalho

marcelo_m

O doutor em mecatrônica que foi premiado, Marcelo dos Santos

“As áreas relacionadas que estão na fronteira tecnológica e em constante transformação, como a Inteligência Artificial, exigem uma abordagem bastante empírica, pois não há muitas referências sobre as novas técnicas que estão surgindo e costumam ser superadas muito rapidamente. Então, foi preciso ser ágil, buscar conciliar o estudo dos artigos recentes das melhores conferências e experimentos, nos códigos que são disponibilizados”, informou o recém-doutor.

“No caso específico do meu projeto, eu adentrei uma área que é uma tendência bastante nova no campo de IA, que é o aprendizado auto-supervisionado. Em linhas gerais, significa fazer a máquina aprender uma tarefa a partir dos próprios dados brutos, sem requerer esforço humano para trabalhar esses dados – o que no jargão a gente chama de ‘anotar os dados’ ”, explicou.

Entre os desafios, a escassez de recursos materiais, pois “trabalhar com machine learning requer bastante poder computacional para desenvolver algoritmos capazes de serem treinados com uma quantidade significativamente menor de dados do que normalmente se utiliza em outros trabalhos”.

O doutor premiado lembrou que “uma parte do doutorado foi feita na Universidade de Coimbra – Portugal e voltou com um direcionamento para o projeto em 2019. Imediatamente, começou a pandemia de coronavírus”. No ano de 2020, Marcelo perdeu o irmão, avó e tio para a Covid, e o pai e outro tio ficaram em estado grave. A situação o tirou do prumo, e ele só conseguiu voltar a focar no projeto em 2021, finalizando o trabalho em 2022. “Então, descontando esse intervalo, foram três anos dedicados à pesquisa”, contabilizou o autor da tese premiada.