Com trajetória dedicada à medicina e à ciência, Raymundo Paraná é homenageado pela ALB

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Imagem: Reprodução/TV ALBA

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O professor da Faculdade de Medicina da UFBA e médico hepatologista Raymundo Paraná Filho tem a sua trajetória acadêmica e profissional ligada à UFBA. Professor da Faculdade de Medicina da Bahia, ajudou a formar gerações de médicos e pesquisadores e liderou a estruturação do serviço de hepatologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/UFBA), que coordenou os primeiros ensaios clínicos com drogas experimentais para tratamento das hepatites virais e foi pioneiro na testagem e publicações epidemiológicas sobre o tema no Brasil.

Pelos serviços prestados à medicina, ao ensino e à ciência, Raymundo Paraná recebeu a Comenda 2 de Julho, mais elevada honraria da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em sessão especial realizada no dia 19/10. Durante a homenagem, ele lembrou da sua trajetória dedicada aos estudos das doenças do fígado, defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS) e uma medicina que seja capaz de levar melhores serviços de saúde à população.

“O significado dessa homenagem é o reconhecimento de todo grupo de pessoas que tive o prazer de ajudar na formação e aglutinar em torno da defesa do SUS e de uma medicina mais humanizada. Isso pra mim foi o mais importante”, avalia o professor, em conversa com o Edgardigital.

Ele lembra que o Hupes foi o primeiro hospital do Brasil a fazer testes de hepatite C e responsável pelo primeiro estudo populacional e publicações epidemiológicas sobre o tema, no início dos anos 1990. “A hepatite C foi descoberta no ano que retornei de minha formação no Instituto Nacional de Pesquisa Médica na França, que fez doações para que realizássemos esses testes em fase pré-comercial”, conta.

Em 2001, o professor Paraná também coordenou os primeiros ensaios clínicos com drogas experimentais para tratamento para Hepatite C e B, realizados no Hupes. Naquele momento, havia muito entusiasmo com a descoberta de novas drogas para combater a Hepatite C, até então considerada uma doença incurável. O tratamento se mostrava promissor na tentativa de eliminar de forma permanente o vírus do organismo dos pacientes, que sofriam com os efeitos da infecção crônica.

Os estudos realizados no hospital universitário resultaram na aprovação da primeira droga de ação direta contra a Hepatite C, que foi incorporada ao protocolo do Ministério da Saúde. Muitos outros ensaios clínicos realizados pelo grupo de pesquisadores da universidade contribuíram para aprovação de novas drogas para tratar também a Hepatite B crônica. Com os avanços do ciência, o tratamento atual das hepatites virais tem grande eficácia para curar os pacientes com medicamentos orais e sem efeitos adversos.

Durante a sessão na ALBA, o professor demonstrou preocupação com o ensino médico no país e alertou para o funcionamento precário de muitas escolas médicas. “Acho que a gente regrediu na qualidade de formação do médico, principalmente nas instituições privadas. Houve um aumento muito grande no número de escolas médicas num curto período, sem nenhum estudo e preparação”, avalia.

Em 2017, ele coordenou o projeto de implantação do novo centro de formação em biologia molecular para investigação de hepatites virais e outras doenças do fígado no Hupes. Um centro semelhante também foi implantado no Acre para a expansão institucional da medicina e o desenvolvimento de serviços dedicados aos cuidados de saúde nas comunidades indígenas e ribeirinhas na região Norte do país. Os dois centros tiveram financiamento do francesa Fundação Merieux para a construção de laboratórios.

Atualmente Raymundo Paraná é líder do Grupo de Pesquisa em Hepatites Virais e Hepatotoxicidade da Faculdade de Medicina. Coordena no Hupes um ambulatório multidisciplinar que atende a pacientes com doença hepática induzida por drogas, fitoterápicos, insumos vegetais, medicações para fitness ou suplementos alimentares – que, em muitos casos, acomete vítimas de fake news.

“As fake news na saúde fazem as pessoas adoecerem”, afirma o profissional, que condena falsos conceitos difundidos nas redes sociais, totalmente voltados para o comércio de substâncias, muitas vezes até indicados por profissionais inidôneos. Ele também alerta para o perigos da automedicação.

O professor destaca a construção de uma base da dados de referência para a América Latina sobre a toxicidade de ervas e outras substâncias, em um trabalho de busca ativa para identificar e relatar os casos, que vai contribuir com a produção e difusão do conhecimento científico. A iniciativa está sendo desenvolvida a partir de um consórcio internacional que envolve a UFBA e as Universidades de Rosário, na Argentina; Montevideo, no Uruguai; e Málaga, na Espanha, além de instituições privadas.

A sessão especial foi proposta pelo deputado Fabrício Falcão e conduzida pelo presidente da Assembleia, deputado Adolfo Menezes. A homenagem promovida pelo parlamento baiano contou com as presenças do do senador Otto Alencar, do subsecretário estadual da Saúde, Paulo Barbosa, da supervisora do Cepad e médica hepatologista, Delvone Almeida, e do diretor da Rede D’Or Regional Bahia, Rafael Vita.

Também participaram da cerimônia o professor da UFBA Antônio Carlos Lopes, representante da Academia de Medicina da Bahia; Ana Paula Boente, representante dos pacientes transplantados; Victoria Paraná, mestranda da Fiocruz representando os alunos de pós-graduação, Guilherme Marback Neto, professor da Escola de Administração da UFBA; Francisco Neto, conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios; e Alberico Mascarenhas, conselheiro do grupo Aliança da Bahia.

Sobre o homenageado

É graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1983), com residência médica em Gastroenterologia HC-USP (1984-1987), fellow em Hepatologia INSERM/Hopital Hotel Dieu Université Claude Bernard, Lyon-Franca (1987-1989). Mestre em Medicina e Saúde pela UFBA (1992), doutor em Medicina e Saúde pela UFBA programa Capes/Cofecub Lyon-França (1997) e livre-docente em Hepatologia Clínica pela UFBA (2003)

A atua como professor titular da Faculdade de Medicina da UFBA, médico assessor da câmara técnica de Hepatites Virais na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, líder do grupo de pesquisa em Hepatites Virais e Hepatotoxicidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), coordenador do Núcleo de Pesquisa em Hepatologia e pesquisador UFBA/IDOR. Atualmente, é diretor do Hospital Aliança Rede D’Or. É membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Associação Americana para o Estudo do Fígado (AASLD), Associação Europeia para o Estudo do Fígado (EASL) e Associação Latino-Americana para o Estudo do Fígado (ALEH) e Academia Baiana de Medicina.