Com mais de 2 mil trabalhos, Seminário Estudantil promoveu reflexão sobre primeiros passos na vida acadêmica

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Mesa da Abertura do Seminário Estudantil - Foto: Mila Souza.

A Universidade Federal da Bahia realizou, entre os dias 4 e 6 de dezembro, o Seminário Estudantil 2023, que contou com mais de 2 mil trabalhos apresentados por seus cerca de 6 mil bolsistas de diversos programas de ensino, pesquisa e extensão – o que inclui Pibic, Pibic-AF, Pibit, Pibiex, Paexdoc, Paextec, ACCS, Pibiexa, Pibiartes, Pibid, Residência Pedagógica, Permanecer, Sankofa e Pet.

Na solenidade de abertura do evento, realizada no Auditório A do PAF 1 do Campus de Ondina, o professor de percussão Aquim Sacramento, da Escola de Música da UFBA, tocou no vibrafone arranjos compostos por ele para músicas do cancioneiro popular brasileiro como “Ai Yô Yô”, de Pixinguinha e “Chega de saudade” de João Gilberto, entre outros.

Prof. Aquim Sacramento - Escola de Música - foto: Mila Souza.

A seguir, na mesa oficial do evento, presidida pelo reitor Paulo Miguez, estiveram presentes a diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação (DCOI) do CNPq Dalila Andrade Oliveira; os pró-reitores de Extensão, Guilherme Bertissolo, de Pesquisa e Pós-Graduação, Ronaldo Oliveira, e de Ensino de Graduação, Nancy Vieira; e a coordenadora de Programas de Assistência ao Estudante da Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil, Juliana Marta Santos de Oliveira.

Juliana Marta saudou o “evento feito por tantas mãos com tanto afinco”, para apresentar toda a capacidade de realização da Universidade Federal da Bahia. 

Já a pró-reitora de Ensino de Graduação, professora Nancy Vieira ressaltou que as relações entre universidade, escola, pesquisa, ensino e extensão estão presentes de maneira sugestiva e necessária no Seminário Estudantil “para lembrarmos da necessária e indispensável aproximação entre a universidade e a escola, através do compromisso dos cursos de licenciatura da Universidade Federal da Bahia nas atividades de prática pedagógica”.

Para a pró-reitora, o que determina essa aproximação sempre frequente entre a UFBA e a formação dos docentes do estado da Bahia, é a divulgação e o estímulo constante às atividades de pesquisa desenvolvidas pelos estudantes de graduação da UFBA com a orientação do corpo docente dos diversos projetos, indicando a força da pesquisa na área do ensino e na melhoria da formação do professor. “Dentro desta Universidade, o pesquisador ainda em formação contribui de uma certa maneira para possibilitar o acesso à sala de aula”, afirmou Nancy Vieira.

Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Ronaldo Lopes Oliveira, é muito gratificante para a Universidade o encontro presencial para tratar “daquilo que a gente gosta, que a produção do conhecimento, daquilo que é nosso foco, que é a formação de seres humanos”.

“[O Seminário Estudantil é] essencialmente um encontro da produção de conhecimento, muito mais focado na graduação, mas que está aberto também para os programas de pós e para os estudantes [que realizam atividades] de extensão. É essencialmente aqui que a gente começa a formar os nossos quadros. Vocês [dirigindo-se aos estudantes] são os especialistas do amanhã, os pesquisadores, as pesquisadoras do amanhã, docentes do amanhã, então esse é um momento muito caro e muito importante na formação de vocês. Esse tempo é precioso. Não negligencie esse tempo, porque passa, passa muito rápido e não pode passar em brancas nuvens, sem que se construa uma base de formação sólida. E achamos que [a UFBA] é um lugar, é um espaço privilegiado para essa formação”, afirmou o pró-reitor.

O pró-reitor de Extensão Guilherme Bertissolo explicou que os trabalhos que compõem a programação do Seminário Estudantil 2023 são fruto, sobretudo, dos programas institucionais desenvolvidos ao longo deste ano, e cujos resultados não foram exibidos no Congresso UFBA 2023. “Agora estamos diante de um Seminário Estudantil e não de um Congresso, justamente porque tivemos uma grande mobilização na Universidade, durante o evento de março de 2023”.

“Esse Seminário foca mais nos trabalhos dos estudantes, que são uma parte considerável da apresentação dos trabalhos que ocorrem no Congresso. Acredito que esse momento é muito importante para ter acesso a toda essa produção realizada, ao tempo em que se consegue articular os diversos programas. Vocês vão perceber que os programas estão organizados por áreas, muitas vezes entrelaçados. Isso é interessante porque dá uma visão um pouco mais ampla daquilo que está sendo feito no contexto da Universidade”, acredita Bertissolo.

 Diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação – DCOI, Dalila Andrade Oliveira, representou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. – foto: Mila Souza.

A presença do CNPq

A diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação Dalila Andrade Oliveira, representando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), iniciou ressaltando a referência que é a Universidade Federal da Bahia no país e sobretudo na região Nordeste, sublinhando a importância dos espaços de discussão dedicados ao estudante, porque “se a gente for pensar na rotina da Universidade, são poucos os eventos que a gente faz para os estudantes. Em geral, eles participam de eventos acadêmicos, que nem sempre são eventos dirigidos aos estudantes, que pensem a partir da realidade deles, numa troca mais horizontal. E isso é algo importante”.

“Eu queria dizer que meu papel estar em diálogo com as universidades em destaque, em especial a UFBA, porque vocês sabem que a UFBA é uma parceira do CNPq e que o programa de bolsas de iniciação científica chamado Pibic teve o seu programa piloto desenvolvido na UFBA, na década de 1980. Então, é um lugar muito especial, um diálogo que a gente, prioriza na nossa agenda do CNPq”.

Um país de escola pública

Dalila afirma que a relação entre a Universidade e a escola básica é “super importante”, primeiro porque a educação básica representa mais de 80% da matrícula pública, o que faz do Brasil um país de escola pública. “Quem não estuda em escola pública no Brasil é uma pequena elite. Tem uma alta elite no Brasil que sequer estuda no Brasil e tem uma classe média em torno dos 20% que colocam seus filhos em escolas particulares”, informa a diretora.

“Quando falo dessa matrícula em escola pública, eu estou falando de escolas, municipais, estaduais e da rede federal. A rede federal tem o melhor desempenho estudantil no país verificado nos nossos exames na educação básica, mas pouco se fala disso. Quando sai o resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação do Estudante) ou sai o resultado do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) o que a imprensa notifica é que a escola pública vai muito mal. Enquanto isso, os resultados ressaltam o bom desempenho das escolas privadas “e nada se fala do desempenho de excelência que os estudantes das escolas públicas [alcançam]. A gente não vê essas escolas sendo usadas como modelo no discurso midiático”, lamenta a diretora.

“Outra coisa que eu ressaltaria é que se na educação básica temos 80% que são de matrícula pública, quando a gente vai para educação superior, o que a gente tem é o inverso. [O percentual de] matrícula na educação privada chega a quase 75%, e nós [rede pública] ficamos aí com menos de 25%. Essa proporção acompanha a formação de professores para educação básica, o que é muito preocupante”.

Sobre formação e remuneração

A representante do CNPq lembra que se fala muito mal da qualidade e da formação dos professores de escolas públicas no Brasil, e quando se critica essa baixa qualidade, não é demonstrado que 75% dos professores que atuam em escolas básicas do Brasil são formados em instituições privadas, segundo ela.

“Basta olhar os concursos que são realizados nas melhores redes públicas de educação básica no país e vocês vão ver os primeiros lugares são dos nossos estudantes, dos estudantes que saem das nossas universidades públicas”(…) Quando se trata da remuneração de professores de educação básica, a nossa posição oscila sempre para a 27ª, 28ª nos 30, quando vai para educação superior, nós ficamos entre o sétimo, oitavo. “Percebe como é que é o contraste, ou seja, as condições de trabalho que nós temos?”

Reitor Paulo Miguez -foto: Mila Souza.

Reconhecimento, respeito e diálogo

Na fala que encerrou a solenidade, o reitor Paulo Miguez aproveitou para dar a notícia de que o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) da UFBA acabara de aprovar a política de formação continuada de professores para a educação básica da Universidade Federal da Bahia.

“Uma política que responde a importante desafio, a essa lacuna que por vezes  parece transcorrida na relação entre o ensino superior do Brasil e a educação básica. E há muito mais coisas entre ás duas dimensões da vida na educação do que as pessoas normalmente compreendem. Mas acho que uma política como essa responde ao desafio da qualificação, para as primeiras movimentações no campo da educação, da formação de professores e do respeito e reconhecimento do trabalho docente citado há pouco quando (a representante do CNPq) apresentou a comparação em termos de condições de trabalho e remuneração entre os docentes da educação básica no nosso país e no conjunto dos outros países, que chega a ser alguma coisa que nos envergonha”.

Miguez ressaltou a importância da realização do Seminário Estudantil como uma alegre celebração da Ciência e da Arte, “dois desafios permanentes da UFBA aos jovens estudantes, depois de tanto tempo de dificuldades, de quatro anos extremamente difíceis”. Os cerca de 2 mil trabalhos inscritos mostram, segundo o reitor, “exatamente aquilo que se faz nessa casa. E digo celebração porque é o momento em que nós podemos mostrar o que sabemos fazer e que, durante tanto tempo fomos desgraçadamente impedidos de fazer da melhor maneira”.

O seminário teve um “sabor especial” também para o reitor porque, apesar dessas apresentações serem feitas todos os anos, este ano estão sendo feitas pela primeira vez, depois de quatro anos, “em ambiente de vida democrática e isso é fundamental”. “Esse ano (2023) foi maravilhoso porque voltamos à vida normal. Voltamos a ter três coisas que esta casa precisa como universidade pública, como uma escola pública: reconhecimento, respeito e diálogo.

Miguez falou ainda do desafio enfrentado a duras penas para a atualização do valor das bolsas, que passaram de 400 a 700 reais, apesar das dificuldades. Para o reitor, é necessário que a remuneração para quem faz ciência seja no momento inicial, para que tenham condições de trabalho. “Nós acreditamos firmemente que a recuperação dos orçamentos na área de cultura, na área das artes, na área da ciência e tecnologia e na área da educação, certamente são o melhor sinal de novos tempos que se anuncia”.

O desafio da permanência

O reitor volta a afirmar que os desafios não são pequenos. “Eu diria que o maior desafio que nós temos é garantir a permanência dos jovens estudantes que entram pelas ações afirmativas. É lamentável não termos nesse momento, ainda, condições de atender à necessidade de inúmeros benefícios, sem os quais os estudantes não podem frequentar os seus cursos. É a residência, é a alimentação, é o transporte, é atenção médica, é atenção psicossocial, é o equipamento que precisa, é o material escolar, é uma infinidade de necessidade reais de dois terços do corpo discente que a nossa universidade experimenta hoje e que, desgraçadamente, apesar de sabermos pedacinho por pedacinho dessa dificuldade, ainda não temos condição de atender na sua plenitude, com a qualidade e na abrangência devida. Mas continuaremos a perseguir.”

Miguez lembrou a vitória da persistência durante a pandemia da Covid-19, quando a UFBA desenvolveu mais de 100 projetos em todas as áreas das engenharias, da saúde, das humanidades, das artes e letras. Mais de 100 projetos que, mesmo em condições adversas, avançaram. “É assim que chegamos com toda dificuldade a esse Seminário Estudantil e que mais de 2000 alunos estão apresentando trabalhos e mostrando que ciência, cultura e arte fazem parte do DNA desta casa”.

E não esqueceu de que Seminário Estudantil começava em dia muito especial para os baianos, dia de Santa Bárbara, dia de Iansã, 4 de dezembro.

Estudantes Paula Jamine e Lucas de Gal, do Programa de Pós-Graduação Profissional em Dança - PRODAN - Escola de Dança -

Com  apresentação dos estudantes Paula Jamine e Lucas de Gal, do Programa de Pós-Graduação Profissional em Dança (Prodan) da Escola de Dança com uma “Homenagem a Santa Bárbara”, os trabalhos daquela tarde foram concluídos, na presença de estudantes, professoras e professores, representantes do Conselho Universitário, diretores e diretoras de unidades acadêmicas, servidores da administração central da UFBA, pró-reitores, monitores, servidores técnicos administrativos e representantes de classe.