A prestação de serviço à sociedade é o ponto em comum entre três projetos propostos por pesquisadores da UFBA recentemente contemplados em editais. Trata-se dos projetos Capacitere, na área da engenharia; Capacitic, da computação; e a pesquisa “Experiências de mulheres quilombolas e crianças com a insegurança alimentar e mudanças climáticas: perspectivas e respostas a partir do Teatro do Oprimido”, da área de nutrição.
Os dois primeiros projetos foram submetidos ao edital Projetos de Qualificação Social e Profissional no âmbito do Programa Manuel Querino, do Ministério do Trabalho e Emprego. O terceiro foi contemplado na chamada Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Conheça melhor os três projetos:
Engenharia: Ações de qualificação social e profissional em energias renováveis com o Capacitere

Estão à frente do Capacitere, os professores da Escola Politécnica da UFBA: Ednildo Andrade Torres ( esquerda) e Delano Mendes de Santana (direita).
Vencedor do primeiro lote entre os projetos de qualificação social e profissional no âmbito do Programa Manuel Querino – Portaria MTE 3222 de 21 de agosto de 2023 do Ministério do Trabalho e Emprego / Secretaria de Qualificação e Fomento à Geração de Emprego e Renda, – que foram apresentados por universidades e institutos federais em 2023 –, o Capacitere é um Programa de Capacitação em Tecnologia das Energias Renováveis que engloba ações de qualificação social e profissional para 1050 jovens de 16 a 29 anos, com foco em energias renováveis.
O Capacitere está sob a liderança dos professores Ednildo Andrade Torres e Delano Mendes Santana, respectivamente, coordenador do Laboratório de Energia e Gás (LEN) e docente do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da UFBA, e beneficiará jovens oriundos da Região Metropolitana de Salvador a partir de janeiro de 2024 por um período de 12 meses.
De acordo com o professor Delano Santana, “o objetivo é promover uma formação técnica, profissional e cidadã de jovens trabalhadores para as demandas de trabalho, emprego e renda presentes e futuras, utilizando-se todo o suporte científico, técnico e tecnológico desenvolvido pela Universidade”. Ele destaca que “a formação se dará no campo das tecnologias em energias renováveis, particularmente solar, eólica e biomassa”.
O texto do programa prevê que “os jovens em formação estarão aptos a se colocar com melhor qualificação no mercado de trabalho, favorecendo o desenvolvimento da região e do país em objetivos alinhados à sustentabilidade econômica, social e ambiental”. Ainda segundo o projeto, “visando a capacitação como profissionais aptos às demandas do presente e do futuro, [os jovens] serão também qualificados em temas de inserção social do mundo do trabalho, incluindo-se o respeito às diversidades. A definição da participação dos jovens será realizada em conjunto com secretaria de Educação do Estado da Bahia e os municípios participantes, definido a prioridade da demanda local por mão de obra qualificada”.
Docentes, pesquisadores e alunos estarão envolvidos nas diversas atividades. Serão necessários kits didáticos, adquiridos para apoio nas aulas, e suporte para os alunos, como alimentação, transporte e material didático, num total de R$ 3.360.000,00 para a efetivação da proposta, conta com apoio da Administração Central da UFBA e do Ministério do Trabalho para ser efetivada.
O professor Delano contou que “o projeto foi concebido como um desdobramento do Instituto de Ciência, Inovação e Tecnologia em Energias Renováveis (Incitere) do Estado da Bahia, projeto de pesquisa fomentado pela Fapesb no âmbito do Grupo de Pesquisa Energia da UFBA, que tem por um de seus objetivos levar a ciência e a tecnologia para os mais jovens, melhorando a formação técnica dos profissionais e ao mesmo tempo atraindo os talentos para o desenvolvimento tecnológico das energias renováveis do Estado da Bahia”.
Ao final, “espera-se a aquisição de habilidades técnicas específicas pelos jovens, relacionadas às energias renováveis, competências profissionais e treinamento para desempenhar com eficácia as funções exigidas em suas respectivas áreas de atuação. A capacitação dos jovens com habilidades cidadãs, promovendo a conscientização sobre responsabilidade social e ambiental, bem como o respeito à diversidade no ambiente de trabalho. A utilização de recursos científicos e tecnológicos disponíveis na Universidade para aprimorar a qualidade da formação oferecida aos jovens. E por fim, a contribuição para o desenvolvimento regional e nacional, preparando os jovens para se destacarem no mercado de trabalho e contribuindo com metas de responsabilidade e sustentabilidade econômica, social e ambiental”, enumerou o docente da Escola Politécnica da UFBA.
Computação: capacitação tecnológica com o Capacitic

À frente do CAPACITIC, o Professor do Instituto de Computação da UFBA, Gustavo Bittencourt.
Também contemplado pelo Programa Manuel Querino – Portaria MTE 3222 de 21 de agosto de 2023 do Ministério do Trabalho e Emprego / Secretaria de Qualificação e Fomento à Geração de Emprego e Renda, o Programa de Capacitação de Tecnologia da Informação e Comunicação (Capacitic) também beneficiará mais de mil jovens da Região Metropolitana de Salvador.
Sob a coordenação do professor do Instituto de Computação da UFBA Gustavo Bittencourt Figueiredo, o projeto prevê qualificação social e profissional a jovens desenvolvendo habilidades técnicas, profissionais e cidadãs necessárias para enfrentar as demandas atuais e futuras do mercado do trabalho na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
A inclusão social, diversidade sexual, de gênero, raça e etnia entre os participantes, bem como pessoas com deficiência, também são previstas pela capacitação que “fará uso dos recursos científicos, técnicos e tecnológicos disponíveis na Universidade, visando à formação na área da economia digital e neoindustrialização”, informou o coordenador Bittencourt.
O público-alvo do projeto compreende jovens com idade entre 16 e 29 anos – que, segundo Bittencourt “é a faixa etária em que é importante oferecer oportunidades de aprendizado e desenvolvimento, qualificando-os para o ingresso no mercado de trabalho, para atuar em áreas com enorme carência de profissionais qualificados e de grande importância para o desenvolvimento econômico e social da nação”. Serão atendidos 1.050 cidadãos que sejam estudantes e profissionais residentes e domiciliados no território da Região Metropolitana de Salvador.
O planejamento define que as atividades comecem no mês de janeiro de 2024, visando à organização e seleção dos participantes, com início das aulas para o mês de março. Aos jovens, será proporcionado o desenvolvimento de habilidades técnicas específicas e relacionadas à economia digital e neoindustrialização, tornando-os aptos a atender às demandas do mercado de trabalho.
O conteúdo programático traz disciplinas como: Administração de Redes de Computadores, Blockchain e Tecnologias de Registro Distribuído, Desenvolvimento de Aplicações Móveis, Internet das Coisas, Introdução à Internet de Hoje e do Futuro, Introdução a Linux/Unix, Programação Orientada à Objetos, Programação para IoT , Redes de Computadores e Segurança da Informação, Agilidade e Gestão de Projetos, Aprendizado de Máquina Ciência de Dados, Design Thinking/Design Sprint, Engenharia de Prompt para ChatGPT, Engenharia de Software, Introdução a Lógica de Programação, Processamento de Linguagem Natural, Programação Avançada e Realidade Virtual e Aumentada.
A implementação do projeto se dará mediante parceria firmada entre a UFBA, pelo Centro Tomorrow – executado pelo Instituto de Computação da UFBA desde janeiro, com objetivo de qualificação profissional de estudantes e profissionais do mercado de trabalho na área de TIC – e pela empresa Positivo Tecnologia. Outros professores do Instituto de Computação que participam da execução do projeto são Maycon Leone Maciel Peixoto, Frederico Araújo Durão, Ivan do Carmo Machado, Cássio Vinicius Serafim Prazeres, Eduardo Santana de Almeida, Vaninha Vieira dos Santos e Fabíola Gonçalves Pereira Greve.
Nutrição: investigação sobre condições climáticas e saúde alimentar de quilombolas

A docente da Escola de Nutrição da UFBA, Priscila de Morais Sato, realiza a pesquisa sobre alimentaçao e condições climáticas.
A ludicidade teatral para apresentar soluções está presente na pesquisa “Experiências de mulheres quilombolas e crianças com a insegurança alimentar e mudanças climáticas: perspectivas e respostas a partir do Teatro do Oprimido”, contemplada na Chamada Nº 21/2023 – Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Proposta pela professora da Escola de Nutrição (Enufba) Priscila de Morais Sato, “o projeto consiste em analisar as condições nutricionais e alimentares de mães e crianças de comunidades quilombolas da Bahia, identificando as barreiras impostas pelas mudanças climáticas e pelo racismo ambiental para a saúde dessa população, e visando a construção de soluções junto a profissionais de saúde da atenção primária”, informa a pesquisadora.
Entre os objetivos da proposta vencedora, a professora Priscila Sato destaca: “avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de mães e crianças, bem como as situações de segurança alimentar e segurança hídrica nos domicílios; analisar as práticas alimentares das mulheres e seus filhos com foco a entender como são afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas e do racismo ambiental; visibilizar os desafios para a garantia da alimentação adequada e saudável e da segurança alimentar, nutricional e hídrica das populações quilombolas e fomentar discussão e busca por estratégia e soluções para assegurar a segurança alimentar e nutricional das comunidades e combate ao racismo ambiental por meio do teatro do oprimido”.
A previsão é de que “a partir de fevereiro de 2024, profissionais de saúde da atenção primária, escolares e povos quilombolas seja, beneficiados”, disse ela. “De forma direta, espera-se que o projeto contribua para as comunidades quilombolas por meio de diagnóstico alimentar e nutricional de mulheres e crianças e também das condições sanitárias locais, por um período de 3 anos”, informou a professora.
Será utilizado o método cênico pedagógico, valendo-se do teatro do oprimido, que permitirá a tradução das problemáticas relacionadas às mudanças climáticas na saúde de comunidades quilombolas a profissionais de saúde e escolares. “A discussão das cenas sobre as experiências dessas comunidades frente às mudanças climáticas poderá promover reflexões críticas sobre a realidade vivenciada e favorecer tanto a valorização dos saberes tradicionais quanto a apropriação significativa dos conhecimentos científicos produzidos e/ou divulgados no contexto da pesquisa”.
Ao final do projeto, a peça de teatro será encenada em comunidades, escolas e unidades de saúde interessadas. A participação se dará a partir de contato com a coordenadora e agendamento. Espera-se obter “um estudo com grande aprofundamento das condições alimentares e nutricionais de quilombolas e suas relações com as mudanças climáticas”, revelou a professora.
A expectativa é uma “potencial contribuição para o conhecimento científico ao visibilizar a complexidade da promoção da segurança alimentar e nutricional em populações historicamente vulnerabilizadas e proposição de um modelo conceitual que apresente as dinâmicas existentes no território e que atuam sobre as práticas alimentares materno-infantis”, vislumbrou.
E, adicionalmente, espera-se que a experiência do teatro do oprimido para a promoção de discussões, visando soluções e estratégias de promoção à saúde humana e ambiental, e contribua para o campo como exemplo a outras experiências que podem ser realizadas no âmbito do Sistema único de Saúde (SUS), concluiu Sabrina.
Recursos e equipe
Para alcançar os objetivos, será necessária uma equipe transdisciplinar, composta pela colaboração de pesquisadores das áreas da nutrição, teatro e engenharia ambiental. “Teremos equipe para a avaliação alimentar e nutricional de mulheres e crianças das comunidades, para o diagnóstico das condições sanitárias, e para a criação e encenação das cenas do teatro do oprimido”, pontou a proponente.
Entre as instituições participantes estão o Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido, Escola de Teatro da UFBA (Gesto); a Escola Politécnica da UFBA; a University College of London (UCL) e os pesquisadores Priscila Sato, Alexsandro Paranhos, Antônia Pereira, Cíntia Gama, Delan Devakumar, Evelyn Abreu, Iza Macedo, Jamile Santos, Licko Turle, Liliane Bittencourt, Francisco Ramon Nascimento, Rejane Santos, Taiana Lemos, Valterlinda Queiroz e Virgínia Machado.
O projeto deriva de investigações e parcerias entre os pesquisadores envolvidos, a partir de recente aproximação ao longo de 2023. “Havia, há algum tempo, a vontade de realizar trabalho conjunto, convergindo os interesses em abordar questões de justiça racial e das mudanças climáticas. Assim, ao decidirmos colocar as ideias no papel para a submissão ao edital, a elaboração foi rápida, resgatando as ideias que já vinham sendo discutidas e semeadas”, relembrou Sato. “E os recursos materiais serão gravadores, balança, estadiômetro, figurinos e objetos de cena, e equipamento de som. Os recursos financeiros serão para o transporte e alimentação da equipe”, informou a docente da Enufba.