A Universidade Federal da Bahia (UFBA), através do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos – IHAC- outorgam, dia 4 de novembro de 2024, às 17 horas, no Salão Nobre do Palácio da Reitoria da UFBA, o título de Doutor Honoris Causa ao cineasta, escritor, jornalista e gestor cultural Orlando de Salles Sena. A proposta de concessão do título foi do professor do IHAC Antonio Albino Canelas Rubim.
O baiano Orlando Senna nasceu no distrito de Estiva, hoje Afrânio Peixoto, localizado no município de Lençóis, em 25 de abril de 1940. O pai envolvido com a política e sua mãe com o teatro amador são exemplos fundamentais para a construção da sua biografia. Quando aporta em Salvador, chegado da Chapada Diamantina, Orlando participa intensamente da vida político-cultural da virada dos anos 50 para os 60 no Brasil e na Bahia, onde ocorre uma verdadeira revolução cultural na qual, a Universidade Federal da Bahia, onde Senna estuda teatro e direito, abre espaços para uma uma produção acadêmica efervescente.
“Orlando Senna faz parte de uma brilhante geração de alunos da UFBA, que viveram a universidade de modo multidisciplinar, como se diz hoje, experimentado e misturado as mais diversas áreas de artes, cultura e conhecimento” declara a professora Linda Rubim, da Faculdade de Comunicação, coautora, junto com Rubim, na construção do Memorial escrito que foi apresentado ao Conselho Universitário da UFBA, para apreciação da proposta de concessão do título de Doutor Honoris Causa a Orlando Senna, o que agora se concretiza.
Diz o proponente Antonio Rubim: “Orlando Senna, ao ser múltiplo, articula de maneira primorosa a criação de obras artístico-culturais e a criação de notáveis políticas culturais. Sua capacidade de envolvimento qualificado com diversas áreas culturais é um dom raro” Veja na íntegra o documento apresentado por Rubin e Linda para apreciação e aprovação dos pareceristas.
Documento para concessão do título de Doutor Honoris Causa à Orlando Senna
Depoimentos
Para o professor de teatro, dramaturgo e escritor Raimundo Matos de Leão, “Orlando Senna é reconhecido para além das fronteiras da Bahia, lugar em que dá início à sua ação na área da cultura e da arte. Sua atuação no teatro de Salvador na década de 1960 resulta do projeto implantado pelo Reitor Edgard Santos, dando suporte a uma geração de jovens e ampliando o campo cultural. Em seu currículo, Orlando Senna registra uma série de ações no cinema e no teatro. Coube a ele a encenação de “A Companhia das Índias”, texto de Nelson de Araújo, levando para a cena elementos do Tropicalismo e atualizando o enfoque político para o contexto da época. Outra encenação de sua lavra é “O Gonzaga”, do poeta Castro Alves. Ao retirar o texto do esquecimento, Senna introduziu elementos que dialogavam com o presente, estabelecendo comunicação mais efetiva com o público. É relevante a contribuição do diretor teatral e cineasta para a afirmação das linguagens no cenário baiano-brasileiro”, opina o professor.
O produtor Roberto Santana relembra o convívio com o companheiro e amigo homenageado: ” Nos conhecemos desde sua chegada vindo das alturas da Chapada (Lençóis). Anos 60 do século passado. Daí em diante formamos juntos em muitas lutas. No CPC, no Vila Velha, no Nós por Exemplo, no jornal IC, na Fundação Teatro Castro Alves, na montagem da peça Marília de Dirceu no próprio TCA, nos churrascos em sua residência na Pituba antiga, na irmandade da vida. E nesta vida, ambos oitenta anos e pedaços passados, venho dar-te um abraço grande e apertado.
Depoimento do jornalista Vitor Hugo Soares: “Quando cheguei para estudar em Salvador, no começo dos Anos 60, vindo das barrancas sertanejas do Vale do São Francisco – o rio que passa por minha aldeia -, Orlando Senna já era enorme. Representava para mim – jovem adorador da chamada sétima arte desde menino -, ao lado de Glauber Rocha, o genial protestante realizador vindo de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, um daqueles seres mitológicos – tipo o Nêgo D’ Água – que o povo e a cultura do meu lugar diziam habitar e produzir prodígios nas profundezas do Velho Chico. Ainda aluno do Colégio Estadual da Bahia – Central, nas minhas primeiras idas à Escola de Teatro da UFBA, na companhia de dois queridos amigos e colegas de turma, Osvaldo Sampaio e Tuna Espinheira (este capturado anos depois por um apelo irresistível de também pensar e realizar filmes), mirava e seguia Orlando Senna de longe e reverencialmente, com a timidez de sempre, apesar da intimidade dos dois colegas com ele. Mas não o perdia de vista nem naquela época, nem do correr dos anos e décadas: sempre ouvi com atenção suas falas, acompanhei de perto suas produções no teatro e no cinema, e mais atentamente sempre gostei de ler seus escritos e crônicas brilhantes, críticas e pontuações sobre cinema, além dos escritos sobre ele e sua relevância de grande significado para a cultura e a arte baiana e nacional. Feitos que vi e acompanhei de perto no jornalismo – nas redações por onde passei – ou que sei também dos registros do livro “O Homem da Montanha”, densa biografia do cineasta, jornalista, escritor e diretor teatral Orlando Senna, narrada no livro do escritor, diretor de TV e editor da Revista de Cinema, Hermes Leal.”
Filme
Como parte da homenagem a Orlando Senna será exibido no dia 5 de novembro, às 18 horas, no Cinema da UFBA (Vale do Canela), o filme “O amor dentro da câmera” um documentário de ensaio intimista, que conta história de amor e cinema entre Conceição Senna e Orlando Senna, um romance de mais de 50 anos, atravessado pela história latino-americana.
Segundo a sinopse do filme, os dois foram “perseguidos pela ditadura; participaram da criação da Escola de Cinema de Cuba com García Márquez; construíram o Cinema Novo e o Cinema Marginal e foram percursores do Doc-Fic com “Iracema, uma Transa Amazônica”. Hoje são a memória viva do Cinema Brasileiro e sempre optaram por mostrar um Brasil e uma América Latina pouco vistos” Veja mais aqui.