Raymundo Paraná recebe Comenda 2 de Julho, honraria da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em 2023. Imagem: Reprodução/TV ALBA
Professor da Faculdade de Medicina da UFBA, o médico hepatologista Raymundo Paraná foi convidado para representar a América Latina no Grupo Internacional de Experts em Doenças Vasculares do Fígado – VALDIG, criado em Paris. A instituição, que reúne os mais renomados especialistas do mundo no assunto, é quem dita as regras e faz as recomendações para o manejo das doenças no fígado, cujo tratamento, em países como o Brasil, ainda está aquém do ideal perseguido pela medicina nessa área.
“Um convite de muita honra”, reconhece o hepatologista, que conta como tudo começou: “Um ambulatório médico multidisciplinar foi criado. A Faculdade de Farmácia e os radiologistas intervencionistas se uniram a nós. Ao grupo, incluímos a “farmacognosia”, ciência que estuda os princípios ativos de ervas e outras substâncias botânicas. Os suplementos passaram a ser avaliados quanto ao seu real conteúdo”, detalhou Paraná. O passo seguinte foi criar um serviço no SUS para investigar as causas das drogas, hormônios e ervas que adoeceram as pessoas que buscavam o Hupes com hepatite tóxica. “As principais eram o consumo de ervas e suplementos”, disse o médico.
O resultado não surpreendeu o grupo. Havia e ainda há absoluta escassez de literatura médica em torno do assunto. A inexistência de estudos que avaliem a eficácia e a segurança desses produtos de suplementos alimentares estimulam seu consumo. Não há o que os condene. Circulam sem ter que apresentar estudos de eficácia e segurança como os medicamentos têm. “O procedimento regulatório é frouxo e coloca no mercado produtos sem comprovação e explicações sobre seus efeitos. Então os pacientes adoecem, seja por comprar esses medicamentos e suplementos, fitoterápicos ou fórmulas, diretamente da internet ou de algum profissional de saúde”, lamenta Paraná.
O VALDIG se reúne anualmente. O próximo encontro será em abril, na cidade de Barcelona, para o qual o doutor Raimundo Paraná já foi convidado. E ele estará presente levando informações e resultados fresquinhos do trabalho feito no Hupes, cujo Grupo é liderado pelo próprio médico desde a sua criação. O convite a ele incluiu a FMB/ HUPES num consórcio internacional, integrado pelo Centro de Referência Europeu da Universidade de Málaga, Centro de Referência Argentino da Universidade de Rosário e Centro de Referência de Montevideo, da Universidade de Montevideo. O consórcio faz um banco único de dados com a validação externa. “Num caso suspeito, nós aplicamos aqui o diagnóstico de validação, chamado RUCCAM, e, em seguida, encaminhamos para validação externa. Se houver confirmação entra no banco de dados, se não houver fica aguardando novos casos ou uma revisão de literatura.” explica Paraná.
Ambulatório de Hepatologia
Titular da Faculdade de Medicina da UFBA, Paraná associa sua presença no grupo aos trabalhos realizados pelo Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/UFBA). Desde 2012, quando criou o primeiro projeto de estudos sobre hepatotoxidade, se tornou comum a publicação de estudos nos catálogos “DILI” – Doença Hepática Induzida por Drogas, em inglês “Drug Induced Liver Injur”, e “HILI” – Doença Hepática Induzida por Ervas, em inglês “Herbal Induced Liver Injury”.
O conhecimento gerado pelo ambulatório de hepatotoxidade, inédito no Brasil, permitiu o ingresso da UFBA, inicialmente, no consórcio Latindili de hepatotoxicidade, juntamente com a Universidade de Málaga (Espanha), Rosário (Argentina) e Montevideo (Uruguai). Neste consórcio, foram descritos casos de doença vascular do fígado induzidos por ervas e suplementos, o que gerou o convite para este grupo seleto que estuda tais casos.
Carreira é marcada pela dedicação e honrarias
A relação de Raymundo Paraná com a UFBA vem desde sua graduação, em 1983, pela Faculdade de Medicina. O diploma na UFBA veio acompanhado do mestrado e doutorado na instituição. Antes da pós-graduação, fez residência médica em Clínica Médica e Gastroenterologia, na Universidade de São Paulo(1984-1987) e Fellow em Hepatologia INSERM/ Hôpital Hotel-Dieu Université Claude Bernard, em Lyon, na França (1987-1989). Entre lideranças de grupos de pesquisas e assessorias para entes governamentais, ele é também membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Associação Americana para o Estudo do Fígado (AASLD), Associação Europeia para o Estudo do Fígado (EASL) e Associação Latino-Americana para o Estudo do Fígado (ALEH) e Academia Baiana de Medicina.
Em 2023, pelos serviços prestados à medicina, ao ensino e à ciência, Raymundo Paraná recebeu a Comenda 2 de Julho, importante honraria da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).