Alunos da disciplina Culturas, gêneros e sexualidade, ministrada neste semestre pela primeira vez no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, realizaram na tarde da terça feira,18, o primeiro evento #oCUpaUFBA, na Praça das Artes no campus de Ondina. Após passar o semestre estudando e pesquisando as dissidências sexuais e de gênero e os artivismos queer – intervenções artísticas que não seguem o binarismo de gênero -, discutindo os estudos feministas queer combinados com estudos pós-coloniais e das subalternidades, o grupo optou por levar seu seminário do espaço fechado da sala de aula para o espaço aberto do campus e lá apresentar seus trabalhos.
O #oCUpaUFBA é inspirado nas zonas autônomas temporárias (TAZ), propostas em livro de 1985 pelo teórico anarquista Peter Lamborn Wilson, conhecido pelo pseudônimo Hakim Bey, bastante influente no movimento anarquista do final do século XX e começo do século XXI. Inspirado nas “utopias piratas”, ele “fala sobre essa apropriação dos lugares, sobre o se apropriar de um lugar e transformá-lo num lugar de potência, de produção de subjetividades e de construção de novas práticas.”, explica Marcelo de Troi, um dos participantes do evento.
“O evento propõe evidenciar que as práticas artísticas podem produzir poderosos contradiscursos para combater os preconceitos e sensibilizar as pessoas para o respeito à diversidade. Temos usado a expressão ‘dissidências sexuais e de gênero’ em contraposição à ideia de diversidade sexual e de gênero, muito ligada a uma perspectiva multicultural neoliberal que não explica como são construídas e sedimentadas as hierarquias existentes dentro da diversidade. Além disso, dentro da diversidade existem sexualidades e gêneros mais normativas/os do que outros e nos interessam aquelas que tentam, de alguma forma, fugir e questionar essas normatividades”, explica o professor Leandro Colling, autor de Que os outros sejam o normal – tensões entre movimento LGBT e ativismo queer, que ministrou a disciplina “Culturas, gêneros e sexualidade” ao grupo.
O evento na Praça das Artes incluiu um sarau de escrituras queer, performances, instalações, exposições e grupos de pagode e funk. O contato com obras artivistas tem o intuito de provocar uma junção do viés político com o viés estético, os integrantes explicaram, ambos levando o à reflexão dessas questões.
“A ocupação toda é sobre isso. Nós começamos nesse espaço da UFBA, nesse espaço da universidade, que é completamente formatado, no qual muitos saberes são ignorados, principalmente os saberes do corpo. As pessoas não entendem o corpo como corpo-mente. Elas valorizam um tipo de saber e um tipo de aprendizagem e nós optamos por ocupar esses espaços externos como uma forma de validar esses outros saberes. Os saberes do corpo, da oralidade, da poesia, das performances, das danças.”, diz Stéfano Belo, aluno e artivista responsável pela performance “Ensandecida – O chamado das 3 Gordonas – Primeira Colagem”.