
Auditório do PAF III lotado para a mesa do Fórum Social Mundial
Proposta como atividade preparatória para o Fórum Social Mundial- evento que irá unir movimentos sociais de todos os continentes com o objetivo de elaborar alternativas para uma transformação social global-, a mesa “A onda de intolerância e discriminações no Brasil e no mundo” foi de grande relevância cultural e histórica para quem conseguiu encontrar um lugar no auditório do PAF III, na tarde da terça-feira, 17. Reunindo pessoas de diferentes partes do mundo, entre elas, Palestina, França, Áustria e África, o debate tratou da Intolerância “nas suas diversas e perversa variáveis”._
Mediado por Gilberto Leal, representante da Coordenação Nacional de Entidades Negras, o debate se iniciou com a fala de Mireille Fanon, presidente da Fundação Frantz Fanon, sobre a importância de Salvador- cidade mais negra do Brasil- sediar o Fórum Social Mundial de 2018. “No Brasil, 51% de sua população é afrodescendente. Precisamos discutir os desafios, os preconceitos e a violência que atinge os jovens de origem africana” ressaltou a francesa.
Mireille, discutiu também a necessidade de descolonizar os poderes e os saberes na sociedade e nos processos de articulação de movimentos sociais, falou também sobre os processos históricos de conquista de territórios e de humilhação de povos, que se perpetua até os dias de hoje. “A conquista das américas, em 1492 representou uma catástrofe demográfica, uma deformação da subjetividade e do sentido da humanidade, da ética. O colonialismo é uma construção ideológica que nada tem a ver com o gênero humano, e sim com o capitalismo eurocêntrico, que transforma tudo em mercadoria, que cria uma ordem maniqueísta de mestre e escravos”, comentou Mireille.
Também presente na mesa, Kitangi, representante de uma comunidade tradicional de matriz africana, assim como Mireille, fez questão de chamar atenção para o fato de que a discriminação e intolerância são frutos de um processo histórico. “Não são novas intolerâncias, o processo atual começou com o processo de colonização dos povos. A democracia se prestou a continuar o projeto de colonização nesse país. Garantimos uma mudança de sistema, mas não garantimos o reconhecimento da população negra. ”, disse Kitangi.
Ela problematizou também a questão do genocídio e do encarceramento da população negra, referido por ela como “Holocausto da escravidão”. “Há um projeto político de genocídio no estado brasileiro, práticas violentas ocorrem diariamente dentro das periferias do país. O silêncio sempre nos foi dado, as legislações que impedem o nosso falar é constante. O Brasil tem negado o direito aos povos tradicionais de manterem suas tradições”, disse Kitangi.
Soraya Misleh, palestina brasileira, contribuiu com o debate contando a história do seu povo, especialmente sobre a perseguição sofrida por seus familiares, provocada pelo Sionismo, movimento internacional judeu que resultou na formação do Estado de Israel em maio de 1948.

Ialorixá Maísa Bahia fala sobre intolerância religiosa
“O estado de Israel se construiu sob os cadáveres dos palestinos. Eles tinham um projeto de limpeza étnica, queriam literalmente exterminar a população palestina de sua própria terra. Atualmente existem 1,8 milhão de palestinos refugiados em gaza. Essas pessoas já sofreram 3 bombardeios e tem seus direitos humanos fundamentais violados constantemente. Infelizmente, tudo isso é parte de um projeto político, a Palestina é uma rota de transporte entre a europa e a ásia, existem interesses geopolíticos evidentes nesta região.”, contou Soraya
A intolerância religiosa foi outro ponto bastante recorrente no debate. Maísa Bahia, ialorixá e representante da União de Negras e Negros Pela Igualdade, refletiu sobre o fato de o ódio e o terror religioso ser aplicado somente aos povos de matriz africana. “ O que fazemos de tão grave que ofendemos os brancos? O que fazemos de tão grave para recebermos pedradas, para invadirem nossos terreiros e questionarem nossas crenças?”.
Para concluir a mesa e levantar uma reflexão acerca do que foi discutido, Kitangi finalizou questionando “de que maneira lutar com um estado, com uma mídia e uma sociedade que nos criminaliza, que tira nossas terras, e que nos chama de animais? ”

