Decididos a fazer a diferença na recuperação de seus pacientes e ampliar o acesso à cidade, os servidores técnicos-administrativos, fisioterapeutas da Clínica-escola de Fisioterapia da UFBA estão colocando em prática o conceito de clínica ampliada. Ao observarem a necessidade dos pacientes, os fisioterapeutas Adriana Faiçal, Elaine Dias, Elis Passos, César Diniz e Gabriel Duarte começaram a desenvolver um projeto de extensão, seguindo as diretrizes da Política Nacional de Humanização, no intuito de maximizar a recuperação funcional retirando os pacientes da clínica. “A ideia surgiu após uma paciente falar que o tratamento na clínica era muito bom mas quando saía da clínica o chão não era emborrachado, as barras de apoio eram inadequadas consequentemente o que exercitava aqui tinha pouca utilidade da porta pra fora” conta Elaine Dias integrante e principal idealizadora do projeto.

Pacientes da Clínica-Escola de Fisioterapia da UFBA interagem em exposição do Museu de Artes da Bahia.
O projeto começou a ser formatado, então, para viabilizar as funções mais básicas do dia-a-dia, reabilitar, integrar o indivíduo e ampliar o acesso à cidade. “Quando começamos as pesquisas vimos que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra um número muito grande de deficientes e pensamos: onde estão essas pessoas que não vemos pela cidade?” revela Elaine. Assim a integração dos pacientes com a cidade tornou-se um dos elementos principais do projeto.
Adriana Faiçal relata que participou de projeto similar em 2002, quando trabalhou no Complexo Sarah do Rio de Janeiro: “na oportunidade levamos cadeirantes a um shopping da cidade e ensinamos como eles se deslocariam pelo local, caso os elevadores não funcionassem. Foi muito interessante ver a estranheza das pessoas olhando um grupo de cadeirantes dentro do shopping. São essas barreiras que devemos ultrapassar, pois a cidade também é deles”.
Contemplado em edital PAEXTec da Proext, inicialmente o projeto deve durar seis meses, mas devido aos resultados, até agora a equipe espera que se torne uma prática efetiva na recuperação dos pacientes: “Os resultados até agora tem sido extremamente positivos. Ainda vamos fazer um levantamento quantitativo e qualitativo pois pretendemos produzir ciência a partir dessa experiência”, revela Faiçal.
O projeto foi norteado também pela Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), diretriz criada pela Organização Mundial da Saúde, onde orienta como se deve atender pacientes com deficiência a nível de estrutura, função e participação social. Muito estudada, mas pouco colocada em prática no Brasil, o lançamento do edital possibilitou preencher essa lacuna e foi muito bem recebido por Daniel Dominguez Ferraz atual coordenador da clínica-escola. Tarsila Figueiredo que é estudante de fisioterapia e foi selecionada para a bolsa do projeto, revela que “participar do projeto tem sido gratificante pois tem proporcionado ver, na prática, o que é estudado em sala de aula”.
Projeto realiza visitas em grupo
A primeira visita em grupo ocorreu na ‘Oficina de cultivo de bonsais e orquídeas no Palacete das Artes’, onde os pacientes puderam conhecer a história do museu, o espaço e as obras em exposição. A segunda visita foi no Museu de Artes da Bahia dentro do projeto “Lugar de criança é no museu” e os pacientes puderam interagir com a exposição. O terceiro encontro aconteceu em novembro, na academia da saúde e parque infantil no Parque da Cidade, onde os pacientes foram orientados a utilizar os equipamentos para exercitarem-se. Até o final do ano, o grupo pretende realizar uma atividade na Praça das Artes, no campus de Ondina, ampliando o acesso às dependências da universidade.
Elaine estima que cerca de 40% dos pacientes da Clínica-Escola de Fisioterapia da UFBA tenha participado até agora: “Como o projeto é muito recente, muitos ainda não conseguiram compreender a importância, mas grande parte não participa por dificuldades de acesso. Mesmo sendo em espaços públicos e com nossa orientação eles não conseguem chegar ao local. Para a próxima edição, vamos tentar um ônibus da UFBA para velar os pacientes”.
A Clínica-Escola de Fisioterapia da UFBA foi criada há três anos e ainda não atende pacientes pelo SUS. A maior parte dos pacientes é de baixa renda e chegam até a clínica por indicação, encaminhamento de ambulatórios, do Hospital das Clínicas, e das Unidade básica da Federação e do Garcia. Apesar da participação dos pacientes não ser obrigatória a equipe mostra otimismo com a receptividade e confiança em uma integração ainda maior com outras áreas da universidade. As atividades são desenvolvidas e organizadas pelos estudantes e professores do curso de Fisioterapia e professores convidados da Faculdade de Medicina, mas todos os estudantes da UFBA que queiram colaborar podem procurar a clínica-escola ou ficar atento à divulgação dos próximos eventos e participar.
Foto de capa: Equipe do projeto e pacientes, no Parque da Cidade.