A UFBA, por meio do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, vinculado ao Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC), em parceria com a Academia de Letras da Bahia, organiza uma bela programação comemorativa dos 80 anos de Fernando da Rocha Peres nos dias 29 e 30, terça e quarta feira próximas . Professor emérito desta universidade, ele é historiador, poeta, administrador cultural, membro da Academia de Letras da Bahia e um vibrante defensor do patrimônio da Bahia. Veja no UFBA em pauta a programação da homenagem, aberta a quantos queiram dela participar. E abaixo, um breve perfil de Fernando Peres escrito para os Calendários das artes e das ciências da UFBA,há cinco meses:
Calendário das Ciências – UFBA
Fernando Peres: um poeta historiador e administrador cultural
por Mariluce Moura
Fernando da Rocha Peres, 80 anos a completar em 27 de novembro próximo, é poeta reconhecido há muitas décadas, com cerca de uma dezena de livros publicados. Em 1974, “Memória da Sé”, uma obra fundamental sobre a demolição da Igreja da Sé, a mais antiga construção de Salvador, o inscreveu também e definitivamente entre os historiadores. Resultado de pesquisa intensa nos arquivos da cidade, o livro reconstitui e analisa, com base principalmente nos textos da imprensa, os 21 anos da luta acirrada em torno da manutenção ou liquidação da igreja monumental, pondo em cena os interesses econômicos e os jogos de poder que determinaram os rumos da urbanização da capital baiana e terminaram por condenar a uma destruição impiedosa, em 1933, o templo plantado no meio da atual Praça da Sé. Com o aval do arcebispo Dom Augusto Álvaro da Silva, registre-se.
Dois outros trabalhos importantes devem ser incluídos na lavra do Fernando Peres historiador: “Gregório de Mattos e Guerra, uma revisão biográfica”, que lhe valeu em 1983 o prêmio Joaquim Nabuco, concedido pela Academia Brasileira de Letras, e “Breve notícia sobre os monges bentos na Bahia do Novo Mundo”, capítulo que encerra o belo volume “O Mosteiro de São Bento da Bahia”, organizado por Dom Gregório Paixão, abade do Mosteiro de São Bento, lançado em 2011.
Um terceiro pilar, entretanto, sustenta a presença pública de Fernando Peres na cena baiana desde os anos 1950: o de administrador cultural. Nesse sentido, seu trajeto começa ainda aos 20 anos, em 1957, pela participação nas Jogralescas, que se pode resumir como poesia feita teatro ou poesia teatralizada. Prossegue com a criação da revista Mapa, junto com os companheiros de uma geração que realmente marcou a vida cultural baiana e muito mais, se consideramos, por exemplo, seu expoente máximo, o cineasta Glauber Rocha, dileto amigo de Fernando Peres. Nessa fase eles ainda fundam a Yemanjá Filmes e a editora Macunaíma.
Já num ambiente mais formal desse exercício de gestão cultural, Fernando Peres foi diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para a Bahia e Sergipe, diretor-presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia, pró-reitor de Extensão e diretor do Centro de Estudos Baianos da UFBA.
Quase todo esse percurso ele fez, entretanto, sendo ao mesmo tempo professor no Departamento de História da UFBA, tanto que é como professor que preferencialmente se define. Começou em 1966 como horista, uma categoria que há muito não existe mais nas universidades federais e que assinala um contrato remunerado por hora de aula trabalhada, e em 1974 prestou concurso para professor assistente da Universidade onde ensinaria, ao todo, por 40 anos. A aposentadoria aconteceu em 2006 e, dois anos depois, ele recebeu o título de professor emérito da UFBA.
Os trajetos de vida de Fernando Peres se fundam nas vivências de um garoto nascido no bairro de Nazaré, mais exatamente na Bela Vista do Cabral, penúltimo dos cinco filhos (três meninas e dois meninos) do engenheiro agrônomo pernambucano Otávio Gonçalves Peres e de dona Angelina da Rocha Peres. Para situar com mais rigor esse garoto na Salvador dos anos 1940 e 1950, vale registrar também que ele era sobrinho-neto de um dos mais eminentes cientistas baianos, o parasitologista Manoel Augusto Pirajá da Silva (1873-1961), reconhecido internacionalmente por seus estudos seminais a respeito da esquistossomose. Fernando, que já tinha um ambiente em casa francamente favorável ao amor aos livros, mais o adensava ao frequentar a casa que Pirajá da Silva mantinha na Ponta do Humaitá – e, principalmente, a sua fantástica biblioteca – , mesmo quando já saíra de Salvador para São Paulo e para suas estadas na Europa.
Fernando Peres cursou primeiro o colégio de Dona Anfrísia Santiago, depois fez o ginásio no Colégio Maristas e o colegial no Colégio da Bahia, o famoso Central. Cursou direito em Recife e tornou-se mestre pela UFBA.
Casado com a psicanalista Urânia Maria Tourinho Peres, tem dois filhos, Daniel Tourinho Peres, professor de Filosofia na UFBA, e Maria Fernanda Tourinho Peres, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), duas netas, Paula e Teresa, e um neto, João.