Numa universidade brasileira em que a língua oficial é o Português, uma graduação e um curso de Português como idioma vivem momento ascendente e de grande procura entre seus públicos. Desde que foi criada em 2006, a habilitação em Português como Língua Estrangeira (PLE), oferecida pelo Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, vem crescendo e já é o segundo curso que, todos os semestres, mais forma, profissionais licenciados, conforme atesta a diretora do Instituto, professora Risonete Batista de Souza. A mesma tendência pode ser vista no curso de Português, voltado a estudantes estrangeiros em intercâmbio no Brasil, que é oferecido, desde 2014, pelo PROEMPLE (Programa de Português como língua estrangeira), do Programa de Proficiência em Língua Estrangeira para Estudantes e Servidores da UFBA (PROFICI), mantido pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação, Assessoria para Assuntos Internacionais e Instituto de Letras, visando à internacionalização da Universidade.
“Num momento em que se destaca a internacionalização das universidades brasileiras, trabalhar com PLE é importante, tanto em cursos e pesquisas desenvolvidos em nosso território, quanto à ida de estudantes e egressos a instituições do exterior”, garante a professora Iracema Luiza de Souza, responsável pelo processo de implantação da graduação na área, pela UFBA. Ela enfatiza que estudar PLE “possibilita que graduandos e graduados na modalidade sejam contratados por cursos de idiomas, ingressem em programa de pós-graduação com projetos que tomam por objeto temas e problemas no campo de PLE e participem de seleções para atuar em universidades e centros de estudos de línguas no exterior”. A docente acrescenta que “outro ponto extremamente relevante e que não pode ser esquecido é que existem apenas dois cursos de licenciaturas em PLE no Brasil: o nosso aqui na UFBA e o da Universidade de Brasília (UnB)”.
Para ela, “o interesse pela Licenciatura em PLE cresce cada vez mais e tal crescimento deve-se à articulação de ensino, pesquisa e extensão que sustenta a Licenciatura, a articulação entre teoria e prática”. Já no primeiro semestre do curso, Souza cita que “os estudantes têm contato com as salas de aula, acompanham a aplicação do CELPE-Bras (Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros); passam por capacitação à distância e presencial para atuarem como aplicadores do Exame; têm a possibilidade de, mediante Seleção, atuarem como professores de Português em formação, em cursos de extensão oferecidos pelo Núcleo Permanente de Extensão em Letras (NUPEL), sob minha orientação e fazendo jus a uma bolsa de estudos”.
Implantação da graduação em PLE
Desde a década de 80, a professora Iracema conta que chegavam ao Instituto de Letras, solicitações eventuais de curso de Português para falantes de outras línguas, formuladas por universidades estrangeiras do Canadá e da Alemanha. Paralelamente a isso, muitas pessoas interessadas em estudar Português eram encaminhadas para a unidade, pela Assessoria para Assuntos Internacionais. Dependendo do período, ela assumia as aulas de Português ou contratava um professor para atender as solicitações institucionais. Na mesma década, a docente já tinha começado a preparar estudantes da graduação para atuar como docentes de “Português para Estrangeiros” e recebeu a incumbência de elaborar um projeto que garantisse a oferta regular desses cursos. Foi criada uma comissão para elaborar o projeto do CEPE – Centro de Estudos de Português para Estrangeiros, que foi implantado em 1991, após a instalação do Instituto de Letras em prédio próprio que, na época, estava em construção, lembrou.
A partir de 1997, foi retomada a oferta de curso para estrangeiros que buscavam a UFBA para estudar Português, principalmente a executivos e funcionários espanhóis, atuando em Salvador. Paralelamente, estudantes de graduação demonstravam, cada vez mais, interesse em atuar como professores nos cursos de Português e em 1999, a UFBA foi credenciada como Posto Aplicador do Exame CELPE-Bras – único exame oficial de proficiência em Português, criado em 1998 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e sob a coordenação de Souza.
No ano de 2001, foi implantado o Programa de Pesquisa, Ensino e Extensão de Português, aprovado pelo antigo Conselho Departamental e pela Congregação do Instituto de Letras. Um ano depois, foi formada uma comissão para realizar a reformulação curricular do Instituto, momento oportuno para a criação de uma habilitação nova, a de Português como Língua Estrangeira, comemorou a professora. “Minha proposta contou com o apoio de meus colegas na Comissão e, desse modo, o Curso foi criado com foco na docência, na pesquisa e na extensão, tendo seu efetivo funcionamento tido início em 2006”, contou.
O curso de PLE para estrangeiros
O estudo da língua portuguesa como idioma, ministrado no PROFICI “é uma ferramenta que permite capacitar estudantes de vários países, para avançar em estudos e pesquisas, realizadas em parceria com a UFBA”, informa o coordenador do PROEMPLE, Ricardo José Gualda. Sem duração fixa e funcionando durante o ano inteiro – normalmente o tempo em que os estudantes ficam em intercâmbio no Brasil – o curso é multinível, sem prova de nivelamento e possui uma metodologia que se adequa ao perfil de cada turma, cuja composição pode variar desde “jovens recém-ingressos em universidades até pesquisadores sêniores, vindos de diversos países”, contou o professor.
“O curso não tem livros, não tem provas e nem apostilas”, disse Gualda, explicando que “são desenvolvidas técnicas de aprendizado da língua, mediante atividades de interação, nas quais os alunos, são imersos na cultura e espaços locais, requerendo o uso do português e proporcionando a imersão na língua”. Os alunos, oriundos de diferentes países da América Latina, Europa, África Subsaariana e da Ásia, principalmente do Timor Leste e Japão, aprovam o método, como enfatiza o costarriquenho, Guillermo Navarro.
Ele e sua esposa Angie fizeram o curso do PROEMPLE – aberto gratuitamente aos familiares dos estrangeiros que estejam vinculados com a UFBA – e conseguem “compreender a língua em nível avançado”. Ambos obtiveram a confirmação da competência linguística, mediante a qualificação obtida pelo CELPE-BRAS (exame que possibilita a Certificação de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros no Brasil).
Falante de espanhol, Navarro produziu e defendeu em Português, sua tese doutoral África deve-se unir? A formação da teorética da Unidade e a Imaginação da África nos marcos epistêmicos Pan-negristas e Pan-africanos (Séculos XVIII-XX), no começo deste ano, pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Étnicos e Africanos (Pós-Afro /UFBA), aprovado com louvor. Ele afirma que o curso oferecido pelo PROFICI ao casal, “deu-lhe as ferramentas da língua, sua capacidade instrumental, ajudou e complementou a aprendizagem, desenvolvida ao longo do curso de pós-graduação”.
Em sua visão, o curso “foi uma grande experiência, principalmente, pelo contato com outros estudantes estrangeiros, de diversas partes da América Latina, Caribe e África, o que proporcionou conhecer sobre outras culturas, pois havia outros estudantes que falavam línguas como francês, inglês, italiano e etc, fortalecendo a necessidade da comunicação em Português, o que acelerava o processo de aprendizagem”. Como estudante, Navarro classifica a dinâmica pedagógica e os tópicos tratados – que ensinam o português desde uma perspectiva cotidiana e na diversidade dos sotaques e usos do português no Brasil – como pontos fortes do curso.
Quando Guillermo chegou a Salvador, ele “não tinha nenhuma fluência, só um conhecimento muito básico, baseado na cultura musical brasileira”. Como pesquisador, ele veio com o objetivo de “estudar uma pós-graduação e aprender de uma das culturas históricas e sociais, mais importantes do Atlântico”, Então, ele escolheu a UFBA “devido às potencialidades que a Universidade tem, no marco internacional e às características que marcam profundamente a capital baiana, em relação aos estudos Africanos e Afro-Latino-americanos”, contou.