Ceao homenageia Agostinho da Silva, seu fundador e primeiro diretor

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Uma homenagem ao professor e filósofo português Agostinho da Silva, idealizador e primeiro diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA (Ceao), foi promovida através do “Projeto Diálogos Portugal – Brasil: Pontos do Conhecimento”, no último dia 15 de junho.

Um debate sobre as contribuições de Agostinho da Silva na criação de pontes entre Brasil, África e Portugal, reuniu os professores Arnaldo Saraiva e Rita Aparecida Santos. Na sede do centro de estudos, foi aberta ao público a exposição “Agostinho da Silva – Pensamento e Ação”, que apresenta 24 cartazes com citações e imagens que retratam a sua trajetória e visão de mundo.

Para Arnaldo Saraiva, o homenageado foi um homem que sonhou com a harmonia entre os povos e contagiou muita gente com o seu conhecimento, por isso é digno de ser celebrado. Na Bahia inovou com a criação do Ceao, fundado em 1959, que surge com o objetivo de estreitar as relações entre os países de língua portuguesa, investir nos estudos africanos e na construção da identidade brasileira. “Ele projetava ações grandiosas de transformações culturais e políticas. Sonhava fazer com que as sociedades vivessem melhor”, afirma ele, que ressalta a importância da sua produção bibliográfica.

O professor Saraiva lembra que Agostinho chegou ao Brasil exilado, perseguido pela ditadura de Antônio Salazar em seu país, e aqui continuou exercendo a atividade docente. “Atuou sempre visando a dignidade da pessoa humana e o restabelecimento da democracia e da liberdade”, destaca. Agostinho viveu no Brasil entre 1944 e 1969, período em que ajudou a criar também as universidades federais de Santa Catarina e da Paraíba.

O Centro passou a investir nos estudos africanos e na construção da identidade brasileira

O Centro passou a investir nos estudos africanos e na construção da identidade brasileira

O coordenador do Ceao Jaílson de Souza aponta as contribuições da instituição na busca da identidade do povo brasileiro, em especial do baiano, e todo conhecimento produzido pelo professor sobre as relações que o Brasil teve e tem com a África e o Oriente. “Ele acreditou que o Brasil se libertaria e se fortaleceria na sua história a partir do aprofundamento das relações com a sua identidade étnico-racial, sobretudo com a África”.

“Agostinho foi o arquiteto do papel institucional do Ceao e deu a direção daquilo em que deveríamos nos aprofundar”, afirmou Jaílson. Em relação ao evento de homenagem, o coordenador avalia que ações dessa natureza são importantes para trazer ao Centro o dinamismo acadêmico, cultural e político que marcam a sua história e é o que se deseja para o seu futuro.

A programação do evento teve início com a exibição do documentário “Agostinho da Silva: um pensamento vivo”, de autoria do cineasta João Rodrigo Mattos, neto do homenageado. O filme destaca a relevância do pensamento de Agostinho e, conforme observa o cineasta, tem despertado uma renovação do interesse de jovens pesquisadores de todo o mundo sobre a sua obra.

A programação apresentou o filme “Agostinho da Silva: um pensamento vivo”, de João Rodrigo Mattos, neto do homenageado

A programação exibiu o filme “Agostinho da Silva: um pensamento vivo”, de João Rodrigo Mattos, neto do homenageado

João Rodrigo conta que, quando criança, conhecia o avô mais através dos livros e telefonemas, pois nessa época ele já vivia novamente em Portugal. Pesquisas realizadas por três anos em terras portuguesas, junto com seu pai, o antropólogo Pedro Agostinho, contribuíram para resgatar passagens da vida e obra de Agostinho da Silva.

O antropólogo da UFBA Cláudio Pereira relembra que Agostinho teve um papel de referência para a cultura baiana nos anos 1960 e deixou uma contribuição duradoura com a criação da instituição que pautou algumas das mais importantes políticas públicas no Brasil e todo o debate sobre a questão étnico-racial, resgatando aspectos até então deixados de lado e contribuindo para a edificação da cultura negra baiana.

Ele recorda a iniciativa de Agostinho para implantação da instituição em parceria com Edgard Santos, reitor da UFBA entre 1946 e 1961. O Ceao foi fundado em 27 de setembro de 1959 e Agostinho esteve à frente da sua gestão por um curto período de cerca de dois anos, tempo suficiente para deixar um importante legado.

“O que Agostinho pensava se efetivou em muitas instituições, em muitos órgãos e, sobretudo, em muitos discípulos que tiveram suas vidas transformadas por ele”, comentou o antropólogo, que aponta ainda as suas contribuições para a criação de outras instituições como universidades e o Centro de Estudos Portugueses em Brasília.

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